Torcida

Futebol registrou 24 brigas sem vítimas nos últimos 97 dias

O número de mortos pela violência descabida de torcedores poderia ser maior se a Polícia, o acaso ou até mesmo a sorte não tivesse evitado o pior em 24 confusões registradas no país em apenas três meses e seis dias deste ano. Brigas essas que, apesar de não terem terminado com vítima fatal, mancharam ainda mais o futebol nacional.

De 1 de janeiro até a noite da última quarta, quando houve rodadas de Estadual, Copa do Brasil e Libertadores, o Brasil escapou de fazer com que as 155 vítimas reveladas pelo LANCENET! aumentassem para 156, 157...

Ou seja, essas 24 brigas com envolvimento de torcedores ocorreram em apenas 97 dias, o que dá uma média angustiante de uma confusão sem vítima a cada quatro dias.

Levando-se em consideração que esse período é, praticamente, a diferença que existe da rodada do meio de semana para os jogos que acontecem aos domingos, é possível dizer que em todas as rodadas do futebol brasileiro em 2012, um torcedor poderia ter perdido a vida em briga.

Rivalidade histórica dos clubes, disputa interna na mesma facção ou união interestadual desses torcedores organizados (leia mais abaixo). Não importa o motivo, a verdade é que o número de mortos da atual temporada poderia não ser de “apenas” 11 – os palmeirenses André Lezo e Vinícius Zulu e o vilanovense Diego Rodrigo foram os últimos.

Em 2012, a primeira sem registro de vítima fatal ocorreu logo em 22 de janeiro, quando integrantes da Mancha Azul, do Avaí, entraram em conflito com membros da Torcida Jovem, da Chapecoense. Um torcedor foi atingido por tiro no braço.

Depois da confusão em Santa Catarina, cidades como Maceió, Curitiba, Belo Horizonte e Rio necessitaram da eficácia policial, da sorte ou até mesmo do acaso para não terem mais mortes ligadas ao futebol.

Na noite de quarta, a última. Facções de Paysandu e Sport, em Belém, brigaram no Mangueirão.

AS 24 BRIGAS QUE PODERIAM TER AUMENTADO NÚMERO DE MORTOS

22/1/12 - Chapecó (SC)
Torcidas de Avaí e Chapecoense causaram tumulto no Centro de Chapecó, oeste de Santa Catarina. Integrantes da Mancha Azul, do Avaí, e da Jovem, da Chapecoense, entraram em conflito. Segundo a PM, um torcedor da Chapecoense foi atingido por disparo de arma de fogo. Vinte avaianos foram presos.

31/1/12 - Maceió (AL)
Mais uma disputa sangrenta entre Mancha Azul (CSA) e Comando Alvirrubro (CRB) feriu Fernando Fernandes dos Santos, de 29 anos. O torcedor foi baleado com quatro tiros durante uma emboscada. A família afirmou que ele, que é da Comando, havia se envolvido em briga com a rival. Foi vingança!

1/2/12 - Jundiaí (SP)
Torcedores de Santos e Paulista entraram em conflito antes do jogo pelo Estadual, em Jundiaí. A Polícia Militar precisou intervir, inclusive, com homens da cavalaria. Como quase sempre ocorre em confusões envolvendo torcidas, ninguém foi preso. O vídeo da briga circulou na internet como uma prova de força.

5/2/12 - Porto Alegre (RS)
Duas facções do Internacional se estranharam na chegada ao Olímpico, palco do Gre-Nal 390: a Popular do Inter e a Camisa 12. Mesmo escoltados pela Brigada Militar, torcedores protagonizaram confusão nas ruas. De acordo com a Rádio Guaíba, a briga ocorreu em uma das paradas para a revista.

6/2/12 - Rio de Janeiro (RJ)
Uma briga entre torcedores de Flamengo e Botafogo provocou correria e pânico na Praça Seca, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio. Quatro foram feridos a bala e levados para o hospital. Os feridos levaram tiros de pistola nos braços e nas pernas. Disparam saíram de um carro, com três ocupantes.

8/2/12 - Penedo (AL)
O jogo do Penedense contra o CSA, em Penedo, foi marcado por muita confusão, com direito a pedras jogadas no gramado. De acordo com a PM, a confusão teve início ainda no primeiro tempo, onde as torcidas se agrediram, com paus e pedras. O árbitro interrompeu a partida por cerca de 10 minutos.

8/2/12 - Curitiba (PR)
Antes do jogo Atlético-PR x Toledo, pelo Estadual, no Ecoestádio, duas facções do Furacão entraram em conflito na Avenida Martitorino, em direção à BR-777, que leva ao estádio. Um garoto de apenas 16 anos ficou com rosto desfigurado após apanhar de vários torcedores, que, claro, não foram detidos.

8/2/12 - Belo Horizonte (MG)
A Polícia Militar prendeu 17 pessoas durante briga entre torcedores de Atlético-MG e Cruzeiro. Outras três pessoas ficaram feridas. De acordo com a polícia, membros de facções dos dois clubes se encontraram numa praça, iniciando a briga. Não era dia de jogo e eles estavam preparados com pedaços de pau.

