Futebol

Jogadores cobram Bolsonaro sobre MP do Mandante

A MP do Mandante não se tornou pauta de discussão apenas nos clubes que são favoráveis ou não à venda dos direitos de transmissão, conforme sugerido no despacho do governo federal. Atletas também se reúnem a fim de cobrar diálogo com o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). A insatisfação do grupo, contudo, se refere à nova forma de recolhimento dos direitos de arena.

De acordo com a Lei Pelé, de 24 de março de 1998, os sindicatos de atletas recolhem o dinheiro referente ao direito de arena diretamente com os detentores dos direitos de transmissão e repassam aos jogadores. Com a Medida Provisória 984, a incumbência do repasse volta a ser dos clubes, como ocorria na década de 1990.

A decisão faz com que os jogadores temam atrasos no pagamento do montante. Atletas de grandes clubes aderiram ao movimento e cobram uma conversa com Jair Bolsonaro sobre o tema.

"A MP caiu como uma bomba em cima dos atletas no direito de arena. Ela veio mais para tumultuar que ajudar. Está sendo falada sobre o mandante negociar a transmissão, só que no bojo dela, veio a mudança da redação da forma de pagamento do direito de arena. A Lei Pelé determina que seja através dos sindicatos. Nós mostramos aos parlamentares que haveria retrocesso, porque o direito de arena é o mais certo que o atleta recebe ao longo do ano, os salários sempre atrasam. O governo [federal, representado por Jair Bolsonaro] tomou uma medida sem ouvir o outro lado, ele tomou uma medida motivado por pedido dos clubes e por restrições aos sindicatos", explicou Alfredo Sampaio, presidente do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Saferj) e integrante da Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf).

"Não pode seguir adiante uma redação que traga retrocesso aos atletas e aos clubes. Isso motivou uma ação do Sindicato, acarretou em um acordo e isso virou lei. Há 20 anos, os sindicatos recebem o direito de arena e pagam os atletas rigorosamente. Naquela altura, os clubes viviam com uma série de ações trabalhistas. Tinham o imposto sindical, que os clubes faziam retenção e não pagavam. Eles tiravam dos atletas e não pagavam. Foi bom para o clube, que deixou de ter ação trabalhista. Foi bom para o atleta, que passou a receber. Há 20 anos, é assim, tanto que vocês estão vendo o movimento dos atletas que estamos fazendo. Nenhum atleta faria aquilo só para agradar. Os atletas estão preocupados com isso", acrescentou.

A preocupação dos jogadores foi repassada a Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, por meio de reunião em Brasília (DF). O político escutou o Sindicato dos Atletas e suas preocupações. No entanto, o principal desejo dos jogadores é uma conversa com o mandatário do poder executivo, que tem reunião marcada com clubes ainda em setembro para debater o assunto, conforme revelado pela coluna UOL De Primeira. Há o interesse também de encontro com Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente do Senado Federal.

"O governo federal emitiu uma MP sem ouvir as partes. Os jogadores estão indignados, não querem [essa MP]. Quando se fala de futebol, sempre se pensa em dez, 12 clubes. Mas temos 145 clubes no Brasil, muitos deles jogam competições que têm transmissões. Isso tem que ser ouvido pelo governo. Nós já tivemos com o presidente da Câmara [dos Deputados], Rodrigo Maia. Estamos tentando, desde que a Medida Provisória saiu, uma audiência com o governo federal para tentar explicar isso, mas não tivemos êxito. Estamos tentando uma com o [Davi] Alcolumbre, [presidente] do Senado. Não é o momento ainda, mas a gente quer levar isso para que alguém nos ouça", afirmou Alfredo Sampaio.

"A MP e a própria lei dizem que o direito de arena pertence aos clubes e que 5% dele tem que ser dirigido aos atletas. A partir do momento que 5% é do atleta, é o atleta quem decide onde quer receber. O negócio está dando certo há 20 anos para os clubes, para os atletas e para o próprio governo. O atleta recebe hoje, no máximo 72 horas após o fim das competições. Isso cobre a inadimplência de três, quatro meses de salários atrasados. O atleta deixa de ter um recebimento imediato de um direito que ele adquiriu há 20 anos para ir à Justiça cobrar o que ele poderia ter recebido em 48 horas, 72 horas", completou.

Os sindicatos de todas as partes do Brasil recolheram assinaturas de jogadores, como Rodinei e Rodrigo Lindoso (Internacional), Réver (Atlético-MG), Leandro Castan (Vasco) e Gatito Fernández (Botafogo) para levar à Câmara dos Deputados.

"Temos um abaixo-assinado, que já entreguei ao Rodrigo Maia, com nome CPF de todo mundo. A ideia é chegar no governo federal e chamar a atenção para sermos ouvidos. O Rodrigo não colocou para votar agora. Nós vamos continuar com isso, não vai parar. Peguei o e-mail de todos os deputados, vamos mandar a manifestação para o e-mail de todos, o dia inteiro. Queremos chamar atenção. Uma hora ou outra, eles vão falar: 'vamos ouvir esses caras'. Nosso medo é que o governo esteja ouvindo só os clubes, mas se você for falar com os caras do Vasco, vai ver que é uma coisa que os atletas não concordam, recebo sempre mensagens. Os caras estão muito preocupados", declarou o representante dos atletas.

"Os atletas de todos os lugares do país estão entrando no movimento, que cresceu no Rio de Janeiro. A ideia é seguir fazendo nacionalmente. O pessoal do Inter, Lindoso e o Rodinei, já gravou. A gente tem apoiadores no Grêmio. No Atlético-MG, o Réver falou. A gente está tentando pegar pelo menos um de cada lugar do país para mostrar a representatividade", concluiu Sampaio.

Fonte: UOL Esporte
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