Criado em Bangu junto com o atacante Vagner Love, Evander, de 15 anos, trilha um caminho diferente do "irmão" mais velho em São Januário. Pupilo do ex-jogador do Flamengo que foi dispensado na base do Vasco na mesma idade que hoje tem o meia eleito melhor jogador da Copa da Amizade Brasil-Japão, vencida pelo clube cruz-maltino na semana passada, o meia-atacante usa os ensinamentos que aprendeu em casa e o talento natural para escrever uma outra história com a camisa vascaína.
Evander é filho do empresário de Vagner Love, Evandro Ferreira. Ele começou a treinar no antigo Vasco-Barra com 11 anos, primeiro no futebol de salão, depois passou para o campo. Na época, Love já havia saído do Brasil após boa passagem pelo Palmeiras e ainda brilhava na Rússia pelo CSKA. O atacante, que hoje está no Shandong Luneng, da China, já percebia talento no menino desde as primeiras batidas na bola no campo de terra em Bangu.
- Ele sempre bateu muito bem na bola. Não tenho dúvida que ele pode se tornar um grande jogador. Ele é como um irmão caçula para mim - diz Vagner Love, sobre o garoto.
Love deixou o Vasco quando tinha 15 para 16 anos por causa da concorrência com um atacante mais alto. Um problema que Evander não deve encontrar. Com 1.78m, ele faz 16 anos só no ano que vem, quando vai para os juvenis do clube de São Januário. Na Copa da Amizade, ele fez um dos gols da final contra o Cruzeiro (2 a 1) para o Vasco, marcou sete em todo o torneio e recebeu o troféu de melhor jogador do campeonato, para orgulho do pai e de Love. Aliás, Evander cresceu entre boleiros e vê nesse relacionamento desde criança uma vantagem para já ir se adaptando aos percalços no mundo do futebol.
- O Vagner sempre me deu conselhos para não fazer coisas erradas, não desperdiçar chances, porque ele já passou por muita coisa e eu aprendo muito com a experiência dele - conta ele, que pretende ter um final diferente em São Januário, apesar de defender o "irmão" mais velho no episódio que culminou na sua saída prematura do Vasco no infantil. - Ele me contou que foi mandado embora porque era muito pequeno e tinha um cara maior que ele. Hoje ninguém sabe quem é o cara e ele é o Vagner Love. Futebol não é tamanho, é dentro de campo.
Tabelinha no futuro
Nas conversas, Love apresenta as dificuldades de uma carreira de jogador profissional. Depois do sucesso no Palmeiras, onde também passou momentos difíceis, inclusive com ameaças de torcida organizada, até o amor recíproco que encontrou no Flamengo, até passagem pela seleção brasileira, o atacante lembra que é importante se apoiar em pessoas em quem ele confia, como o pai empresário e ele mesmo Vagner Love.
- Digo para ele que é tudo muito difícil no futebol. Tem que lutar muito para chegar em algum lugar. Mas ele está no caminho certo, tem um paizão que o ajuda, que o acompanha em tudo, como eu tive minha mãe e ele (Evandro Ferreira) também, que me ajudou quando fui mandado embora do Vasco. Hoje ele não é meu empresário, mas um pai para mim também. Jogador nem sempre toma as decisões certas, por isso é importante ter pessoas próximas para nos ajudar - ensina o atacante do Shandong Luneng.
Além da óbvia referência técnica que tem por Love, as inspirações de Evander vão desde um argentino baixinho até outra revelação, apenas quatro mais velho, que foi parar no ex-time do seu padrinho no futebol.
- Gosto muito de ver o Messi jogar, mas também do Vitinho, que saiu agora do Brasil (foi para o CSKA). Tenho estilo de jogo parecido, de ir para cima, mas também de ajudar na marcação, voltar para fechar o meio de campo - diz ele, que joga com a 9, como Love.Com o sonho de chegar aos profissionais do Vasco e fazer carreira em São Januário, Evander também imagina um dia reeditar uma tabelinha que fazia nas peladas do bairro e nas festas de fim de ano com Vagner Love. A diferença de idade é de 14 anos, mas os dois consideram que ainda há tempo.
- Nas peladas de fim de ano já ensaiamos algumas tabelinhas. Tenho mais uns seis anos de futebol e se isso acontecer ficarei muito feliz e nosso pai (Evandro) também. Ainda poderei passar mais experiência para ele, porque estarei mais velho ainda - brinca Love.
Mas se depender de Evander, a ajuda vai vir dele como meia para Love marcar mais uns golzinhos no fim da carreira.
- Sou mais novo, vou ter que ajudar ele também, né. Vou colocá-lo na cara do gol - diz, aos risos, Evander.