Nos últimos anos, a incompatibilidade entre os calendários estrangeiros e o brasileiro afastou Flamengo, Fluminense Vasco e Botafogo de tradicionais torneios de verão na Europa - como o Troféu Teresa Herrera e o Ramón de Carranza - que os cariocas disputavam com seus times principais nesta época da temporada. Mas essa \"lacuna\" deixada pelos profissionais foi preenchida pelas jovens revelações, que estão em evidência no exterior.
Neste ano, Flamengo, Fluminense e Vasco disputaram torneios fora do país com times de base. Independentemente dos resultados, a participação das equipes - que viajaram com despesas pagas pelos organizadores - serviu para sustentar a internacionalização das marcas dos clubes e expor novos talentos do futebol brasileiro, cobiçados cada vez mais jovens pelos estrangeiros.
O Fluminense, por exemplo, ao conquistar a Milk Cup - torneio sub-17 disputado neste ano na Irlanda do Norte - na final contra o Manchester United-ING, apresentou o atacante Dori, de 17 anos. Autor de sete gols em cinco partidas, ele recebeu os prêmios de artilheiro e melhor jogador da competição. Assim, foi elogiado pelos técnicos de Bayern de Munique-ALE e Benfica-POR.
No entanto, segundo o gerente de futebol das categorias de base do clube, Bruno Costa, o Fluminense não tem a intenção de lucrar com a transferência de qualquer jogador antes da sua profissionalização.
\"Essas excursões são importantes para dar visibilidade à nossa marca lá fora. E também para dar experiência aos jogadores antes de chegarem ao profissional. Nosso objetivo não é vender jogadores, e sim revelar talentos para o time principal. Na conquista da Copa do Brasil deste ano, por exemplo, 50% da equipe era composta por atletas revelados aqui\", comentou.
No entanto, nem sempre as excursões servem apenas para dar experiência aos atletas. Em 2005, o Fluminense apresentou os laterais irmãos gêmeos Rafael e Fábio, que acertaram com o Manchester United-ING após se destacarem na vitória sobre o Paris Saint-Germain-FRA, na decisão de um torneio organizado pelo próprio clube inglês, em Hong Kong. Os atletas, que na época só tinham 15 anos, vão para o novo time no ano que vem, quando fizerem 18.
\"O assédio é normal, pois são atletas de qualidade e há pessoas de todo mundo observando. Mas o acesso de empresários aos jogadores é nulo aqui no Fluminense. Quem estiver interessado, deve entrar em contato diretamente com o clube\", afirmou Bruno Costa.
Já o Flamengo, terceiro colocado na Champions Youth Cup - torneio sub-19 disputado em 2007 na Malásia, com presença dos 14 maiores clubes europeus -, apresentou o atacante Kayke, de 19 anos. Vice-artilheiro da competição, com cinco gols, ele ganhou destaque em jornais da Europa e despertou curiosidade no Milan-ITA. Tanto que um dirigente do clube italiano - que enfrentou o brasileiro na primeira fase - pediu informações a respeito do garoto.
\"Não houve assédio nenhum. Houve apenas uma conversa, por estarmos no mesmo hotel. Buscamos estreitar o intercâmbio, trocar idéias e informações sobre jogadores da equipe, mas não teve nada oficial e nenhum assédio de empresário\", contou o coordenador técnico das divisões de base do Flamengo, Rivelino Serpa.
\"A exposição do atleta é inevitável, e o nosso trabalho busca a exposição, mas não comercial e sim cultural. O principal ganho para nós é o intercâmbio tático, técnico e administrativo que o clube consegue tendo contato com grandes potências mundiais. A internacionalização da marca e o aspecto comercial também são importantes. Este torneio teve a participação dos 14 maiores clubes da Europa, Flamengo e Boca Juniors-ARG\", continuou.
Já o Vasco não teve tanto sucesso em sua excursão para o Torneio de L\"Alcúdia, na Espanha, em agosto deste ano. Eliminado na primeira fase, com três derrotas em três jogos - contra Guarani-PAR, Real Madrid-ESP e Levante-ESP -, o time de juniores comandado pelo filho do presidente Eurico Miranda, Álvaro Miranda, não deixou uma imagem tão boa no exterior quanto seus rivais.
De qualquer forma, levou o nome do clube para a competição internacional. No entanto, nenhum cruzmaltino pôde falar sobre o assunto, já que a assessoria de imprensa do Vasco informou que as entrevistas para sites estão proibidas.
Botafogo é a exceção
O Botafogo é o único dos quatro grandes clubes do Rio que não disputa torneios no exterior com times da base atualmente. Aliás, a última competição disputada pelos alvinegros fora do país foi o Troféu Teresa Herrera (na Espanha), com os profissionais, em 1996. Na ocasião, a equipe ficou com o título ao derrotar a Juventus-ITA nos pênaltis.
Por sinal, até o fim da década de 90, era bastante comum a participação dos clubes cariocas com seus times principais em torneios como este, o Ramón de Carranza, o Palma de Mallorca (ambos também na Espanha), entre outros. No entanto, com o advento da fórmula de pontos corridos no Campeonato Brasileiro, em 2003, as excursões para o exterior no meio do ano - quando começam as temporadas em outros países - tornaram-se inviáveis, pois, nesta época, as equipes já estão em plena disputa da Série A, no meio da competição.
No ano passado, por exemplo, o Flamengo foi convidado a disputar o Troféu Ramón de Carranza, em agosto, mas foi obrigado a desistir da viagem porque a CBF não permite o adiamento de jogos do Brasileiro para os clubes realizarem excursões para o exterior. Tal empecilho não existia até a década passada, em função do largo intervalo de tempo que havia entre os Campeonatos Estaduais e o Brasileirão.