O coração do nigeriano Abubakar bate mais forte quando pensa em Benin City, no continente africano. Ele ainda lembra dos tempos em que corria com a bola pelos campinhos da cidade natal para o desespero do pai, que sonhava em ver o filho estudando. Passados 12 anos, o garoto Abu cresceu, atravessou um oceano, driblou as diferenças culturais e a distância da família para realizar o velho sonho. Sonho que fica cada vez mais distante por causa da burocracia. Há 73 dias no Vasco, o jogador não conseguiu até agora a liberação para disputar o Campeonato Carioca. O pedido do visto ao consulado nigeriano já foi feito, mas não há ainda uma previsão de sua liberação.
- Estou triste com tudo que está acontecendo. Vim aqui para jogar, mas tive esses problemas de documentação. Estou mais do que ansioso em poder estrear com a camisa do Vasco, enquanto isso vou treinando - diz, resignado, o jogador que fez a sua última partida oficial pelo Internacional, em dezembro do ano passado contra o Caxias do Sul. Justamente o time do goleiro reserva Ricardo, o seu melhor amigo na Colina.
Enquanto a liberação não vem, o silencioso Abu vive os conflitos de ser um estrangeiro no país do futebol e de estar longe família. Solitário, encontrou nos braços da futura noiva, a gaúcha Paula, o carinho e o conforto, e principalmente a sensação de estar em casa. Os dois se conheceram em um shopping em Porto Alegre e foi paixão a primeira vista. É com ela que ele dividiu nos últimos dois anos a saudade de casa e a dolorosa lembrança do pai, que perdeu quando tinha apenas 8 anos.
- Às vezes, ele fica quieto, distante. Antes não entendia, mas agora já sei que é saudade da família - entrega Paula com quem o nigeriano mora num confortável flat na Barra.
Preconceito
Caseiro, Abu é viciado em videogame e morre de preguiça de ir à praia, apesar de morar em frente ao Posto 6 da Barra.
- Não gosto de água, não sei nadar - justifica o jogador.
Mas nem tudo foi fácil na vida do meia-atacante de 19 anos. Ele sofreu na pele a cor do preconceito na Argentina, quando atuou no River Plate B, com apenas 16 anos. Depois jogou no time B do Internacional até desembarcar em São Januário. Apesar dos jovens 19 anos, Abu está de olho no futuro. Sonha em alçar vôos maiores envergando a camisa dos Super-Águias dos craques Kanu, Okocha e Amokachi. E quem sabe um dia chegar aos status do seu ídolo maior: Romário.
Mas a julgar pela desenvoltura e coragem com que tem lidado com os desafios da vida, um caminho promissor o espera pela frente.