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Filho de Edmundo critica a prisão do pai

O quarto é todo pintado de preto. Nas paredes, nenhum quadro, nenhuma cor, nada além de preto. O ambiente um tanto soturno poderia indicar que o morador é, talvez, uma pessoa triste, depressiva. Mas é só impressão. No pequeno e bagunçado cômodo de um apartamento no bairro da Vila Valqueire, zona oeste do Rio de Janeiro, vive um garoto que até teria motivos para ser amargurado, mas no entanto é uma figura irrequieta de humor sarcástico: o adolescente de 16 anos, Alexandre Mortágua, filho do ex-craque de futebol Edmundo.



Foto: Gianne Carvalho

O rapaz posa ao lado de sua primeira criação

Em fevereiro passado, Alexandre, que não esconde sua homossexualidade, saiu do anonimato ao denunciar sua mãe, a modelo Cristina Mortágua, à polícia por agressão física e psicológica. Desde então, o relacionamento entre os dois nunca mais foi o mesmo. “Nos vemos pouco e está bom assim”, comenta. O convívio com o pai também não é dos mais fáceis. Edmundo somente o reconheceu como filho depois de um teste de DNA. A relação dos dois nunca foi íntima, mas isso está mudando. Alexandre revelou ao iG que o pai, a pedido do Conselho Tutelar, topou participar de sessões de terapia familiar. “Ele já não é o animal dos tempos do Vasco”, brinca Alexandre.

A avó materna, Neide Mortágua, está com a guarda provisória do rapaz que tem planos de virar estilista. “Já tenho 16 looks femininos e 4 masculinos, todos inspirados nos personagens Ziggy Stardust e Thin White Duke, “personas” do cantor David Bowie. Quero lançar minha primeira coleção ainda em novembro e do jeito que eu mereço”, celebra, ao lado de uma máquina de costura profissional que fica em seu quarto.

Sobre a reviravolta em sua vida, ele diz: “Tive que encarnar o adulto muito cedo e em muitas ocasiões. Então, agora, me permito relaxar um pouco mais e até ser mais infantil”.

iG: Por que seu quarto é inteiramente pintado de preto?

Alexandre Mortágua
: Minha mãe me fez viver num lugar onde tudo era branco. Aquilo me dava uma agonia. Fiquei um pouco com trauma de branco. E, na primeira oportunidade que tive, pintei tudo de preto. Minha avó não é muito fã dessa cor não. Mas, para mim, não tem outro lugar no mundo que grite mais meu nome quanto meu quarto.



Foto: Gianne Carvalho

Alexandre vive com a avó materna desde fevereiro

iG: Você não tem espelho no seu quarto...

Alexandre Mortágua:
Não gosto de espelhos. Não gosto de me olhar. Acho que eu veria uma pessoa tão complicada... Não sei se essa é a palavra certa. As coisas pelas quais eu passei, já me fizeram pensar em mudar tanto que eu não saberia dizer quem eu estaria vendo realmente num espelho.

iG: Algumas vezes, você deixa transparecer muita revolta e, em outras, muita doçura em seus posts no twitter. Você vive nesses altos e baixos de sentimentos?

Alexandre Mortágua:
Eu não vivo em altos e baixos. Mas sou transparente e não sei fingir. Eu demonstro mesmo meus sentimentos. Me orgulho de ser assim. Mas é muito entediante você tentar ser forte o tempo inteiro. Ninguém é forte o tempo todo.

iG: Você sente vergonha da sua história?

Alexandre Mortágua
: Nada. Eu admito que gostaria de ter sido criado pelo meu pai e não pela minha mãe. Ainda dói o que aconteceu. Mas também não me faço de vítima.

iG: Já tem seis meses que você e sua mãe foram parar na delegacia.

Alexandre Mortágua:
Olha, não fico remoendo o que aconteceu.

iG: Mas como está a relação de vocês?

Alexandre Mortágua:
Ela está lá e eu aqui. A gente se vê bem pouco, uma vez a cada duas semanas. Não seria bom pra gente nesse momento aumentar essa frequência das visitas. Ela não vem aqui. Sou eu que vou até a casa dela.

iG: Como foi para sua avó ficar com sua guarda?

Alexandre Mortágua:
Os primeiros meses foram muito difíceis para ela e para mim. Mas tudo o que ela queria era ficar mais próxima de mim. Nosso relacionamento nunca foi profundo o suficiente para eu julgar que era bom ou ruim. Mas agora está ficando gostosinho.

Foto: Gianne Carvalho
Alexandre: \"ninguém é forte o tempo todo


iG: Você quando pensa sobre que já aconteceu em tão pouco tempo na sua vida, qual o sentimento que é mais latente?

Alexandre Mortágua:
Claro que não sinto orgulho. Mas passar o que eu passei e não me transformar num revoltado ou drogado, é uma vitória. Tem que ter uma cabeça boa. E isso tenho certeza que tenho.

iG: Com que frequência, você vê seu pai?

Alexandre Mortágua:
Agora, toda semana por causa da terapia.

iG: Você não parece muito animado com essa novidade...

Alexandre Mortágua:
Não criei expectativas e nem estou fantasiando com isso. Apesar de ter sido forçado (foi um pedido do conselho tutelar), acho que vai ser bom pra nós dois.

iG: E como funciona essa terapia?

