A concorrência do Esporte Interativo pelos direitos do Brasileiro-2019 obrigou a Globo a rever alguns de seus conceitos na negociação. Entre eles, está a divisão de cotas de TV tão criticada pela maioria dos clubes por dar valores maiores a Flamengo e Corinthians. E agora, pela primeira vez, a emissora carioca admite oficialmente rever a distribuição de cotas como antecipara o blog. Informou já ter incluído novo modelo em contrato.
É o que conta o diretor da Globo Esportes, Pedro Garcia, ao blog em respostas por e.mail a questionamentos sobre o andamento das negociações. Não especifica qual a divisão: o blog apurou que a promessa é de 40% distribuídos de forma igual, 30% por premiação e 30% por audiência. Não fica claro ainda como isso valerá em cada um dos contratos de TV Aberta, Fechada e Pay-Per-View.
Contratos já assinados – casos do Corinthians, Vasco, Botafogo – podem ter ajustes já que a emissora informou estar conversando com todos os clubes. Garcia disse que alguns acordos com clubes acertados já têm o novo modelo.
A mudança tenta evitar a perda de clubes por conta da proposta maior feita pelo Esporte Interativo pela TV Fechada. Hoje, a emissora oferece o quíntuplo da Globo/Sportv.
Outra informação do executivo é de que não haverá retaliação aos clubes que fecharam ou podem fechar contratos de TV Fechada com a Esporte Interativo/Turner. A emissora carioca fará propostas pela TV Aberta e Pay-Per-View para esses times. Veja abaixo as repostas do executivo:
Blog: A Globo confirma ter feito essa proposta de R$ 100 milhões (pela TV Fechada) nas novas novas negociações com clubes como Flamengo, São Paulo, Palmeiras que ainda não fecharam com nenhuma das emissoras?
Pedro Garcia: Nós não podemos detalhar negociações em andamento. O que confirmamos é que o Grupo Globo investe no futebol há 30 anos. De forma crescente. Sempre procurando alinhar os interesses: de quem quer assistir a uma transmissão imparcial, emocionante e com qualidade; dos anunciantes e patrocinadores, que querem associar a sua marca a um esporte que é uma paixão nacional, que investem muito nessa transmissão porque acreditam no seu retorno, e dos clubes, que têm no Grupo Globo uma parceria de anos; uma parceria que tem contribuído para a profissionalização do futebol brasileiro. Futebol é paixão, mas esta paixão fica melhor quando é cercada de profissionalismo, transparência e retorno.
Blog: Confirma o valor de R$ 1,1 bilhão para o pacote global?
Pedro Garcia: Como dito, não iremos comentar números que ainda estão em negociação. Isso não é correto com as partes envolvidas nessa mesma negociação. Mas podemos afirmar que não fizemos proposta para pacote global, e sim uma proposta com valores para todas as janelas: TV Aberta, TV Paga, PPV, Internet, Direitos Internacionais e Placas, seguindo o modelo vigente onde temos contratos separados por janelas. Como grupo de comunicação abrangente, estamos presente em todas essas janelas de visibilidade. Entendemos que cada uma dessas janelas tem características próprias, retornos diferentes para o anunciante, públicos com hábitos de consumo distintos… e nossa proposta para cada uma dessas janelas leva tudo isso em consideração. Temos um compromisso de longo prazo com o futebol brasileiro. Já estamos nesta parceria há anos e ainda vamos caminhar juntos por muito tempo, pois o nosso interesse é o mesmo de todas as partes envolvidas: a valorização do futebol brasileiro para quem assiste, para quem anuncia/patrocina e para quem faz o show – os clubes, as torcidas e os jogadores. Nós acreditamos que, quanto melhores forem os clubes e o futebol brasileiros, melhor será para o espetáculo do futebol. É assim que todo mundo ganha. Hoje e sempre.
Blog: A Globo aposta na sua proposta global para superar o maior valor oferecido pelo Esporte Interativo pela TV Fechada?
