Futebol

Joias Perdidas: Léo Macaé recomeça carreira e não é mais "novo Romário"

Léo Macaé não tinha a dimensão do peso que carregava quando era garoto. De tanto ouvir, ele chegou até a acreditar que seria o novo Romário, mesmo sem saber exatamente o que aquilo significava. Sabia que bater recorde de gols na base do Vasco não era para qualquer um. Em 1997, fez 118 em 120 jogos, fato inédito nas divisões inferiores do clube em uma só temporada. Foi campeão do mundo pela seleção sub-17 e ganhou status de joia. Os anos se passaram, e ele não conseguiu virar Romário. Passou longe disso. Teve que aprender uma lição na marra: Romário só tem um, e craques são cada vez mais raros. Algumas comparações da melhor fase dele ainda existem, mas as promessas estão no passado. Após abandonar a carreira, ele resolveu voltar a jogar pelo Serra Macaense depois de dois anos. O sucesso da época de garoto rende rótulos até hoje, e agora o atacante é taxado como um talento desperdiçado.

A montanha russa do futebol fez Léo Macaé sonhar ser Romário e cair da cama. Abrir os olhos e ao invés de ter o mundo aos seus pés, viu na sua frente a dura realidade da maioria dos jogadores, com baixos salários, inconstância profissional e o ostracismo. Ele nunca ganhou mais do que R$ 7 mil no Brasil. Faturou isso por pouco tempo, no Figueirense, em 2003. No Vasco, nada mais do que R$ 1,2 mil. O desgosto foi tanto que ele resolveu parar de jogar em 2011, aos 28 anos. Os motivos foram as inúmeras frustrações.

Dois anos se passaram e ele ouviu os pedidos da esposa Simone, a quem conheceu depois que parou de jogar, e do filho Yan, de 10 anos, e resolveu dar uma nova chance para ele mesmo. Desta vez, para reconquistar a alegria de jogar futebol, sem aquela pressão de ser o sucessor de um dos melhores jogadores de todos os tempos. Por mais que não tenha vingado e esteja parado há bastante tempo, Léo Macaé garante que não desaprendeu a jogar e sonha fazer muitos gols ainda.


- Estou curtindo esse momento e na expectativa de sentir o gostinho novamente de jogar uma partida. Estou com saudades de jogar. Quero voltar a jogar para mim e para essas pessoas que amo tanto. Além disso, é a única coisa que sei e gosto de fazer. Ser o sucessor do Baixinho era o grande argumento que o Vasco tinha para mantê-lo em quase todas as vezes que aparecia uma chance de ele sair. Por gratidão ou por algum outro motivo que nem ele sabe explicar, não saiu quando as oportunidades eram boas para ele.


- Eu estava muito bem e veio o empresário do De La Peña, que jogava no Barcelona, na época. Ele me perguntou se eu queria ir para o Barcelona ou para o Real Madrid. Fiquei impressionado. Quando foram negociar com o Vasco, eles falavam que era para eu ficar, que seria o sucessor do Romário. Fizeram isso várias vezes. Perdi muitas oportunidades. Um clube da França mandou um observador ficar um mês em São Januário. Foi a mesma história. Não me liberaram nem com uma proposta financeira de R$ 1,5 milhão, pediram R$ 10 milhões. O Flamengo vendeu o Adriano rápido, por exemplo. Sou vascaíno e muito grato ao clube, mas acho que o meu grande erro foi ter pensado muito no Vasco e pouco em mim -lamentou o atacante.

Em 2000, ele subiu ao profissional do Vasco, com apenas 17 anos. Mas ao contrário do que se imaginava, atuar com inúmeros craques o deixou inibido. Romário, Juninho, Euller, Viola, Edmundo e Felipe foram companheiros dele no período em que esteve no Cruz-Maltino. Ao invés de ajudá-lo, o efeito foi contrário. A ambição diminuiu. O fato de estar atuando com jogadores consagrados já o deixava satisfeito, estar ali com os craques era a grande vitória dele.


- Imagina um garoto do interior jogar com esses craques todos? Já me considerava vencedor só de ficar no meio deles. O treinador pedia para eu tocar todas as bolas para o Romário, o Edmundo, e eu fazia. Só melhorei quando o Edmundo me chamou e falou que se eu fizesse tudo que o treinador mandava, eu nunca iria longe. Eu chegava na cara do gol e procurava o Edmundo, foi quando ele parou o treino e falou para eu chutar para o gol. Nesse dia, fiz dois gols depois que ele me deu esse toque.

Fazer dupla de ataque com Romário, aquele a que tanto o comparavam, foi um dos grandes orgulhos na carreira. Nem mesmo a bronca que ganhou em um jogo o fez perder a admiração pelo futebol do Baixinho. Ele se defendeu da má atuação em uma partida contra o Corinthians, no Brasileiro de 2001, e recordou que o camisa 11 ficou inconformado com os erros dele no segundo tempo - e até pediu para o técnico na ocasião, Paulo Cesar Gusmão, sacá-lo do jogo.


- Eu não estava relacionado. Fui para a Praia de Copacabana no domingo e o telefone tocou ao meio-dia. Era do Vasco, e me chamaram para ir para São Januário às pressas porque um atacante se machucou. O jogo era quatro da tarde. Sabe aquele ranço de praia? Eu estava assim, cansado. Fui para o banco com a certeza de que não jogaria. No segundo tempo, o PC me chamou e me colocou em campo. Na primeira bola, o Batata, do Corinthians, me empurrou e caí. Na segunda, tentei chutar para o gol e joguei na arquibancada. Aí o Romário já me olhou torto. Na terceira, eu caí de novo e ele me deu uma bronca. Começou a gesticular e falar que se eu não quisesse jogar era para sair, que não podia ficar mole em campo daquele jeito. A sorte foi que o Jamir (volante) acertou um chute e ganhamos de 1 a 0, me salvou (risos) - lembrou, sem mágoa e com bom humor.


