Ênio Andrade, Valdir Espinosa, Levir Culpi, Abel Braga, Carlos Alberto Parreira, Emerson Leão... Alguns dos mais influentes treinadores brasileiros das últimas décadas cruzaram, em algum momento, os caminhos de Ramon Menezes em sua longa relação com o futebol. É até natural para alguém que chegou aos 40 anos jogando, ainda mais num país em que técnicos vêm e vão ao sabor de alguns poucos resultados. O fato é que não faltaram influências e preparação ao novo comandante do Vasco, que estreia neste domingo após espera de mais de três meses contra o Macaé, às 16h, em São Januário.
O encontro com Ênio Andrade faz 30 anos, quando Ramon era um meia recém-promovido da base do Cruzeiro. O tempo, no entanto, não apagou as lições de um “exemplo de estrategista à frente de seu tempo", como Ramon o define. Já ao falar de Antônio Lopes, treinador que mais o dirigiu e com quem ganhou Brasileiro e Libertadores na inesquecível passagem pelo Vasco, a palavra “gestão” é usada com frequência. Saber lidar com pessoas é, para Ramon, fundamental no trabalho.
— Lopes era um disciplinador, um gestor incrível. Todos sabiam sua função, fazia a gente entender o que é o Vasco. O time era muito organizado sem bola. Com a bola, ele dava muita liberdade — recorda. Parceria revivida no Vasco atual, onde Lopes é coordenador técnico.
As influências talvez expliquem por que uma das primeiras medidas de Ramon no Vasco tenha sido reintegrar Bruno César, que parecia fora dos planos.
— Você não pode desistir de uma pessoa. Ele tem uma carreira fantástica, está trabalhando. Vamos dar a oportunidade. Só depende dele.
A partir de hoje, Ramon terá a missão de fazer seu time se assemelhar a suas ideias de jogo. Mas, acima de tudo, a nova função é um reencontro com sensações, com um prazer que a vida de jogador sempre lhe ofereceu. Em 2010, então no Vitória e perto dos 38 anos, Ramon decidiu parar. Jogou até 2013, quando deixou a Cabofriense.
— É muito difícil parar. Porque o futebol é nossa vida. Mas hoje, como treinador, tenho o mesmo prazer — diz, sem sequer esboçar arrependimento por ter defendido clubes distantes das ambições do Vasco multicampeão que marcou sua carreira. — Sempre colhi ensinamentos. No Joinville, Hemerson Maria (técnico) foi importantíssimo. Ele me fez perceber a importância do estudo, de se dedicar 24 horas por dia ao futebol.
Transição e influências
A competição, o campo, a adrenalina, tudo isso escraviza homens que se criaram no futebol. Enquanto preparava a transição para a área técnica, Ramon iniciou cursos ainda como jogador do Joinville, onde ganhou a Série C. Hoje, tem a Licença Pro da CBF. Consumiu conselhos de técnicos e ensinamentos teóricos. Mas ainda é um pouco escorregadio ao detalhar seu ideário de futebol. Ainda que dê pistas.
— Este Vasco pode ficar um pouco mais com a bola, ser agressivo — planeja, admitindo ser partidário de adaptações ao perfil de cada elenco. — Não abro mão de um bom futebol, de agressividade com e sem a bola, um bom posicionamento em campo que gere dúvidas no adversário.
Ramon tanto parece um técnico eclético que, ao citar times que gosta de ver, transita do Grêmio de Renato Gaúcho, com suas posses longas, ao futebol de transições do Campeonato Alemão. Para muitos, a quantidade de problemas financeiros que ronda o Vasco — com dificuldades para ir ao mercado e perdas como Marrony —, o colocou num imenso desafio. Até aqui, a curta carreira do Ramon treinador se construiu na dificuldade, em clubes como Guarani de Divinópolis (MG), Anápolis (GO) ou Tombense (MG). Agora, no entanto, a missão é num clube gigante.
— Foi muito importante viver estas situações, começar de baixo, ter este aprendizado. Isso me preparou para ser auxiliar do Vasco, aprender com Luxemburgo, dono de uma gestão impressionante, com Abel... O Vasco apostou em mim por acreditar que estou capacitado. O torcedor do Vasco espera um resgate da grandeza. Não enxergo problemas, só penso em trabalhar. Minha relação com este clube é muito especial.