Talvez tenha sido a última das debandadas dos magos, gênios e expertos que diziam colocar as finanças do Vasco nos eixos, estabilizando o caixa e deixando o clube finalmente em posição de igualdade competitiva, sob o ponto de vista financeiro, com outros clubes do Brasil.
Tamanho o texto do senhor que justifica sua saída, em nada muda o seguinte fato: das sabotagens eleitoreiras que impediram o cumprimento das obrigações a vencer no fim de 2017 até o dia de hoje, nenhum passo foi efetivamente dado. Aquelas histórias de desculpas, culpando a outros (agora chegamos a culpar na própria gestão) e alegando ter a solução debaixo do braço, seguem como principal bandeira daqueles que já almejam o pleito no fim de 2020.
Recebemos, pois, neste feriado de São Sebastião, um texto longo, tentando justificar tanto a saída quanto a situação financeira atual. Mesmo sendo extensa, a justificativa omite pontos cruciais e se contradiz na própria estratégia, deixando pegadas da incompetência, que hoje tenta jogar pras pessoas que restam na Diretoria Administrativa, mas que deveriam honrosamente ser divididas em sua culpa, pois hoje não pagamos, quando pagamos, não sabemos a quem, e, pra piorar, tememos o rebaixamento em pleno janeiro.
Vamos então colher alguns trechos que mostram claramente que os que lá estavam faltavam em competência da mesma forma que falta nos que lá estão. Profissionais que levam suas planilhas e cartilhas debaixo do braço, sem compreender a realidade e particularidade de uma instituição, querendo impor métricas que não se sustentam em um clube de futebol como o Vasco. Frise-se, não queremos com isso insinuar que as métricas e regras não devam ser inseridas na administração do clube, mas elas devem ser completamente aderentes à sua realidade.
Pois bem, vamos começar com essa frase sem sentido:
aceitei (o convite) com uma única condição: a obediência fiel a um Projeto de Recuperação Econômica e Institucional do Vasco da Gama, de duração de médio prazo, cerca de 6 anos, formulado por mim, Horácio Júnior, o próprio Presidente e outros vascaínos.
Então a pessoa, que foi da chapa amarela e se juntou com a verde na bacia das almas pra derrotar a chapa de Eurico Miranda, resolve aceitar o convite com condição de que se respeite um projeto escrito por ele e pelo próprio presidente (de outra chapa) que o convidou? Ora, é claro que esse tal projeto, se é que existiu dessa forma, foi elaborado depois da eleição. Ou seja: nunca tiveram plano ou projeto algum. Tudo na bicuda de sempre, culpando o passado quando desse errado.
Logo em seguida, já deixa um veneno cair nas empresas contratadas. Vamos citar alguns:
Consultoria financeira: a empresa não volta a ser mencionada no imbróglio financeiro que surge ao longo do relato. Falta gravíssima é justificar a conduta financeira do clube sem mostrar o que propôs a consultoria. É mais um dos buracos deste pronunciamento;
Um sistema de gestão e informação (o ERP que tanto o Presidente falou na época sua implementação) deveria ter bloqueios sistêmicos que prevenissem qualquer transação sem a aprovação das Finanças (vamos voltar a esse ponto); mostrando que ou é pra inglês ver, ou tem alguém divulgando inverdades na questão.
Pra quem tentou se associar (ou mesmo pra quem já é sócio) não precisamos falar da reestruturação do setor de cobrança e do Programa de Sócios, afinal, a lisura desse processo foi tão questionada, com propostos tendo suas associações atrasadas (talvez com fins eleitoreiros), carteirinhas não emitidas, acessos não permitidos na Secretaria (o Fuzarca já evidenciou meses atrás). Portanto, não basta colocar um nome bonito na ação como “Reestruturação do Setor de Cobrança, que administra o Programa de Sócios Estatutários do Clube”. Tenha respeito pelos sócios, porque tal programa, como vários outros implementados nessa gestão são dignos de vergonha absoluta.
