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Jorge Salgado divulga carta sobre balanço patrimonial e critica atual gestão

Jorge Salgado divulga carta sobre o balanço patrimonial divulgado pela atual gestão e critica a diretoria de Pedrinho.

O ex-presidente afirma que Pedrinho entrou em contradição após afirmar que 'pessoas que se dizem vascaínas jogam contra'.

Confira a íntegra da carta:

reprodução/bsky/news colina



Vascaínos,

Rio de Janeiro, 6 de setembro de 2024

Diante da publicação do balanço de 2023 do CRVG, sinto-me no dever de prestar alguns esclarecimentos que julgo necessários para melhor compreensão da situação, assim como expressar nossa preocupação com algumas decisões tomadas pela atual gestão, que constam no balanço patrimonial e nas cartas que o acompanham.

Quem segue a vida política do CRVG sabe que, infelizmente, há décadas o Clube se habituou a gestões que se pautam exclusivamente por interesses políticos. Nesse contexto, decisões tomadas legitimamente pelo Clube, mediante debate e deliberação dos Poderes competentes, passam a ser questionadas a qualquer tempo, ao sabor da conjuntura política da ocasião. Infelizmente, em muitas ocasiões, destruir passa a ser mais importante do que construir.

Esse ambiente de eterna instabilidade institucional, além de afetar a reputação e credibilidade do Clube no mercado, explica porque seu modelo associativo não foi capaz de fazer frente ao crescimento e profissionalização da indústria do futebol. Enquanto outros clubes adaptaram seus mecanismos de gestão para competir num ambiente com orçamentos de centenas de milhões de reais, o CRVG se manteve na vanguarda do atraso, mais preocupado em impedir que adversários políticos façam uma gestão bem-sucedida ou em desconstruir realizações de gestões anteriores.

Em recente conversa com torcedores, o Presidente Pedrinho desabafou sobre pessoas que se dizem vascaínas, mas que “jogam contra", reconhecendo que as brigas políticas e falta de união atrasam o Clube há 40 anos. No entanto, mesmo que não tenha sido esta a sua intenção, acaba por repetir o mesmo enredo, ao assinar carta em que parece culpar a gestão passada por todos os males do mundo e ao dar um cunho de peça política à sua primeira carta de administração.

Quem lê esses documentos, que instruem o balanço de 2023 do CRVG, pode ser levado a crer que a atual administração desconhece a situação - pública e notória - que o Clube vivenciava há mais de duas décadas, de permanente crise financeira e incapacidade de arcar até mesmo com as obrigações mais básicas, asfixiado por dívidas históricas e receitas insuficientes para assegurar a montagem e manutenção de equipes competitivas.

Todas as administrações que assumiram a gestão do Clube no século XXI tiveram que lidar com falta de recursos financeiros, atrasos salariais, inadimplemento com fornecedores, múltiplas penhoras que impediam o uso dos parcos recursos em caixa e orçamentos modestos que impossibilitavam a retomada da competitividade esportiva. Essa era a dura realidade a ser enfrentada por todos aqueles que se dispunham a administrar o Clube.
Será que co Vasco estava em situação melhor quando tinha que conviver com vários meses de salários atrasados? Será que o projeto de reforma de São Januário e seu financiamento com a venda de potencial construtivo, desenvolvido ao longo de duas

diferentes gestões no Clube, não trouxe perspectivas positivas à atual diretoria, que o recebeu com os trâmites administrativos praticamente concluídos? Será que o Vasco, na realidade anterior, teria condições de contratar Leo Jardim, João Victor, Lucas Píton, Hugo Moura, Payet e Vegetti, sem contar com Jair, Paulinho e outros jogadores do time que atualmente faz boa campanha no Brasileirão e na Copa do Brasil?

É claro que o Clube deve tomar as medidas necessárias para defender seus legítimos interesses e proteger seu patrimônio, e a legislação societária e empresarial oferece diversos mecanismos voltados à proteção da companhia e dos direitos dos acionistas. Todavia, a forma como o Clube tem tratado o assunto preocupa àqueles que entendem que o foco absoluto da atual gestão deveria ser a busca de um novo investidor para garantir o fortalecimento e a continuidade do Vasco SAF de forma independente e profissional.

