Vasco e Criciúma se enfrentam neste sábado, às 16h30, em uma partida que normalmente teria mais aquela cara de confronto direto. Afinal, é o segundo colocado da Série B visitando o quinto no Heriberto Hulse. Mas a incomum distância de oito pontos entre as equipes, a três rodadas do fim do primeiro turno, tira um pouco desse peso. E reflete uma característica da competição, até aqui.
A segunda divisão este ano tem claramente os times com maior capacidade de investimento levando vantagem sobre os demais. Os quatro primeiros colocados (Cruzeiro, Vasco, Bahia e Grêmio) são times de expressão nacional; os dois últimos estiveram na Série A em 2021 com trabalhos, ao menos na área financeira, elogiáveis.
Os números são referentes à receita bruta em 2021, mas já dão uma noção do que separa esse grupo da maior parte das equipes da Série B. De acordo com os balanços de Vasco e Criciúma, a receita bruta deles foi de R$ 186 e R$ 15 milhões, respectivamente. O time catarinense vem da Série C, ou seja, teve um incremento no que arrecada referente à cota de transmissão. Pouca coisa, apenas R$ 8 milhões a mais. O abismo segue gigante.
Gremistas e tricolores de aço perderam receita, ao serem rebaixados. O principal corte referente a TV. Mas isso não muda o fato de que possuem potencial de arrecadação bem superior que o restante da segunda divisão. A vantagem financeira dos times que vinham da Série A já foi até maior, no período em que a cláusula que mantinha a cota de primeira divisão na segunda esteve em vigor.
O Cruzeiro, mesmo no terceiro ano seguido na Série B, segue financeiramente mais forte do que boa parte da Série B. O incremento da SAF reforçou isso. Não é à toa que o time sobre na competição e, a um turno do fim, dá todos os sinais de que conseguirá o acesso.
Chapecoense padece
O peso do lado financeiro nesta Série B fica evidente no momento vivido pela Chapecoense. Rebaixada com Grêmio, Bahia e Sport, o time flerta com a zona de rebaixamento para a terceira divisão. A Chape, que já foi exemplo de gestão, até hoje sofre com os efeitos da tragédia de 2016, quando o avião que levava o time para a final da Sul-Americana, na Colômbia, caiu e matou 71 pessoas. Em fevereiro, entrou com pedido de recuperação judicial.
O equilíbrio de outros tempos na Série B passava por cima das eventuais discrepâncias que sempre existiram nas receitas das equipe. Este ano, não. Quem tem mais dinheiro para investir tem feito valer essa vantagem.
O Vasco, por exemplo, tem pressa para finalizar o processo de criação e venda da Sociedade Anônima de Futebol para a 777 Partners. A ideia é conseguir finalizar a burocracia, tanto a interna, com a confirmação do negócio entre os sócios, quanto a externa, com a passagem dos ativos do clube para a SAF, até meados de agosto. Isso e mais a injeção de capital dos americanos tornariam o futebol vascaíno dopado para os padrões da Série B. Não é à toa que o cruz-maltino sonha com a contratação de Alex Teixeira para o restante da temporada.
O atacante de 32 anos pode ser considerado um medalhão, perto do que o Vasco se acostumou a gastar com jogadores nos últimos anos - o salário mais alto foi o de Germán Cano, hoje no Fluminense, R$ 500 mil mensais. Ter tanta vantagem financeira tem um lado não tão bom: aumenta demais a responsabilidade de Cruzeiro, Vasco, Bahia e Grêmio conseguirem o retorno à Série A.