Chegam em 2018 e dizem o seguinte, como grande ato realizado:
Revisão dos processos em todo o Clube, principalmente a centralização das compras e maior controle dos estoques
Não quero desanimar, mas lá no fim do texto, vão dizer que a contratação de técnico e jogador não tiveram comunicação prévia ao Departamento Financeiro. Daí podemos observar que contratação, sobretudo de grandes valores, deveria ser um processo crucial no clube, com controles implementados de forma a dar razoável garantia sobre seu cumprimento. Isso que dizer, logicamente, que essa tal revisão, no mínimo, não foi bem executada.
Quer mais uma de 2018? Segura essa:
Levantamento e Renegociação das dívidas, com grande ganho financeiro.
No fim do ano de 2019, a expectativa com a premiação do Campeonato Brasileiro e a injeção de recursos provida pelo torcedor via programa de sócios, era de que todos os atrasados seriam pagos. De repente, chuvas de penhora em virtude de negociações não pagas começaram a aparecer, engessando e impossibilitando o pagamento das obrigações com nossos funcionários e atletas atuais. Portanto, seja lá o que levantaram, não foi bem feito. O que foi renegociado não foi pago, e o grande ganho financeiro, bem… deixa pra lá.
Vale lembrar que, em vários pontos da cronologia, identificou-se a necessidade de contrair alguns empréstimos, como de R$ 40 Milhões em 2018 e outros R$ 40 Milhões no orçamento de 2020. Estes empréstimos (esperamos, rezamos para que) devem ser para pagar dívidas. Portanto, olho no recorrente discurso do presidente quando diz que pagou “X” milhões de dívidas. Muito provavelmente (digo provavelmente porque a documentação suporte não costuma ser entregue) estes empréstimos são para pagar dívidas próximas ao vencimento (novamente, se é que pagam), gerando novas dívidas. A dívida em si, portanto, não é paga de fato.
Continuando, juntaram 6 especialistas em orçamento e traçaram um grande superávit. No entanto, restringiram o orçamento do futebol para R$ 3,3 Milhões mensais. Esses especialistas, sabedores de que tiveram que alocar R$ 4 Milhões mensais no ano anterior para se salvar do rebaixamento, bateram o pé nessa cifra. Ainda pior, considerando que R$ 1,5 Milhão já está comprometido com jogadores que não serão aproveitados. Ora, bateram o pé com o presidente de que terão time pra disputar o Brasileiro de 2020 com folha de R$ 1,8 Milhão e saíram pela divergência?
Basta fazer as contas: com o histórico, se essa história toda for verídica, os gênios das finanças colocaram o presidente em uma sinuca de bico. Em um superávit projetado do tamanho que foi (mais de R$ 100 Milhões), não havia razão para estrangular o orçamento do futebol, ainda mais considerando a Sulamericana como aposta para esse ano. Não há justificativa para a saída diante da necessidade de aumentar o orçamento no ponto nevrálgico do clube.
No fim do túnel, foi dito o que há muito tempo o Fuzarca afirma: investir na base é a chave para o sucesso. Temos que investir mais e mais, para aí sim, possamos nos dar ao luxo de não pensar em contratações em posições problemáticas; temos como suprir com nossos próprios atletas. Só assim poderemos cumprir com esse objetivo (ansioso nesses gestores) de preencher o elenco com a base.
Mesmo com essa longa explicação, pontos cruciais foram omitidos, como o Profut, não pago até então, e a devida priorização de pagamentos, que deveria não só ser exposta, mas como devidamente formalizada ao Conselho Fiscal. Sobre as sonegações, paira a questão sobre de quem partiu a decisão de não pagar. Além disso, quem teria estado de acordo e a quem foi omitida a informação. Impossível que Finanças e Controladoria tenham sido privados dessa informação tão crucial para as finanças do Vasco. Desse fato, quase todos os outros pontos de controle e processo, mencionados nos parágrafos acima, caem por terra.
Diante desse desfile de contradições, é muito fácil sair culpando atual e antigas administrações, maquiando a cronologia dos fatos para responsabilizar a Diretoria atual pela situação cada vez pior em que o Vasco se encontra. Mas basta uma pequena leitura crítica que vemos ambos os lados igualmente responsáveis e culpados por tal calamidade.
Fuzarca!