Ocorre que o mercado de capitais e a indústria do futebol sabem muito bem distinguir uma coisa da outra, e sinais dúbios certamente não favorecem a busca de novos parceiros. Isso vale, também, para a análise das demonstrações financeiras dos clubes.

Dito isso, farei breves considerações sobre informações constantes do balanço de 2023 do Clube, elaborado pela atual gestão e publicado recentemente.

Contingências

A insistência em se apegar ao termo "dívidas ocultas", cujo uso equivocado já foi esclarecido por diversas vezes, comprova, por si só, o ânimo político na apuração de contingências contábeis constantes do balanço 2023 do Clube.
Como dito em inúmeras ocasiões, a operação do Vasco SAF contemplou a assunção, pela companhia, do passivo do Clube no montante de R$ 700 milhões (atualizado pela taxa Selic a partir da data de fechamento). Eventuais contingências em excesso a esse valor, que podem ou não se materializar em dívidas exigíveis (a depender do desfecho de ações judiciais em curso), ficariam a cargo do Clube, que tem autonomia para negociar descontos com pretensos credores e se aproveitar contabilmente das reduções obtidas.

Nesse sentido, a operação do Vasco SAF previu a possibilidade de o CRVG vender até 10% das ações da SAF, de sua titularidade, para seus sócios e torcedores, mediante emissão de debentures permutáveis ou via estrutura alternativa (por exemplo, fundo de investimentos), para que torcedores vascaínos pudessem se tornar sócios da SAF e viabilizar recursos para negociação de descontos no pagamento de contingências eventualmente materializadas, após o término de discussões judiciais.

O balanço 2022 do Clube já apresentava em nota explicativa (página 24) o montante de cerca de R$ 195 milhões de eventuais contingências discutidas em juízo e não consideradas como passivo no balanço - não havendo, portanto, nada de "oculto" nos valores ora apresentados como contingências contábeis. O que houve agora foi apenas uma mudança no critério de contabilização, que resultou no contingenciamento de 81% dos valores cobrados em reclamações trabalhistas.

Nesse aspecto, chama atenção o fato de que o novo critério de contabilização de contingências parece destoar da prática do mercado, conforme se vê da comparação com balanços de outros clubes:

Clube Contingências informadas Dívida no Balanço Nível de Provisão
Associação CRVG - Balanço 2022 223,6 35,4 15,8%
Associação CRVG - Balanço 2023 233,6 143,0 61,2%
CRVG Ações Trabalhistas 2023 145,9 118,8 81,4%
CRVG Ações Cíveis 2023 87,7 24,2 28,5%
Palmeiras - Balanço 2023 404,0 23,2 5,7%
Flamengo - Balanço 2023 282,9 88,4 31,2%
Internacional - Balanço 2023 133,6 20,5 15,3%
Santos - Balanço 2023 185,7 54,5 29,3%
Corinthians - Balanço 2023 734,7 10,2 1,3%
São Paulo - Balanço 2023 133,0 14,3 10,8%
Mercado do Futebol - 2023 1.873,9 211,1 11,2%

A mera existência de uma ação judicial não significa, necessariamente, que todos os valores nela cobrados são, de fato, devidos. Pode ocorrer cobrança em juízo de valores já pagos, valores incorretos e até valores indevidos. Por exemplo, existe uma ação judicial contra o Clube, proposta por escritório de advocacia contratado em meados dos anos 2010 para recuperar créditos tributários, e que se utilizou daquele contrato para exigir honorários de 15% sobre os descontos obtidos pelo Clube com a adesão ao PROFUT no início de 2016. Essa absurda cobrança, alcança, hoje, o valor de cerca de R$ 35 milhões - o que representa quase 1/6 (um sexto) do valor total das contingências do Clube.

Além disso, caso as contingências se tornem dívidas exigíveis, os valores serão quitados em plano de pagamento de longo prazo no RCE, com recursos disponibilizados pela SAF e creditados no conta corrente mantido entre SAF e CRVG, sendo que a Lei da SAF prevê que os credores devem oferecer descontos de pelo menos 30% no valor das dívidas para ter prioridade no pagamento.

