Futebol

Futebol Feminino: Em clássico, apoio e xingamentos são menores

Vai levar um tempo até o futebol feminino se livrar das comparações com o masculino, mas o caminho está sendo trilhado. Dani Barbosa, autora do gol do Fluminense sobre o Vasco, ontem, nas Laranjeiras, foi ovacionada pela torcida tricolor depois do jogo. Os elogios vieram meio tortos, é bem verdade, com gritos de que era melhor do que Marlon, lateral-esquerdo do time de Fernando Diniz.

 

O clássico, válido pela segunda rodada do Brasileiro Série A-2, trouxe para o futebol feminino a rivalidade quase centenária entre os clubes, e a expectativa de que o respeito às jogadoras seria maior se confirmou: no futebol machista por excelência, não houve xingamentos contra o gênero de quem estava em campo. Um alento para dona Eunice Buarque, de 72 anos.

Ela é avó da técnica do Fluminense, Thaissan Passos. Ao lado de outra neta, Carolina, vê o esporte evoluir. Tricolor de arquibancada desde que chegou ao Rio, há 55 anos, a alagoana de Maceió só assistiu a dois jogos do time feminino na vida. O outro foi a vitória na estreia da equipe na competição, contra o Cresspom, no último dia 30:

— Os clubes já deviam estar investindo há muito mais tempo. Você vê que a seleção precisa de uma renovação, é apenas a Marta, e o time está perdendo todos os jogos.

MÁ VONTADE

O investimento ainda é menor do que o futebol feminino precisa. Do outro lado das Laranjeiras, a mãe da goleira Yasmin, do Vasco, assistiu ao jogo aflita. Ela lamentou com torcedoras do movimento “Vascaínas contra o Assédio” que a filha falhou no gol do Fluminense no primeiro tempo e, em seguida, listou dificuldades que a menina de 17 anos enfrenta para seguir a carreira debaixo das traves. Ela foi consolada pelas torcedoras que se mobilizam desde junho passado para defender os direitos das mulheres no futebol.

 

-- Achamos que existe má vontade dos clubes, que só criaram os times porque foram obrigados (a CBF impôs aos clubes da Série A) — reclamou a estudante Juliana Pinho, que integra o movimento, insatisfeita com a estreia do Vasco em Nova Iguaçu.

Apesar da forte pressão vascaína no segundo tempo, o time não conseguiu o empate. A vitória tricolor foi dedicada a Júlia Elias, zagueira de 20 anos que viu o jogo da tribuna das Laranjeiras. Ao chegar ao tricolor, seu primeiro clube com estrutura profissional, foi reprovada nos exames médicos. Uma arritmia foi detectada e a jovem passará por cirurgia no coração, ainda sem data marcada. Em meio à decepção, ela tenta manter a esperança.

Até lá, as questões de gênero seguirão confundindo a cabeça do torcedor, que ao xingar a árbitra Beatriz Oliveira Dantas, a chamou de juiz. Mas ver as meninas do Fluminense serem chamadas de “time de guerreiras” foi um bom sinal.

Fonte: Globo Online
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