Dupla com Adriano na seleção e lembrança de conversa na concentração



Na seleção sub-17, com Adriano, Diego Cavalieri, Eduardo Costa, Andrezinho, Souza e Léo Lima, Léo Macaé roubou a cena e foi o principal jogador da conquista do título mundial de 1999 (veja o vídeo abaixo), na Nova Zelândia. Após começar a competição no banco, ele ganhou a vaga na equipe nas quartas de final, contra o Paraguai. Marcou três gols na vitória por 4 a 1 e se consagrou. Na semifinal, contra Gana, fez dupla com Adriano, que também era reserva, e novamente fez o seu no empate em 2 a 2. Além disso, bateu pênalti na disputa e marcou. Na final contra a Austrália, novamente empate, agora por 0 a 0. Nova disputa, e mais uma vez Léo deixou o dele. Ganhou a chuteira de bronze, como terceiro artilheiro da competição. Pena que Léo perdeu o troféu ainda no Aeroporto de Nova Zelândia, ao se descuidar após ir no banheiro. Quando voltou, o prêmio não estava mais lá, e só restou mesmo a lembrança.

A parceria com Adriano começava fora de campo. Afinal, eram companheiros de quarto durante o campeonato. Em uma das recordações, o sonho da dupla de tirar a sorte grande, ficarem milionários e ganhar o prêmio de R$ 10 mil pelo título da competição.



- Um dia estava conversando com o Adriano no quarto e a gente ficava pensando o que faríamos se ganhasse R$ 1 milhão. Lembro que o Adriano falou para mim que se ganhasse R$ 1 milhão um dia, ele parava de jogar e ia viver na Vila Cruzeiro, só de renda (risos). Com os R$ 10 mil do prêmio, ele falou que ia fazer um churrasco na comunidade dele para os amigos e eu ia fazer um em Macaé. Engraçado como é a vida, um dia abro a internet e vejo que ele foi vendido para a Itália, estava ganhando altas cifras e virou Imperador.


Aventuras no exterior: racismo na Hungria, prisão no Egito e glória no Omã


A carreira de Léo Macaé ainda reservou algumas aventuras fora do país. Em 2004, com 21 anos, ele trocou o Vasco pelo Debreceni, da Hungria. Apesar de ter vivido bons momentos, o que ele mais tem na memória foi o preconceito que sofreu por parte da torcida. Após um dos jogos, ele foi cumprimentar a torcida, respeitando a tradição do time, e um deles cuspiu no rosto do atacante. O fato causou constrangimento. Logo depois, ele deixou o clube.


- Eles tinha colocado um faixa que dizia: \"Leonardo, vai embora que não queremos você aqui\". Eu não entendia. Depois o presidente me explicou que eu era o primeiro negro a jogar no clube deles e parte da torcida era composta por skinheads. Só depois que eu fui compreender. Aí aconteceu esse episódio do torcedor cuspir na minha cara. Joguei a garrafa de água de volta e deu uma confusão danada. Depois daquilo, eu não chegava mais na torcida e curiosamente nunca mais tive problemas com ninguém lá. Quando acabou o campeonato, eu saí. Quando voltou ao Brasil, em 2005, ele acertou com o Friburguense. Depois, Léo rodou. No mesmo ano, passou rapidamente pelo Landskrona, da Suécia. Já em 2006, vestiu três camisas diferentes - do Corinthians de Alagoas, do Vitória e do Guarani.


Entre 2007 e 2008, o Vitória de Setúbal, de Portugal, foi a casa dele. Jogar em um clube da Europa também ficou no currículo de Léo, mas foi no Egito que ele viveu o maior drama da carreira. Em 2009, ele recebeu um convite para jogar no país e ao chegar lá descobriu que foi enganado. Por não ter dinheiro para pagar a estadia, já que o combinado era para ser pago pelo empresário, teve o passaporte preso na pousada onde estava. Sem dinheiro e sem saber o que fazer, chegou a morar de favor com um amigo africano, que estava na mesma situação. Léo nem conseguiu contar os detalhes ao lembrar do constrangimento.


- Fiquei um mês e 20 dias no Egito. Fiquei uns dias em uma casa que não tem como um ser humano passar meia hora lá dentro. Da geladeira saía barata, para você ter ideia. Era uma cama de solteiro, horrível, para duas pessoas. Fazia uma refeição por dia. Às vezes chorava a noite inteira na rua. Até que conheci um amigo brasileiro, também jogador, e o empresário dele conseguiu me levar para o Omã. Para pegar o passaporte de volta foi um sacrifício, tive que ameaçar ir ao consulado brasileiro e provar que também era vítima. Foi no Omã que Léo virou ídolo, foi campeão nacional e teve a maior alegria fora do Brasil. Ganhou uma boa quantia de dinheiro e fez amigos. Ainda teve que se acostumar com as tradições do país. Para ele, a coisa mais difícil foi comer frango com a mão. Mas ele sente saudade lá de fora. Na verdade, é de jogar futebol. Nos dois anos em que ficou parado, foram alguns jogos no campeonato amador de Macaé e no futebol society. Agora, aos 30 anos, ele vai começar de novo, bem diferente do início da carreira no Vasco, quando tinha apenas 12 anos. O Serra Macaense abriu as portas para Léo Macaé fazer um novo começo, agora sem aquela pressão de ser o novo Romário, mas sim de ser um novo Léo Macaé.

* Raphael Bózeo, estagiário, sob a supervisão de Alexandre Alliatti.

Fonte: ge
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