Não vamos ser alarmistas: o Vasco ainda navega em águas tranquilas em sua trajetória rumo à Série A. A novidade, porém, está em uma pergunta até pouco tempo inimaginável: até quando? Marolas já chamam a atenção na antes calmaria de São Januário e ondas mais fortes podem colocar em risco a embarcação caso o resultado contra o Bahia, sábado, em Salvador, não seja positivo. Já são cinco partidas sem vencer - o mês de agosto inteiro - e a gordura pela liderança e pelo acesso está em risco na Fonte Nova. Jorginho e Eurico Miranda já se manifestaram: não há mais direito ao erro.
Seria raso demais condicionar o momento ruim aos desfalques - importantíssimos, claro - de Martín Silva, Andrezinho e Nenê na derrota para o Vila Nova, em casa. As atuações nada convincentes, entretanto, vêm de mais tempo e refletem um déficit técnico e, principalmente, de entusiasmo em quem passou 2016 quase que inteiro sem ser colocado à prova. Passado o empolgante título estadual invicto, o Vasco nadou de braçada na Segunda Divisão e parece ter entrado em sua zona de conforto. Por mais que o saldo de gols de 12 em 12 vitórias mostre placares apertados, o time sempre soube se impor. Não está sabendo mais.
Em sua última entrevista, terça-feira, Jorginho foi claro: "O alerta chegou. Precisamos estar muito atentos agora". Recado que ganhou firmeza e decibéis no dia seguinte. Em atitude que não teve nem mesmo depois da vexatória goleada por 6 a 0 para o Internacional, no ano passado, Eurico Miranda reuniu o elenco e comissão técnica no vestiário para cobranças em tom áspero. Em resumo: não precisou nem de cinco minutos para rechaçar qualquer tipo de acomodação, dizer que o time "sempre produziu mais do que vem produzindo" e exigir empenho - apesar de reconhecer o esforço no segundo tempo contra os goianos.
Com três pontos de vantagem sobre o Atlético-GO, o Vasco não perderá liderança no fim de semana por ter duas vitórias a mais que o rival. Uma derrota, por outro lado, coloca em risco não só o topo da tabela como um lugar no G-4 na rodada seguinte, uma vez que o Brasil de Pelotas, quinto colocado, pode reduzir a diferença para dois pontos. Para diminuir a pressão e evitar qualquer sinal de crise, a expectativa é de que Jorginho faça mudanças diante do Bahia.
Nenê e Andrezinho voltam, e isso não é pouco. Ainda no meio-campo, o treinador está inclinado a promover o retorno de Marcelo Mattos, depois de mais de um mês, ao lado do jovem Douglas. Alternativas para fazer voltar a dar liga um time que se perdeu justamente quando teve mais tempo para se ajustar: 18 dias durante a Olimpíada. Desde então, são dois empates contra times da zona de rebaixamento, uma derrota em casa e outra para o Santos, que complicou a vida naquele que era o maior desafio na temporada: a Copa do Brasil.
Dizer que o Vasco está contra a parede ainda é exagero, mas é preciso voltar a ganhar logo para seguir tendo espaço para respirar. Se a calmaria na Série B contribuiu para que o time baixasse a guarda, está aí o desafio que faltava. Jorginho e Eurico já deram o recado.