13/2/12 - Rio de Janeiro (RJ)
Na estação de trens do Méier, Zona Norte, vascaínos e tricolores se enfrentaram antes do clássico. Torcedores do clube da Colina correram atrás dos torcedores do Flu na passarela da estação. Tiros foram ouvidos por pessoas que passavam perto da passarela. Quatro vascaínos foram detidos.

22/2/12 - Curitiba (PR)
Várias confusões depois do Atletiba com torcida única: 1) um torcedor atleticano foi baleado em Pinhais; 2) confronto entre atleticanos que deixavam o estádio, e torcedores do Coxa, que esperavam os rivais; 3) Na rua Mauá, outro torcedor agredido; 4) No bairro Água Verde, torcedor esfaqueado por um rival.

25/2/12 - Maceió (AL)
Uma briga entre torcedores do CSA e CRB terminou em tiros e com uma pessoa ferida no bairro do Jaraguá. A confusão ocorreu em via pública. Durante os disparos, que saíram dos dois lados, Priscila Torquato, de 21 anos, foi atingida por uma bala perdida. O projétil atingiu a coxa direita da menina.

4/3/12 - Santos (SP)
Antes do clássico entre Santos e Corinthians, na Vila, cerca de 60 membros de uma facção do Timão da Baixada, armados com barras de ferro, pedaços de madeira e pedra, surpreenderam santistas no Canal 2, poucos metros antes de chegar ao estádio. A PM entrou em ação com bombas de efeito moral.

5/3/12 - Goianésia (GO)
Um ônibus com torcedores da Anapolina foi atingido por tiros na saída de Goianésia, na GO-080. O motorista foi baleado no pescoço e os torcedores invadiram a pista para pedir ajuda. A vítima, atingida na bacia, foi atendida ainda no local e depois levada para o Hospital Municipal de Goianésia.

7/3/12 - Belém (PA)
Antes de Independente (PA) x São Paulo, no Mangueirão, torcedores do Paysandu se desentenderam com tricolores. O problema iniciou quando uma das faixas da facção Independente foi roubada. Os são-paulinos tem bom relacionamento com a principal facção do Remo, maior rival Paysandu no estado.

11/3/12 - Manaus (AM)
Marcas de pedras jogadas no bar do Maguila, em Cachoeirinha, confirmaram o vandalismo após a final do Beach Soccer. Cerca de 100 torcedores do Vasco – time que foi campeão – tiraram uma bandeira do Flamengo e tentaram invadir o estabelecimento. Um torcedor, na confusão, foi agredido com soco.

12/3/12 - Criciúma (SC)
No fim do jogo, uma confusão foi iniciada entre torcidas de Criciúma e Joinville. Os torcedores do Tigre quebraram grades que separavam as duas. A Polícia Militar precisou ser reforçada para acalmar os ânimos. Cerca de 50 torcedores ainda foram para fora do estádio para protestar contra a arbitragem.

18/3/12 - São Paulo (SP)
São-paulinos e santistas entraram em confronto nas proximidades do Morumbi antes do clássico. Vândalos com uniformes das facções Independente, do Tricolor, e Torcida Jovem, do Peixe, se encontraram e atiraram pedras, paus e garrafas uns nos outros. No início, não havia policiamento.

18/3/12 - Santos (SP)
Depois do clássico, um ônibus em Santos foi cercado por um grupo de santistas armados com pedaços de madeira. Os acusados entraram no ônibus e partiram para cima de dois rapazes que estavam sentados vestindo a camisa do São Paulo. Um dos jovens agredidos teve que fazer uma cirurgia na boca.

18/3/12 - Salvador (BA)
Torcedores do Bahia apedrejaram um ônibus que levava torcedores do Vitória em direção ao Barradão. O veículo teve os vidros quebrados por pedra. Não houve feridos, mas a polícia precisou ser deslocada até o local para controlar os torcedores dos dois clubes, que entraram em luta corporal durante algum tempo

24/3/12 - Campinas (SP)
Nem mesmo o numeroso efetivo policial evitou vândalos no dia do “Dérbi do Centenário“, entre Ponte e Guarani. Antes do clássico, um grupo de 30 pontepretanos foi detido na avenida Washington Luiz. Os torcedores tinham paus, pedras e bombas caseiras, quando foram abordados pelos policiais.

25/3/12 - Fortaleza (CE)
Facções organizadas de Fortaleza e Ceará foram responsáveis por brigas e atos de vandalismo fora do estádio. No terminal rodoviário do Antônio Bezerra, os guardas municipais Odracine Silva e Paulo Costa foram baleados quando tentavam impedir que cerca de 200 torcedores invadissem o local.

1/4/12 - Pelotas (RS)
Uma briga entre os torcedores de Pelotas e Grêmio terminou com a prisão de oito pessoas. Após o jogo dois torcedores do Pelotas foram ao campo e, à frente dos gremistas, iniciaram a provocação. Como forma de revide, seis gremistas também invadiram o gramado e um conflito foi iniciado no local.

