Carlos Eduardo Mansur
Há uma semana, quando alertou que a luta do Vasco seria “dura até o fim” da temporada e pediu união , o técnico Ricardo Sá Pinto fazia claro apelo direcionado à torcida. Pedia menos pressão sobre um elenco que, embora carente, é o que o clube tem para se livrar do rebaixamento em 2020.
Mas Sá Pinto bem poderia estar falando para outro público: os homens envolvidos na política do Vasco. Pode parecer um grande paradoxo o que acontece em São Januário, mas se por um lado é verdade que o processo eleitoral longo, autofágico e judicializado já consumiu energia demais, a ponto de machucar o clube do gabinete ao campo, também é verdade que somente uma nova eleição seria capaz de proteger o Vasco. Ainda que esticasse ainda mais este processo já desgastante, uma terceira votação parece o caminho mais seguro. Tamanho o buraco em que os homens que governam e os que desejam vir a governar o Vasco enfiaram o clube.
A palavra chave aí é legitimidade. É possível que, em meio à batalha de recursos, a Justiça venha a decidir pela validação de uma das duas votações a que o clube já assistiu. Mas não é disso que o Vasco precisa. Afinal, seria conduzido ao cargo um presidente que, embora amparado pela legalidade, ira falhar no aspecto fundamental: uma percepção de legitimidade dentro dos quadros do clube, de tão atribulado que foi o processo eleitoral. O Vasco precisa ver sentado na cadeira presidencial alguém entendido como produto da vontade da maioria no clube, e reconhecido como tal por todos. Alguém capaz de unir não por ter uma liminar embaixo do braço, mas por ter vencido uma eleição sob regras pactuadas por todos.
O Vasco já assistiu a uma primeira votação, iniciada numa manhã de sábado, realizada graças a um recurso na Justiça obtido na noite anterior. O que obrigou candidatos a tentar imprimir cédulas às pressas, claramente em condições desiguais.
A primeira tentativa de eleição seria vencida por Leven Siano, justamente um dos autores do recurso à Justiça. Mas não é digno de um clube como o Vasco ter um presidente eleito após uma contagem de votos às escuras, horas após uma nova decisão judicial suspender aquela primeira tentativa de eleição.
Uma semana depois, uma segunda votação, esta online, não teve a participação de três dos concorrentes. Foi vencida por Jorge Salgado, mas igualmente ficou a sensação de que todo o processo estava desacreditado, comprometido. A um ponto que não será na Justiça que a controvérsia será superada. Ao menos da forma que um clube carente de estabilidade precisa. O Vasco precisa de um pacto.
Se o Vasco está mesmo disposto a recuperar credibilidade e vitalidade diante de uma crise financeira, esportiva e institucional, nada pode ser pior do que entregar o poder a um presidente que, por mais que não seja, pareça ilegítimo. Como, aliás, o próprio clube experimentou nos últimos anos. Alexandre Campello foi eleito dentro das normas do estatuto, mas sua chegada ao poder criou a sensação de uma manobra que contrariava a vontade da maioria, o senso de unidade. O preço foi alto: uma instabilidade política que machucou demais o clube. E o campo é só o produto final.
O Vasco precisa de um grande pacto, feito por gente que mostre mais vontade salvá-lo do que ambição pelo poder.