Há dois anos, um grupo de políticos e empresários de Tucuruí, cidade localizada a cerca de 450km de Belém, resolveu dar nova vida ao Independente Atlético Clube. Após um ano alugando a agremiação, os sócios pagaram R$ 90 mil ao antigo proprietário - e fundador, Francisco Bastos - e levaram de vez o Galo Elétrico da capital para o sudoeste do Pará. Começava aí a trajetória de sucesso do atual campeão paraense. Primeiro clube do interior a levantar o caneco em 99 edições do estadual, o Independente, que bateu o Paysandu nos pênaltis em pleno Mangueirão no último domingo, já existe há 38 anos, mas somente após o vínculo definitivo com a cidade da energia e seus mais de 97 mil habitantes conseguiu escrever o seu nome na história do futebol paraense.
- O Independente é antigo, mas nunca tinha disputado a Primeira Divisão. Por isso, o proprietário alugou o time. Pagávamos R$ 1 mil e fomos para a elite do futebol paraense. Neste ano, compramos o time para não corrermos o risco de o proprietário o pegar de volta, e agora somos 180 sócios proprietários. Hoje o Independente pertence à cidade de Tucuruí - explicou o novo presidente, Deley Santos.
A empatia de Tucuruí com o Independente foi mesmo meteórica. A cidade que possui a maior usina hidrelétrica totalmente brasileira, a quarta do mundo, abraçou o clube nascido em Belém de tal maneira que o prefeito decretou feriado municipal na segunda-feira seguinte ao título. E o dia 27 de junho foi histórico para o povo de Tucuruí, que parou para receber os campeões. Com fogos de artifício e muito barulho, milhares de pessoas acompanharam o desfile do time em carro aberto do Corpo de Bombeiros, e a festa, nunca antes vista nas redondezas, entrou pela madrugada.
- Sabíamos que seríamos bem recebidos, mas não desta forma. Estamos muito felizes por tudo o que esse povo fez por nós - disse o camisa 10, Gian.
Um dos símbolos do título inédito, o meia de 36 anos está acostumado a conquistas importantes. Revelado na base do Vasco, foi tricampeão carioca (1992-93-94) e campeão do Mundial sub-20 com a Seleção Brasileira em 1993. No próprio Pará, o jogador já havia conquistado dois estaduais, com o Remo, em 2003-04. Apesar da experiência, Gian, que chegou a ficar o ano de 2009 longe do futebol, se emocionou com o feito do Independente.
- É muita alegria fazer história num clube do interior do Pará. Passamos por todos os obstáculos e conseguimos esse título importantíssimo.
Após estadual, Independente quer fazer bonito também na Série D
Como forma de agradecimento à cidade, a ideia agora é incorporar oficialmente Tucuruí ao nome do clube, que em breve passará a se chamar Independente Tucuruí Clube. Nada mais justo, uma vez que é a força da cidade que tem movido o atual campeão do estado, que sobrevive do patrocínio da prefeitura e do comércio local. Além disso, o estádio onde o Independente manda seus jogos, o Navegantão, é municipal.
- Nosso segredo é a organização. Somos modestos, temos uma folha mensal de R$ 90 mil, mas pagamos em dia. Tratamos o jogador como um profissional comum. Não atrasamos salários - garantiu o presidente.
Com o título paraense nas mãos e o apoio de Tucuruí, o Galo Elétrico começa a pensar além do Norte do país e agora visa à Série D. A estreia do time está marcada para o próximo dia 17, contra o Trem-AP, em Macapá. Mas o grande objetivo é fazer bonito na Copa do Brasil de 2012.
Cruz de malta inspira o Independente da criação até hoje
E para dar trabalho aos grandes na próxima edição da competição nacional, o Independente se inspira no atual campeão, o Vasco. Isso porque o time carioca tem forte ligação com as origens do Galo Elétrico. Dois anos antes de o Vasco se tornar o primeiro carioca a conquistar o Campeonato Brasileiro, em 1974, o ex-dono do clube verde, azul e branco, Francisco Bastos, vascaíno roxo, fez questão de colocar a cruz de malta no escudo de sua equipe. Mesmo após a transferência para Tucuruí, a homenagem ao Cruz-Maltino original foi mantida.
- Sou vascaíno apaixonado, já morei no Rio de Janeiro, e por isso coloquei a cruz de malta no símbolo do clube. Há dois anos, fiz um acordo e cedi o CNPJ para Tucuruí. Aluguei para o Deley durante um ano, mas como o pessoal da cidade gostava do clube fiz um negócio com ele. Com o dinheiro que entrou de retorno, fundei no último dia 15 outro clube em Belém, com o mesmo nome e a cruz de malta, o Independente Clube do Pará - explicou Bastos.
Enquanto a Copa do Brasil não chega e a distância para o Vasco segue enorme, o Independente ainda tem muito tempo para colher os louros de ter sido o primeiro time do interior a conquistar o Paraense. Feito que colocou a pequena Tucuruí nos livros de futebol e jamais será esquecido pelo povo local.