Pedro Garcia: Nós acreditamos que toda nossa história de relacionamento com o futebol (com os apaixonados pelo esporte, com o mercado anunciante e com os clubes) é enorme. E não tomamos nossas atitudes com base em outras propostas. Nossa aposta é num futebol cada vez mais forte, que tenha condição de atrair cada vez mais público – nos estádios e na frente das diversas telas. Como, por exemplo, acreditamos fortemente no crescimento do PPV, que vai gerar mais receitas para os clubes. Também acompanhamos a evolução do mundo no que diz respeito a novos modelos de negociações de direitos esportivos, transmissões e contratos, e temos consciência de que uma nova divisão da receita de TV entre os clubes reflete um desejo dos clubes. Por isso incorporamos esta evolução em nossa proposta. Nós acreditamos que devemos evoluir sempre em negociações. Aqui vale um princípio básico: toda negociação tem que ser boa para todas as partes. No campo de futebol pode haver um vencedor. Mas, no campo do “negócio futebol”, todos devem vencer. É nisso que acreditamos. É assim que evoluímos. Este é o espírito de transparência e retidão que nos conduz. Para nós, esta “regra é clara”.
Blog: Como ficarão os contratos dos clubes que já assinaram em condições diferentes como Vasco, Botafogo, Cruzeiro, Corinthians?
Pedro Garcia: De novo, é complicado comentar uma negociação que está em andamento. Não é justo para as partes envolvidas. O que podemos dizer é que continuamos conversando com todos esses times que fazem o grande espetáculo do futebol. Já fechamos, inclusive, com um desses que você citou e com vários outros que não estão nesta sua lista, contratos que chegam até ao ano de 2024, já no novo modelo. Nosso compromisso é de longo prazo, e vamos seguir lutando junto com os clubes para que o futebol brasileiro cresça, sempre respeitando as marcas que patrocinam e anunciam neste esporte e os torcedores que são apaixonados por ele. Temos um modelo claro, transparente e vantajoso. Mas sabemos que este modelo de negociação é vivo. Cabem aprendizados, inovações, evoluções e reajustes, que estão sendo feitos. Por exemplo: quando novas tecnologias surgem, elas precisam ser avaliadas, precificadas e analisadas. Isso amplia o escopo de receita de todas as partes, principalmente dos clubes. Como dissemos, é o caso do PPV e das transmissões digitais. E por tudo isso cabem sempre reajustes, que temos feito.
Blog: Haverá um reajuste nestes contratos?
Pedro Garcia: Já respondido na anterior.
Blog: Existe uma posição da Globo de que só fechará com clubes o pacote inteiro com TV Fechada e Aberta, e pay-per-view, ou poderá aceitar fechar apenas a TV Aberta com clubes que tenham acertado a Fechada com outra emissora?
Pedro Garcia: Sim, negociaremos TV aberta e PPV com os clubes que tiverem a TV fechada comprada pela Turner. Nós só não poderemos negociar transmissão com clubes que fecharem contrato com players que nos impeçam disso. Não vamos comentar esta ou aquela proposta. Cada um tem que ser responsável e comprometido com o que faz. Nós acreditamos que temos a melhor proposta para cada uma das janelas de transmissão, separada ou coletivamente. Como temos dito, nós temos compromisso contínuo e crescente com a melhoria do futebol brasileiro. Uma vez mais, respeitando quem quer assistir a um jogo com qualidade, quem quer patrocinar e anunciar neste esporte e os clubes e atletas que fazem este grande espetáculo. Analisamos o passado, o presente e o futuro do nosso vínculo com os times brasileiros, para estruturar uma proposta que fique de pé na relação com os anunciantes/patrocinadores deste esporte e com os torcedores que pagam para ver a sua paixão. Nós sabemos que temos que dar retorno em visibilidade e qualidade de transmissão para os anunciantes e qualidade imparcial de transmissão para os torcedores. Nossa proposta não é para um ano ou dois, é para uma vida comprometida com o futebol. O futebol nos deu muito e nós acreditamos que demos também muitas contribuições ao futebol brasileiro. E esta história de parceria ainda tem muito o que gerar de bons frutos. Podemos melhorar esta relação? Sempre. A vida é assim, sempre pode melhorar. Paixão é assim, sempre deve ser melhor. Mas tem que ser melhor pra todo mundo, de forma honesta, transparente e sustentável. Nós acreditamos que nossa relação com o futebol é de muito, muito, muito longo prazo.