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Gaúcho mostra currículo e nega efetivação por ser amigo de Dinamite

A quatro dias da estreia no Campeonato Brasileiro, o Vasco volta a ser assombrado pelo fantasma da Segunda Divisão. E o técnico Gaúcho, pela ameaça de demissão. Quando os jogadores do Vasco entrarem em campo hoje, às 19h30m, contra o Vitória, em São Januário, o último capítulo da queda para a Série B, em 2008, estará nítido na memória. Foi em seu estádio, e para o mesmo adversário, que o clube perdeu o derradeiro jogo e a briga para não cair. Para avançar às semifinais da Copa do Brasil, o Vasco precisa vencer por três ou mais gols de diferença. Se vencer por 2 a 0, a decisão será nos pênaltis, Trabalho difícil, mas que se realizado com sucesso, garantirá a vaga e o emprego do treinador.

Durante a preparação para o jogo mais importante do semestre, Gaúcho tratou logo de tentar exorcizar da mente dos jogadores a lembrança da queda.

Ao mesmo tempo, precisou inventar uma maneira de fazer com o que o time faça gols. E não leve nenhum. No papel, é um esquema com apenas Élton no ataque e Dodô no banco. Dedé, que até agora só ficou conhecido por machucar Carlos Alberto em um treino, ganhou o lugar de Titi na zaga. Se conseguir a classificação, vira gênio. Do contrário, corre o risco de ser demitido.

— Não me sinto ameaçado.

Venci cinco jogos e perdi dois — declarou Gaúcho.

As duas derrotas nos 35 dias à frente do Vasco foram para dois rubro-negros: Flamengo, na semifinal da Taça Rio, e Vitória, no primeiro jogo das quartas de final da Copa do Brasil, perdido por 2 a 0. As cores não amedrontam tanto o veterano treinador, que apesar de novato no Vasco, tem currículo extenso e adquiriu sabedoria para entender que não é o contrato assinado até dezembro a sua garantia.

— Meu trabalho está aí. Fui campeão invicto com o Americano em 2002 (taças Rio e Guanabara, o campeão do Estadual foi o Fluminense), ganhei com o Boavista e treinei Atlético-MG e América-MG.

Júnior tem prisão revogada

Prestigiado pelo presidente Roberto Dinamite em um momento de condições financeiras modestas nos cofres do clube, que impediram a contratação de um técnico de ponta, Gaúcho aproveitou a chance e, até agora, tem um retrospecto positivo, mas sofre com a divisão interna ocasionada por sua efetivação. E diz não se importar quando perguntado se está no cargo por ser amigo do presidente, com quem jogou junto no Vasco na década de 1970.

— Não tem nada disso. Eu me garanto no trabalho — declarou Gaúcho.

Até mesmo a amizade tem limites quando se trata de Philippe Coutinho. No jogo com o Flamengo, Gaúcho o substituiu e Dinamite balançou a cabeça, decepcionado. Coutinho também não gostou, mas hoje passou a ser fundamental no esquema em que ele e Carlos Alberto se revezarão para encostar no solitário Élton.

— É jogo para o Coutinho decidir — disse Gaúcho.

O Vasco em campo hoje irá investir nas jogadas pelo meio de campo e fazer a bola passar ao máximo pelos pés dos dois falsos meias. Como a movimentação será crucial, Dodô, atacante contratado para resolver o problema do ataque, ficará no banco, segundo o treinador explicou: — Com o Carlos Alberto, que é um falso meia, e o Élton, eu tenho mais movimentação.

Ao mesmo tempo que Dodô perde importância no time titular, cresce a insatisfação da torcida com a apatia do time.

Ontem, alguns torcedores foram retirados de São Januário pelos seguranças depois de xingarem o atacante, Gaúcho e Carlos Alberto. A segurança será reforçada hoje no estádio para evitar que as cenas de tentativa de invasão ao vestiário, em caso de desclassificação, se repitam. Na madrugada em que o técnico Vagner Mancini foi demitido, em março, depois de o time perder de 3 a 2 para o Americano, vândalos chegaram até a porta do vestiário, fechada a tempo.

Os ingredientes são suficientes para ligar o alerta em São Januário.

A classificação é a chance de começar bem o Brasileiro e sepultar de vez a lembrança da queda. Em 2009, o Vasco goleou o Vitória por 4 a 0 no estádio na mesma Copa do Brasil, que também reserva outra curiosidade: o clube foi eliminado da competição pelo Vitória em São Januário em 1989.

— Vamos ter que superar tudo isso — disse Gaúcho.

A poucos dias do Brasileiro, o técnico tira o Santos da lista de favoritos e também não cita o Vasco como candidato ao título. Sabe que tudo vai depender de hoje.

Júnior, atacante do Vitória, teve sua prisão preventiva por falsificar passaporte revogada e embarcou para ontem mesmo para o Rio. O Vitória pode ser denunciado por escalação irregular pelo STJD.

Vasco: Fernando Prass, Élder Granja, Dedé, Thiago Martinelli e Ramon; Nílton, Souza, Magno, Philippe Coutinho e Carlos Alberto; Élton. Vitória: Viáfara, Marcos Pimentel, Wallace, Reniê e Egídio; Vanderson, Bida, Uelliton, Renato e Elkeson; Neto Berola (Júnior). Juiz: Evandro Roman (PR-Fifa).

(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal O Globo)

Fonte: Jornal O Globo
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