1/4/12 - Rio de Janeiro (RJ)
Torcedores de Fluminense e do Botafogo foram detidos após uma briga na estação de trem Guilherme da Silveira, em Bangu, na zona oeste. Segundo a Polícia Militar, um homem ficou ferido e foi atendido por uma ambulância. O torcedor que estava armado e fez os disparos não foi encontrado...

4/4/12 - Belém (PA)
A confusão nas arquibancadas do Mangueirão ocorreu por causa de uma briga entre torcedores de Paysandu, mandante do jogo, e torcedores do Sport, que estavam sendo “ajudados” por torcedores do Remo, eterno rival do Papão. Um alambrado da arquibancada foi arrancado pelos torcedores.

MOTIVOS QUE LEVARAM TORCEDORES A BRIGAR E MANCHAR O FUTEBOL BRASILEIRO EM 2012

Rivalidade

Assim como ocorreu nas confusões que resultaram em morte, a rivalidade entre as facções organizadas foi o motivo que causou a maioria das brigas que não causaram vítimas em 2012. A rixa entre torcedores rivais levaram tensão em várias partes do país. No Rio de Janeiro, por exemplo, registrou-se briga entre botafoguenses e tricolores no último dia 1 de abril. Cerca de dois meses antes, um tumulto na estação do Méier, Zona Norte, terminou com a prisão de quatro torcedores do Vasco antes do clássico contra o Fluminense. Semanas antes, flamenguistas e tricolores brigaram na Praça Seca, no bairro de Jacarepaguá.

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Brigas internas

Outro motivo que causou confusão foi a inexplicável rixa entre os torcedores da mesma facção. Ego, disputa pelo poder, diferença de ideologia e busca por mais espaço foram algumas das motivações para que pessoas que dividem a mesma paixão participassem de confusões. Foi assim, por exemplo, que duas facções do Atlético-PR fizeram antes do jogo da equipe contra o Toledo, pelo Estadual, no dia 8 de fevereiro – garoto de 16 anos ficou com o rosto desfigurado após ser agredido por inúmeros torcedores. Não houve prisão de nenhum envolvido.

Torcidas amigas

Algumas das brigas que não resultaram em morte, mas que mancharam nosso fut, foram consequência de alianças de facções de estados diferentes. Mesmo diante de rivalidade nula, torcedores resolveram brigar pelos “amigos”. A última das 24 brigas registradas este ano foi assim. Anteontem, Paysandu e Sport se enfrentaram no estádio Mangueirão. Apesar de os pernambucanos não terem qualquer rivalidade com a equipe de Belém, a principal facção organizada é aliada da facção do Remo, eterno rival do Papão naquele estado. O resultado, claro, não poderia ser diferente: briga generalizada nas arquibancadas, por cerca de 15 minutos, no início do jogo, que terminou com vitória paraense, por 2 a 1. O problema, causado por essa amizade entre Sport e Remo, só pôde ser controlada com ação dos policiais.

NO EXTERIOR, TUDO É IGUAL

A situação em vários países sul-americanos e europeus não é diferente do Brasil em relação à brigas nesta temporada. Confusões generalizadas que, apesar de não resultarem em vítima fatal, mancharam um pouco mais esse esporte.

Na América do Sul, os países que mais sofreram foram Colômbia e Argentina. No dia 13 de março, por exemplo, torcedores de Atlético Nacional e Independiente de Medellín se confrontaram. O saldo da briga: nove feridos e 315 detidos.

Doze dias depois, torcedores do River Plate se envolveram em confusão com policiais. De acordo com o jornal “Olé”\", a confusão foi grande e tiros chegaram a ser disparados na região de Nuñez, nos arredores do estádio Monumental.

No Velho Continente, nada diferente. Antes do clássico entre CSKA e Spartak Moscou, pelo Campeonato Russo, dezenas de torcedores brigaram em uma estação de metrô da capital russa. O vídeo da confusão foi colocado no Youtube.

EM 2012, NEM DIRIGENTES ESCAPARAM...

Em 2012, nem mesmo dirigentes passaram ilesos da fúria das facções organizadas. Alguns episódios de confusão tiveram representantes dos clubes envolvidos. No dia 11 de março, por exemplo, torcidas de Chacarita Juniors e Atlanta se enfrentaram nos arredores de Buenos Aires, pela segunda divisão do Argentino. A confusão deixou um dirigente e o árbitro da partida feridos.

Marcelo Santoro, diretor do Atlanta, foi levado ao hospital depois de receber uma pedrada no rosto que o deixou inconsciente – facção organizada do Chacarita é considerada uma das mais violentas do país. Dentro do campo, o árbitro Fernando Rapallini foi atacado quando se retirava o vestiário.

No Brasil não foi diferente. No dia 22 de março, após mais uma derrota do Comercial de Mato Grosso do Sul em casa, a torcida se revoltou e partiu para cima de dirigentes e jogadores. O diretor de futebol Renato Cintra e foi agredido. Jogadores partiram para cima e a confusão foi generalizada. Até a Polícia Militar disparar spray de pimenta contra os vândalos comercialinos que, enfim, pararam de tentar agredir.

Fonte: Lancenet!
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