Quarta maior torcida do Brasil, com cerca de oito milhões de torcedores, o Vasco não tem conseguido aproveitar este grande potencial e está próximo de ser rebaixado novamente para a Segunda Divisão do Brasileiro. Em 2012, o clube cruz-maltino teve apenas a décima receita entre os times do país, um lucro de R$ 139 mihões, menos do que a metade do Corinthians, equipe com maior faturamento no ano.
O Vasco arrecadou nas principais áreas pouco mais da metade do que o Palmeiras, que possui praticamente o mesmo número de torcedores. Seja em patrocínios e publicidade (R$ 26,9 milhões, contra R$ 44,2 milhões), em bilheteria (10,0, contra 18,4) ou no clube social e esportes amadores (14,0 a 22,9), o cruz-maltino carioca está bem atrás do alviverde paulista. A receita vascaína também é mais baixa do que equipes com torcidas menores, como Internacional, Grêmio, Santos e Fluminense.
Na lista de sócios-torcedores, o Vasco está ainda mais embaixo. Aparece na 14ª posição, com cerca de 14 mil associados, o que representa apenas 13% dos 110 mil do líder Internacional, que tem a metade da torcida vascaína. O rival Fluminense e os pernambucanos Sport e Santa Cruz, estes dois últimos que não disputaram a Série A em 2013, superam a marca vascaína.
Ameaçado de rebaixamento a uma rodada do fim do Campeonato Brasileiro, o atual momentro do Vasco não reflete a grandeza deste clube de 115 anos de história. No meio de tantas turbulência, o desafio dos dirigentes é transformar o potencial desta enorme toricda em receitas para reverter o preocupante quadro.
Conselheiro em São Januário e um dos articuladores da campanha do presidente Roberto Dinamite, o ex-jogador de vôlei Fernandão Ávila faz críticas pesadas à atual administração do clube, mas diz que os erros vêm desde o passado, com Antonio Soares Calçada e Eurico Miranda.
"O Vasco tem um potencial muito grande, são mihões de torcedores espalhados em todo o Brasil, mas o Vasco há décadas trabalha muito mal essa massa. O Vasco tem dois grandes problemas: gestão e falta de projetos, e uma coisa está ligada à outra. O Vasco não tem projetos para buscar dinheiro através de lei de ICMS, lei de Imposto de Renda, lei Roaunet. E o Vasco não tem a capacidade de desenvolver projetos, a gestão é muito fraca, e isso não é de agora, já vem há muito tempo. Está tudo se empurrando com a barriga, e nós estamos realmente em uma decadência total", disparou Fernandão, em entrevista ao ESPN.com.br.
As dívidas fiscais e trabalhistas impedem novos investimentos. Só com a Receita Federal, o débito chegou a R$ 135 milhões. A delicada financeira fez o clube não ter dinheiro para pagar contas de água, hospedagem do elenco e salários de jogadores e funcionários, em alguns momentos deste Brasileirão. Um dirigente do Vasco chegou a desembolsar R$ 25 mil de seu cartão de crédito pessoal para pagar a conta de um hotel para a equipe ficar concentrada.
"O clube vai andando porque existem quatro ou cinco pessoas ricas, que colocam dinheiro do próprio bolso para tapar buraco, pagar Cedae, pagar isso, aquilo.Temos até que agradecer a essas pessoas, porque se eles não tivessem colocando grana, estaria sem água, sem luz, sem gasolina no ônibus, às vezes pagam um jogador ou outro. Mas o clube não pode ser administrado dessa maneira, está errado isso", contou Fernandão.
A diretoria do Vasco admite a situação ruim, mas garante que o cenário já é melhor nos últimos meses. Com a obtenção das certidões negativas de débito em outubro, o clube teve receitas liberadas e planeja um futuro mais tranquilo, como explicou o diretor financeiro Jorge Almeida ao ESPN.com.br. Os contratos de patrocínio com a Caixa e com a Nissan deram fôlego às finanças.
"A obtenção das CNDs é uma realidade muito recente, já equacionamos algumas dívidas grandes, mas temos muitas outras ainda. Mas acredito que agora nós estamos conseguindo colocar as finanças do clube em um caminho seguro e vamos planejar ações de marketing para buscar essa torcida. Na situação que o Vasco se encontra, é preciso muita criatividade financeira e de marketing para fazer os investimentos necessários", disse o dirigente vascaíno.
As categorias de base poderiam ser uma das grandes fontes de renda do clube, mas os problemas financeiros fizeram o Vasco perder recentemente jovens talentos, como Mosquito e Foguete, por exemplo.
"Pela situação financeira, o clube por vezes atrasava salários, FGTS, obrigações trabalhistas, e esses joghadores se desligavam judicialmente do clube, e o Vasco ficava sem receber nada pela formação desse jogador. Essa é uma situação diferente hoje, os salários estão em dia, a gente não pensa mais em atrasos significativos", admitiu Jorge Almeida.
E o sinal de alerta está ligado. Para Fernandão, nomes do passado como Eurico Miranda e Roberto Monteiro, prováveis candidatos para suceder Dinamite, não animam para as eleições de 2014.
"Eu só vejo melhora se houver mudança, e mudança seria entrar uma pessoa que tem o perfil de gestor. Eu só acredito nisso. Estamos buscando uma terceira via, que tem que ser a solução. O estágio atual que estamos passando é péssimo, em todos os sentidos, financeiro, falta de credibilidade, falta de título ", finalizou o conselheiro vascaíno.