Todo mundo sabe que a valorização do real abriu as portas dos clubes brasileiros aos jogadores de segundo escalão da América do Sul e de outros países menos poderosos. Mas o que nem todo mundo sabe é essas negociações têm feito a festa de empresários inescrupulosos e dos dirigentes de clubes, com o benefício de depósitos em paraísos fiscais.
Não há uma só negociação do futebol brasileiro neste último mês que tenha sido feita como manda o Estatuto de Transferências da Fifa: dinheiro de um clube depositado diretamente na conta do outro.
O Fluminense, que o diga. Todas as suas transações foram feitas através de contas de empresas de agentes ou de fundos de investimento. Caso único? Não. Com praticamente 100% dos grandes clubes é assim. A regra é descumprida diante da total incapacidade da Fifa de fiscalizar transferências nos 208 países filiados.
No Brasil, a coisa degringolou com as facilidades encontradas e graças à condescendência das autoridades que nada fiscalizam.
O caso da transferência do vascaíno Paulo Miranda, denunciado aqui na coluna e em reportagem do GLOBO, foi entregue pelo MP Federal à Receita Federal, que, até agora, nada fez. Em vez de sair da conta do Bordeaux, na França, diretamente para a do Vasco, no Brasil, um total de US$ 5,94 milhões passou por países como Holanda, Suíça, Uruguai e Estados Unidos. Desse dinheiro, somente US$ 2 milhões entraram na conta do Vasco. O restante foi o lucro obtido e dividido pelo
agente Logbi Franck Henouda com outros agentes e dirigentes.
Tem empresário ganhando de dois clubes e até do jogador. Sem pagar imposto! Basta a Receita Federal investigar um pouquinho.