Alguém matou Kevin Espada. Soltou o sinalizador. Alguém comprou os sinalizadores. Alguém bancou a ida desse cara para a Bolívia. Ninguém dessa cadeia de eventos vai pagar o preço devido.
Foram presos 12 corintianos na Bolívia. Possivelmente, alguém ali tinha culpa inteira. Ou meia culpa. E alguns não tinham nenhuma culpa. Esses cidadãos foram tratados como mártires pelo Corinthians, por parte da mídia e até mesmo pelo governo do Brasil, através de representantes populares. Não alguns deles, todos eles.
Em nenhum momento eu vi o Brasil, a República do Brasil, preocupado em saber quem tinha culpa inteira, quem tinha meia culpa, quem não tinha culpa alguma. Os 12 foram rotulados como inocentes, coitadinhos, pobres injustiçados. E se o governo tivesse a mesma “vontade” de liberar prostitutas brasileiras mantidas reféns em países da Europa que teve para liberar os 12?
A que tivemos esse ano foi uma chance única de abrir a caixa preta das torcidas organizadas do país. Como os 12 saíram de São Paulo e foram parar em Oruro? Com que dinheiro? Quem comprou os sinalizadores? De onde, exatamente, sai tanto dinheiro para as organizadas viajarem pelo Brasil e pelo mundo? Há lavagem? Será que os clubes têm a ver com isso? Os clubes financiam torcedores organizados?
Se for comprovado que os clubes financiam torcedores organizados, não deveriam ser diretamente responsabilizados por tudo o que eles criam? Alguém aqui sabe que as “caravanas” de organizados pelas estradas do Brasil são marcadas, em regra, por saques, violência e drogas? Alguém está preocupado com isso? Alguém já pensou em analisar a ficha policial de todos os cadastrados nas torcidas?
Estabeleceu-se o padrão de isentar torcidas organizadas em nome do “estádio à moda antiga”, com gritos de guerra, bandeiras, etc. São um mal necessário, na cabeça de alguns. Um mal para lá de desnecessário, na minha. Dizem, os defensores, que “são apenas alguns bandidos que se escondem dentro das torcidas”. Eu digo que é exatamente o contrário. São apenas alguns ingênuos inocentes que acham que as torcidas existem apenas para torcer. Quem é de bem, rapidamente cai fora, pois percebe que está entre bandidos.
Leandro Silva de Oliveira tinha pólvora nas mãos. Era um dos 12 de Oruro. Possivelmente estava, pois, na categoria de culpado inteiro ou meio culpado, certamente não na de inocente inteiro. Definitivamente, não era mártir. Não era um dos que merecia que o presidente do Corinthians, o sério Mário Gobbi, lhe dedicasse o título paulista, como fez.
O mesmo Leandro Silva de Oliveira, menos de um mês após a chegada ao Brasil, estava envolvido em briga e confusão no estádio Mané Garrincha, domingo. Como ele arrumou dinheiro para chegar até lá, para começo de conversa? Ganhou de presente de alguém? Porque trabalhar, ele não trabalhou nos últimos seis meses… E o ingresso custava 160 reais, em média. Fora a viagem.
Todos sabemos qual é a resposta. Mas ninguém faz nada. Ninguém quer fazer nada.
Você, torcedor corintiano de bem, já conseguiu ir a um São Paulo x Corinthians recente, no Morumbi? Já conseguiu comprar ingresso? Não, né? Mas os organizados estão sempre lá…
O poder público tem a obrigação de abrir a caixa preta. As torcidas organizadas precisam ser tratadas como organizações terroristas. Precisam ser pegas pelas finanças, é assim que funciona. Sem dinheiro, eles são apenas um bando desorganizado. O Ministério Público tem que agir para determinar a origem do dinheiro e, se a origem for o clube, que sejam punidos também. Pois estão financiando a violência.
O dirigente de futebol tem que ter muito peito, muita coragem para bater de frente com as organizadas. Porque ele será ameaçado, assim como sua família e amigos. Mas espera aí… um presidente de futebol não pode ser corajoso só na hora de brigar com arbitragem ou mandar treinador embora. Precisa ser mais do que isso.
Passou da hora de poder público, clubes e jornalistas (sim, jornalistas) pararem de glamourizar bandido. Não basta prender quem briga dentro do estádio. Há todo um mundo de violência que se alastra fora dos campos e de dias de jogos. É uma questão de segurança pública, sim senhor.
Que abram as caixas pretas! Leandros como este não podem mais estar em estádios. Possivelmente, nem na rua.