Alexandre Mortágua:
Por enquanto, foram dois encontros.

iG: E como foram esses encontros?

Alexandre Mortágua:
Não mostrou nenhum resultado ainda, mas é uma questão de tempo. Quando a terapia acaba, vai cada um para o seu lado.

iG: Há poucos dias seu pai teve a prisão decretada por causa do acidente de 1995, no Rio, onde três pessoas morreram e em seguida conseguiu um habeas corpus. Você acompanha o caso?

Alexandre Mortágua:
Fiquei revoltado com a prisão. Gente, essa história tem muitos tempo. Ele estava em início de carreira. Tinha acabado de sair da pobreza máxima e passado para a riqueza máxima. Ele era um ídolo do futebol pelo Vasco. Praticamente, era uma criança. Pode ter sido irresponsabilidade dele, sim, mas quantas pessoas não passam por esse tipo de situação? Ele também arriscou a própria vida. Nesses últimos 15 anos, conseguiu reverter a imagem de animal. Se você for ver, hoje, ele não é mais aquela pessoa explosiva que mandava o dedo do meio para o juiz. E isso tem que ter crédito.

iG: Você já conversou com seu pai sobre sua homossexualidade?

Alexandre Mortágua
: Não. Acho que eu já passei de ter minhas dúvidas e precisar perguntar alguma coisa. E ele já se tocou disso. Minha opção sexual não está na lista das coisas que me definem. Acho que meu pai não me perguntaria nada sobre isso e, para falar a verdade, a opinião dele não me importaria muito.

iG: Você vai ter coragem de sair com a saia que você está costurando para você mesmo?

Alexandre Mortágua:
Não sei! Mas eu quero! Confesso que ainda me falta coragem para sair com ela na rua.

iG: Para que mais você precisa ter coragem?

Alexandre Mortágua:
Depois que eu sair com uma saia na rua, vai me faltar coragem para muito pouco nessa vida (risos). Mas eu não sou envergonhado, não sou tímido.

iG: Você acha que é uma pessoa polêmica?

Alexandre Mortágua:
Acho que não. Não sou relevante a esse ponto.

iG: Você está namorando ou está apaixonado?

Alexandre Mortágua:
Estar apaixonado só ferra com a vida de uma pessoa. Seria melhor eu estar apaixonado sim, mas meu foco atualmente é o lançamento da minha coleção.

iG: Mas você está enrolado com alguém?

Alexandre Mortágua:
Não é enrolado. Mas eu ainda não sei o que esperar dele. Ainda não sei dizer se merece ser chamado de relacionamento. Minha vida amorosa está uma beleza! (irônico)

iG: Você costuma rir da sua vida?

Alexandre Mortágua:
Tive que encarnar o adulto muito cedo e em muitas ocasiões. Então, agora, me permito relaxar um pouco mais e até ser mais infantil. Acho que estou quase lá para encontrar um equilíbrio na minha vida.



Foto: Gianne Carvalho

Alexandre: \"gostaria de ter sido criado pelo meu pai e não pela minha mãe\"



iG: E que equilíbrio seria esse?

Alexandre Mortágua:
Eu conseguir levar as coisas na seriedade, mas com humor. Quem me conhece sabe que está estampado na minha cara que, se eu puder, vou rir o tempo inteiro. Mas está difícil.

iG: Você está numa fase de descobertas?

Alexandre Mortágua:
Não. Tudo o que eu tinha para descobrir a meu respeito, já está revelado. A fase agora é de arrumação e colocar tudo nos lugares.

iG: Você está preparado para as críticas quando lançar sua coleção?

Alexandre Mortágua:
Não entendo as críticas como uma coisa ruim. Ser notado a ponto de ser criticado já seria um bom início para mim.

iG: Falem mal, mas falem de mim?

Alexandre Mortágua:
Já tive a oportunidade de mostrar meus croquis para alguns formadores de opinião e, por incrível que pareça, não ouvi tanta coisa ruim assim. Escutei de alguns que as roupas estavam parecendo de travesti. Mas desci do salto 35 e amadureci. Acho que para um menino de 16 anos, o trabalho vai surpreender muita gente.

iG: Como você se vê daqui a 10 anos?

Alexandre Mortágua:
Não tenho a mínima ideia. Não projeto nada para um futuro tão distante assim. Meu foco é dedicação total à faculdade.

iG: O que você quer estudar?

Alexandre Mortágua:
Quero fazer faculdade de moda em São Paulo no Instituto Europeo di Design (IED).






Foto: Gianne Carvalho

Alexandre mostra sua coleção de revistas de moda e se diz fã de Kate Moss


iG: Como surgiu seu interesse por moda?

Alexandre Mortágua:
Minha mãe sempre foi cercada por maquiadores, produtores... Acabei me interessando e comecei a ler e a pesquisar para não falar besteira. Até que descobri que gostava de fazer as roupas. Fui autodidata para desenhar croquis, mas fiz curso de modelagem e costura.

iG: Tem apoio de sua avó?

Alexandre Mortágua:
Ela também modela e costura, mas não aprendi nada com ela. Dona Neide não tem paciência para me ensinar. É muito durona e não se impressiona facilmente. Mas ela não é do tipo sem amor. Até que é amorosa, sim. Mas vou admitir que tenho que ter paciência com ela...

Fonte: iG Esportes
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