A bola provocou brigas, alegrias e castigos. Quebrou vasos e, até, destruiu muros da infância humilde em Xerém. Neste domingo, a bola da vez será a do reencontro. Os irmãos Carlos Alberto, do Vasco, e Fernando, do Volta Redonda, estarão em lados opostos, em São Januário.
O volante Fernando, de 26 anos, ficará no banco de reservas, mas, como tem entrado em todos os jogos do Voltaço, já se prepara para a ingrata missão: parar o irmão famoso, que, dois anos mais velho, é uma das referências na sua vida.
Não é muito bom ter que enfrentar alguém da família. Para eu me sair bem, tenho que roubar as bolas do meu irmão. E a função dele é passar por mim. Não sou desleal, mas, se tiver que dar carrinho, vou dar garante Fernando.
Carlos Alberto promete levar para o campo a mesma rivalidade:
Somos irmãos, nos amamos, mas, quando entro em campo, nem vejo quem está do outro lado. Quero é ganhar. Agora, pergunta para a minha mãe o que ela acha disso. Quem sofre é ela, né?
Fernando já fez a pergunta à mãe, Maria de Fátima, ex-vendedora de cosméticos e peças íntimas, que distribuía broncas e castigos nos irmãos brigões de outrora.
Ela sofre muito e fica nervosa. Não vai assistir nem pela televisão. No fundo, vai torcer pelo empate entrega Fernando, considerando que a indecisão é a melhor solução em família.
O pai, Carlos Alberto, ex-iluminador da TV Globo, foi quem deu inúmeras bolas para seus meninos.
Ele deve ir a São Januário. Mas vai ficar em cima do muro diz Fernando.
Antes de seguir a trilha do sucesso, Carlos Alberto via no irmão o craque que ele gostaria de ser.
Sempre falei que ele era o craque da família. Fico muito orgulhoso por ele estar caminhando com as próprias pernas. Convivemos com muitos meninos que sonhavam ser profissionais e ficaram pelo caminho. Acho que somos vitoriosos por termos chegado aqui afirma, humilde e solidário.
Isso é coisa de irmão mais velho e protetor discorda Fernando. Todo mundo vê que a diferença é notável. Ele é habilidoso e eu jogo recuado acrescenta.
Na disputa entre irmãos, Fernando está em ligeira desvantagem. Eles se esbarraram nas quatro linhas duas vezes: pelo Botafogo, Carlos Alberto venceu o Goiás, de Fernando, por 2 a 0, em 2008, mas, dois anos depois, defendendo o Vasco, ficou no 0 a 0 com o irmão caçula, que jogava pelo Flamengo.