Flamengo, Botafogo e América do Rio vão entregar nesta quarta-feira ao Ministro dos Esportes, Orlando Silva, uma lista de irregularidades atribuídas à Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj), entre as quais a do não recolhimento das contribuições previdenciárias dos clubes referentes aos jogos do Estadual do Rio. Vou pedir pessoalmente ao ministro Orlando Silva que encaminhe o documento à Procuradoria da Fazenda e ao Ministério da Previdência Social. Os dirigentes da Federação do Rio estão cometendo crime de apropriação indébita, disse o presidente do Flamengo, Marcio Braga.
Um dos mais exaltados na entrevista coletiva concedida na sede do América, o presidente do Botafogo, Bebeto de Freitas, mostrou documentos que indicam desvio de recursos do clube na Ferj. Ele contou que o Botafogo tinha uma dívida de R$ 144 mil com a Portuguesa, por conta do aluguel do estádio do clube da Ilha do Governador para jogos do time no Campeonato Brasileiro de 2005. E que autorizou a Ferj a pagar a quantia à Portuguesa com o crédito que o Botafogo dispunha na federação, que era em torno de R$ 180 mil\".
Foram debitados da conta do Botafogo os R$ 144 mil, mas a Portuguesa só recebeu R$ 3 mil desse total, afirmou Bebeto, apresentando até uma carta que lhe foi enviada pelo presidente da Portuguesa, Antonio Augusto de Abreu, que questiona sobre o desaparecimento dos R$ 141 mil restantes do acordo. Eu não estou lançando nenhum movimento. Quero apenas respeito ao Botafogo. Eu tenho no clube uma pilha dessas aberrações que vêm se acumulando nos últimos anos, que partem da federação; isso que estão fazendo Botafogo, América e Flamengo é um grito de socorro, chegamos ao limite, disse Bebeto.
O presidente do América, Reginaldo Mathias, revelou que a Ferj não repassa na íntegra aos três clubes a cota de TV relativa à comercialização do Estadual e nem sequer dá informações. Marcio Braga ilustrou a declaração do dirigente americano. O Flamengo deixou de receber este ano em torno de R$ 800 mil da Federação; não temos repasses das cotas de TV e das placas de publicidade e nada acontece; fazem o que bem entendem.
Mathias e Braga se disseram muito preocupados também com a troca da comissão de arbitragem da Ferj, assim que Rubens Lopes reassumiu o comando da federação, no final da semana passada. Foi uma medida muito estranha e vamos ver o que vai acontecer, declarou Mathias. Vejo isso como uma ameaça, concluiu o presidente do Flamengo.
De acordo com Reginaldo Mathias, a Federação dispensa tratamento especial a alguns clubes, como Vasco e Madureira, e agride América, Botafogo e Flamengo. Para que se tenha noção do que a Ferj faz com a gente, basta dizer que o America foi o único clube que não recebeu as bolas que teria direito para realizar a pré-temporada. Parece um fato simples, mas é apenas um dado sintomático de como somos tratados pela federação de nosso Estado.
Os três clubes vão entregar também uma cópia do documento à direção da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a fim de que a entidade possa tentar encontrar uma solução para o impasse.
Liga
Flamengo, Botafogo e América não descartam a possibilidade de criar uma liga de futebol em 2008 e organizar assim um campeonato carioca paralelo. Por enquanto, acham a hipótese remota e querem, antes de qualquer iniciativa formal, contar com a colaboração do Ministério dos Esportes e da CBF para resolver a crise na relação com a Federação de Futebol do Rio.
Eis a relação das denúncias listadas no documento:
\"1) Obstrução de acesso às informações financeiras dos valores devidos pela federação aos clubes que subscrevem, referentes às receitas da competição, como por exemplo, os valores pagos pela TV, publicidade estática e demais receitas;
2) Obstrução de acesso às informações referentes aos devidos repasses, para os órgãos pertinentes, dos valores retidos nas receitas dos clubes;
3) Descontos arbitrários e indevidos sobre as rendas dos clubes que subscrevem;
4) Emprego de violência, física e moral, contra funcionários da própria Ferj e representantes dos clubes que subscrevem, conforme amplamente noticiado na imprensa;
5) Substituição arbitrária, abrupta e repentina de membros da comissão de arbitragem;
6) Ameaças veladas e expressas, inclusive pela imprensa, contra clubes filiados;
7) Adoção de métodos absolutistas e ditatoriais em decisões que tradicionalmente sempre foram tomadas em conjunto, dificultando, ainda, a participação nas assembléias e reuniões, como ocorreu na assembléia realizada entre o Natal e o réveillon, período em que o futebol brasileiro se encontrava em recesso;
8) Desrespeito aos regulamentos e legislação vigente para beneficiar certos clubes, permitindo que disputem campeonatos para os quais não foram devidamente convidados;
9) Falta de zelo com o patrimônio da entidade, como reflete o leilão judicial de dois andares no centro da cidade.