Nosso bate-papo de hoje é com o capixaba Geovani, carinhosamente chamado de Pequeno Príncipe pela torcida vascaína. Também pudera. Trata-se de um dos maiores meias da história do clube. Só pra ter idéia, foram cerca de 12 anos honrando a cruz de malta em suas três passagens (1982-1989, 1992-1993 e 1995-1996). Entre os vários títulos com a camisa do gigante da colina, destacam-se o do Campeonato Carioca de 1982, 1987, 1988, 1992 e 1993 e do Troféu Ramón de Carranza de 1987. Pelo Vasco, foram 408 jogos e 49 gols. Habilidoso, ótimo lançador e exímio cobrador de pênaltis e faltas, Geovani foi revelado pela Desportiva-ES. Chegou ao Vasco em 82, com status de promessa. Passou pelas seleções de base e atuou com grandes jogadores como Bebeto, Jorginho e Dunga. Em 1983, conquistou o Sul-Americano Sub-20 pelo Brasil, marcando o gol da vitória na final contra a Argentina. Em 88, ao lado de Romário, foi o grande nome da seleção nas Olimpíadas de Seul. No exterior, seu talento também foi notado através de suas passagens por Bologna-ITA, Karlsruher-ALE e Tigres-MEX. Geovani é um vencedor não só dentro de campo como também fora dele. Durante anos, lutou contra um tumor na vértebra e uma polineuropatia, doença que atacava os nervos e os músculos da perna. Foi obrigado a andar de cadeira de rodas e fazer uso de bengala para caminhar. Mas, com muita força divina e determinação, conseguiu superar a adversidade e buscar a cura. Nesse bate-papo descontraído, Geovani, entre outras coisas, fala da sua gratidão ao Vasco, destaca que na sua época a luta era pra ganhar títulos e admite que errou em ter levado seu filho Andrey para jogar no clube. Confira! |
Você teve 3 passagens pelo Vasco e ficou ao todo 12 anos no clube. Hoje, o que representa essa camisa na sua vida?
Geovani: Tirando a camisa que eu iniciei a minha carreira que foi na Desportiva Ferroviária, a camisa mais importante que usei foi a do Vasco. Foram quase 12 anos, mas de um amor eterno por esse clube e por tudo que ele fez por mim. E eu tentei fazer o mínimo por ele, que era pelo menos jogar futebol e ajudar o clube. Uma coisa eu guardo no meu coração: em momento algum o Vasco perdeu a identidade quando a gente jogava lá. E isso foi muito importante. Nunca lutamos pra não cair. Lutamos sempre pra ganhar título. E isso foi uma coisa que fica marcada na carreira de qualquer jogador de futebol.
Quando se fala de Geovani, todos recordam da parceria espetacular com Romario. Você lançava e o baixinho atropelava os zagueiros e colocava para as redes. Pode explicar pra gente como funcionava essa sintonia?
Geovani: Joguei com vários jogadores de alto nível. Romário foi um deles. Campeão do mundo e artilheiro nato. Era um jogador que decidia. Não só ele como o Roberto, como outros que tinham no Vasco. É sempre importante saber que você dá a bola pra alguém e alguém vai fazer um algo mais. E o algo mais é o gol no futebol. E Romário sabia fazer como poucos. Por isso, acho que tenho que dizer: “Deus me deu mais do que mereço no futebol”. Joguei com jogadores de alto nível. Romário é um deles como Roberto, Bebeto e como vários jogadores. Se eu tiver que citar, vou ficar falando até amanhã. Mas esse foi uma alegria que Deus me deu.
Outra característica marcante sua era a precisão nas cobranças de pênalti. Sempre foi um exímio batedor. Lembro de um pênalti perdido contra o Olaria, pelo Carioca de 89. Qual o segredo que você tinha naquele momento?
Geovani: Eu treinei bastante pra ser cobrador de pênalti. Nesse treinamento, eu até apostava. Tem uma aposta que eu fiz com o Régis. O dia que você encontrar o Régis, que foi goleiro do Vasco, você vai perguntar a aposta que eu fiz com ele. E uma das apostas que fiz foi se ele pegasse o pênalti - se fosse no mesmo lado da bola era como se tivesse conseguido pegar o pênalti - eu daria um carro pra ele. É uma aposta que a gente tinha confiança. Não vou fazer uma aposta dessa sem ter confiança. E eu tinha confiança, pois realmente treinava muito pênalti e isso foi muito legal pra mim na minha carreira.
Seu filho Andrey sempre quis seguir os seus passos e fazer história no Vasco. Apesar de muito talentoso, não foi bem aproveitado pelo clube na época. Tanto que decidiu sair. Essa, talvez, foi a sua maior mágoa com o Vasco até hoje em sua carreira?
Geovani: Ele tinha tudo pra ser jogador de futebol, mas um grande erro do pai, que sou eu, foi tê-lo levado para o Vasco. Se eu o levasse pra qualquer outro time, ninguém compararia ele comigo. Eu cheguei no Vasco já com comparação: “É igual ao pai?” E essa comparação atrapalha qualquer um. Alguns jogadores foram atrapalhados, outros até se destacaram. Mas quando o pai joga e as pessoas comparam com o pai, dificulta pra qualquer um. Eu acho que esse foi o grande erro da minha vida em ter levado pra ele. Mas hoje ele não joga mais, é engenheiro civil, está em outro ramo e feliz. O importante é que não ficou frustrado e está feliz por ter também vestido a camisa do Vasco.
Na sua condição de ídolo do Vasco, que jogou sempre em times que brigavam por título, o que o clube precisa para voltar aos tempos de grandes conquistas?
Geovani: Eu acho que o importante pra voltar a ser um time vencedor é a equipe não errar nas contratações. Não ir pela indicação de empresário. Empresário quer empregar o jogador dele. Mas não sabe se o jogador dele vai ser importante pro clube. Não adianta você empregar o cara e o cara chegar lá pra só pagar o salário e não trabalhar pra ganhar título pelo clube. Eu acho o que está acontecendo em alguns clubes, e isso há muitos anos, é erro na contratação. Hoje, pelos valores que são pagos, não pode errar na contratação. “Ah, vou pagar 200 mil pra um jogador”. Ele tem que dar retorno! Se não der retorno, aí não tem como. Na contratação, você tem que ter mais critério. Contratar aqueles que realmente vão ser importantes, não só pro clube dentro de campo, como também em termos de publicidade fora de campo.