A cada ano o futebol brasileiro fica mais multinacional. Os clubes do país têm buscado cada vez mais reforços no exterior, e agora a busca não se limita a argentinos, paraguaios, chilenos e uruguaios capazes de reforçar os elencos profissionais. Jovens estrangeiros de países como Itália, Hungria, África do Sul e China já fazem parte das divisões de base brasileiras. fluxo que começou em 2012 e que não para de aumentar.
ECONOMIA FORTE ATRAI PROFISSIONAIS
Números de janeiro deste ano mostram que 42 estrangeiros jogam atualmente no Brasil. Um aumento significativo em relação a 2012 (15 gringos) e 2013 (39 atletas de outras nacionalidades). O Brasil, que é de longe a economia mais forte da América do Sul, agora tem um motivo a mais para atrair os estrangeiros. A legislação da CBF passou a permitir a escalação de cinco estrangeiros em vez dos três da antiga regra.
O argentino Roberto Miguel, radicado há 20 anos no Rio de Janeiro, trabalha desde 2004 como empresário de jogadores e foi o responsável pela primeira vinda de Dario Conca ao país em 2007. Ele conta que tem sido bastante procurado por jogadores estrangeiros que querem vir jogar no Brasil.
- E a tendência é cada vez aumentar mais. Muitos me ligam: "Me arruma time no Brasil, me arruma time no Brasil". Hoje o Brasil está pagando duas, três, quatro vezes mais que o mercado argentino. Um salário de um jogador top na Argentina, de nível de seleção, ídolo do seu clube, é de 500 mil dólares por ano, ou seja entre 40 e 50 mil dólares mensais (cerca de 125 mil reais) – explicou o empresário.
O volante argentino Guiñazu, do Vasco, referenda esse pensamento:
- Para um jogador que está em outro país sul-americano, sair para o Brasil... já não sei se é até melhor do que sair para a Europa, economicamente falando.
Vice-campeão da Libertadores, o clube paraguaio Olimpia foi vítima dessa voracidade. Quase a metade da equipe veio jogar no Brasil. O goleiro Martín Silva e o volante Aranda foram para o Vasco; o atacante Ferreyra tornou-se o camisa 9 do Botafogo; o volante Pitoni acertou com o Bahia; e o zagueiro Meza parou no Sport Recife. Sem contar a volta de Conca ao Fluminense, a chegada do uruguaio Álvaro Pereira ao São Paulo, e os reforços do Flamengo, o equatoriano Erazo e o argentino Lucas Mugni.
- Por sorte fizemos uma boa campanha na Libertadores, e creio que isso ajudou a vir jogar no Brasil... vários jogadores que estavam no Olimpia estão jogando no Brasil agora – lembrou o zagueiro Meza.
O goleiro uruguaio Martin Silva ressalta o alto nível de disputa no Brasil.
- Eu acho que é bom. Estamos buscando o mercado mais competitivo da América do Sul – afirmou o arqueiro.
ESTRANGEIROS NAS DIVISÕES DE BASE
Mas a busca por estrangeiros não se limita aos profissionais. Os clubes brasileiros contratam jogadores já para a base, e o olhar vai além do mercado sul-americano. Há quem aposte até em garotos europeus. É o caso do Fluminense, que tem treinando no calor de Xérem três jogadores estrangeiros. O goleiro húngaro Daniel Kovcs, o meia uruguaio Bryan Oliveira e o lateral italiano Mirko Di Piero buscam seu espaço na equipe sub-20 tricolor. Fernando Simone, gerente geral das divisões de base do Flu, explica a estratégia.
- Estão aparecendo algumas oportunidades de jogadores de fora do Brasil. Para a gente é interessante e mais barato ainda na divisão de base.
Di Piero tem 18 anos e está há quatro meses no Fluminense. Satisfeito com sua vida no Rio, ele precisa driblar o calor escaldante do Brasil.
- Na Itália agora tem neve, cinco graus, muito frio. Aqui 40 graus, 39 graus, muito calor, muito quente – conta o italiano.
O apoiador uruguaio Bryan Oliveira, com 19 anos, veio ao Brasil pensando em seu estilo de jogo.
- Futebol brasileiro para o meu jogo é ideal. Pensei numa boa oportunidade pra minha carreira – afirmou o uruguaio.
O Grêmio foi buscar o zagueiro argentino Robertino Canavésio, de 20 anos e 1,88 de altura.
- Meu sonho agora é jogar no profissional do Grêmio e ajudar o time para o que seja. E também devolver tudo que eles apostaram em mim – afirmou o defensor natural de Pergamino.
O coordenador das categorias de base gremistas, Júnior Chávare, afirma que Canavésio tem um estilo de jogo similar a Edinho, que também brilhou no Grêmio, e acredita que o projeto vai crescer ainda mais.
- Temos hoje a equipe sub 19, que é basicamente sub 18, é uma das categorias em que a gente acredita poder fazer um investimento mais fortemente daqui pra frente. Nós temos assistentes sociais, pedagogos e psicólogos que fazem a essa transição da chegada do atleta aqui ao Brasil, faz toda essa integração com a equipe – afirmou Chávare.
O São Paulo investe no sul-africano Tyrone Joe Sandows. Nascido em Joanesburgo, Tyrone está desde os 11 anos no Brasil. Hoje, aos 19, já fala português fluentemente. Com habilidade e bom controle de bola, o meia-atacante canhoto conquistou de vez a confiança dos dirigentes. Apesar de ser uma das promessas do clube, não vê o futuro apenas no futebol e, em meio a treinos e jogos, cursa faculdade de educação física.
- O dia a dia é bem puxado, com treino de manhã, de tarde e à noite, às vezes vou para a faculdade. Prefiro pensar ser jogador de futebol ainda e conquistar o Brasil – afirmou Tyrone.
O Botafogo tem um reforço que vem do outro lado do mundo. É o chinês Tang Shi, que acabou de chegar para o time sub-20 e já arrisca até o hino alvinegro. Seja argentino, italiano, húngaro, sul-africano, todos sonham trilhar o sucesso de outros estrangeiros no futebol brasileiro como os argentinos Conca e Tevez, que foram eleitos os craques do Brasileirão.