Retratar a trajetória do dirigente mais polêmico da história do futebol brasileiro não é tarefa das mais fáceis. Mas o cineasta Milton Alencar Júnior diretor do filme Garrincha, a estrela solitária encarou este desafio de peito aberto ao dirigir o vídeo \"A locomotiva\", baseado no livro A lenda e a fúria, de José Louzeiro.
Em 54 minutos de exibição, o expectador tem a oportunidade de conhecer novas facetas de Eurico Miranda que vão além das tradicionais baforadas do seu charuto havana. Ao mesmo tempo em que seu simbólico alter-ego pode ser visto em cena, quando aparece de óculos escuros e com jeito intimidante, lembrando um mafioso no gramado do Maracanã. Em outro momento, Eurico aparece brincando com os netos. Ou confessando que reverencia todos os anos, no Dia de Finados, a memória dos pais.
Em raro depoimento, sua mulher, Sílvia Miranda, endossa o argumento de que existe outro Eurico Miranda em casa: mais calmo, mais sereno, mas ainda assim perdidamente apaixonado pelo Vasco.
O melhor de A locomotiva é ouvir os depoimentos irreverentes e debochados de Eurico, que podem seduzir ou causar ódio na mesma proporção em que se dá boas gargalhadas. No mais, o roteiro peca ao não abordar fatos marcantes: a conquista da Mercosul, em 2000, a Libertadores, em 1998; a participação de Eurico na queda do alambrado na decisão do Brasileiro, em 2001, que feriu dezenas de torcedores; assim como o seu trabalho de bastidores no projeto do milésimo gol de Romário.
Os depoimentos de alguns dos seus maiores opositores roubam a cena. O presidente do Flamengo, Márcio Braga, declara com orgulho que é a antítese de Eurico Miranda. O jornalista Sérgio Cabral defende a tese de que Eurico é um agente rubro-negro infiltrado na Colina.
Em sua defesa surgem o presidente da Ferj, Rubens Lopes, elogiando a sua lealdade aos amigos e o baixinho Romário confessando que também é um pouco Eurico Miranda, em seu dia a dia. Imagens da campanha de Roberto Dinamite são exibidas no vídeo produzido antes de Eurico deixar o poder. A locomotiva termina em tom de defesa no letreiro final: A verdade prevalecerá!