Aparentemente, o novo critério de contabilização, que classificou 81% dos valores cobrados em reclamações trabalhistas como de probabilidade de perda "provável", destoa da prática do mercado e leva a crer que o Clube reconhece que perderá quase todas as ações trabalhistas e não obterá qualquer desconto no pagamento de dívidas. Por que o Clube se coloca em situação de tamanha fragilidade perante seus credores? Afinal, quais interesses o Clube defende em juízo: os seus, ou os de seus reclamantes?

Conta corrente com a SAF

Sobre o tema, basta dizer que o CRVG apresenta no balanço 2023 uma suposta contingência de R$ 29 milhões com a SAF (página 9), mas, ao mesmo tempo, faz questão de esclarecer que isso "não significa o aceite por parte do CRVG dos valores propostos que, conforme já comentado, ainda estão sujeitos à validação pelas partes envolvidas".
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Ora, se o Clube não reconhece esse valor, por que o contabilizou como contingência? Não há nada que justifique essa medida - a não ser que a intenção seja, supostamente, a de inflar o "passivo" do Clube e criar um cenário de "terra arrasada" para, depois, se apresentar como o "salvador da pátria" que conseguiu reduzir um "passivo" que não condizia com a realidade. Espero sinceramente que isso possa vir a ser corrigido.
Para maiores informações sobre o conta corrente entre CRVG e SAF, faço referência à minha manifestação de 30/04/2024, disponível, na íntegra, no seguinte link: https://ge.globo.com/futebol/times/vasco/noticia/2024/04/30/salgado-contesta-possivel- crescimento-de-dividas-do-vasco-que-a-boa-tecnica-contabil-prevaleca.ghtml

Negociação da SAF

Curiosamente, o balanço 2023 faz ataques à negociação do Vasco SAF, mas reconhece que a situação financeira do Clube era insustentável para fazer frente ao pagamento de obrigações e realizar os necessários investimentos no futebol, e apresenta, em detalhes, a tramitação da operação no Clube (páginas 32 e 35), que contou com parecer favorável do Conselho Fiscal, parecer favorável da Comissão Especial do Conselho Deliberativo, recomendação de aprovação do Conselho Deliberativo e aprovação por 79,44% dos sócios votantes em Assembleia Geral.

Para evitar ser repetitivo, faço referência à minha manifestação de 08/06/2024: https://ge.globo.com/futebol/times/vasco/noticia/2024/06/08/salgado-diz-que-777-foi- unica-que-aceitou-condicoes-do-vasco-e-aponta-equivoco-conceitual-de-pedrinho.ghtml https://www.netvasco.com.br/n/338670/veja-a-integra-da-nota-do-ex-presidente-jorge-salgado-com-perguntas-e-resposta-sobre-a-saf (Obs.: por algum motivo, o Netvasco omitiu 3 folhas do documento, mas posso disponibilizá-lo novamente)

Atuação do CRVG na SAF
Desde o fechamento da operação do Vasco SAF, o Clube, na gestão anterior, exerceu seu papel de acionista de forma responsável e no foro adequado - as reuniões do Conselho de Administração – para cobrar melhorias na gestão da SAF e na qualidade dos investimentos realizados, conforme destacado em minha manifestação de 08/06/2024 (à qual, novamente, faço referência).

Dentre as medidas obtidas a partir da atuação do Clube como acionista da SAF, destaco a mudança do CEO inicialmente apontado pelo investidor, a criação de política para a realização de empréstimos com partes relacionadas (que dependem da aprovação dos representantes do Clube no Conselho de Administração da SAF), a notificação enviada ao investidor pelo atraso no pagamento do segundo aporte, a contratação de jogadores experientes e renomados na janela de transferência do 2o semestre de 2023, que possibilitou a correção de rumo do time naquela temporada, melhorias em São Januário, entre outras.

Transcrição: Supervasco

Fonte: Bluesky News Colina
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