Futebol

Jornalista publica texto emocionante sobre a morte do jovem atacante Thalles

A arrasadora morte do atacante Thalles, de apenas 24 anos, é o tipo de falecimento que nos deixa reflexões e aprendizados.

Thalles era mais um garoto proveniente das periferias do Rio de Janeiro. Via no futebol a chance de mudar a realidade da sua família. O atacante talentoso, até então na base do Vasco e depois no começo dos profissionais, era encarado como aposta certa na Europa e quem sabe até na Seleção. Eu vi os primeiros gols do Thalles na arquibancada do Maracanã, em 2013. Vasco 3×2 Goiás, com o Cruz-Maltino eliminado da Copa do Brasil, mas a sensação ao sair do maior palco da história do futebol era: “Talvez eu tenha presenciado o nascimento de um novo craque”.

A realidade de Thalles é idêntica a de milhares garotos que estão começando ou até que já brilham nos gramados do futebol brasileiro e mundial. Simplesmente, de uma hora para outra, a realidade muda. Não há mais luta para conseguir o dinheiro da passagem para ir ao treino, mas sim a escolha do novo carro. Da pobreza ao luxo. Num estalar de dedos.

Pode não parecer, mas é extremamente difícil lidar com isso de forma repentina. Garotos criados em comunidades dominadas pelo crime, alguns sem pai e/ou mãe, que crescem e veem seus amigos, muitos deles que não tiveram oportunidade de trilhar bons caminhos, se tornarem bandidos. Aliás, a cultura do crime dentro das favelas transforma traficantes em heróis. O baile, a moto, o estilo de vida ostentador, entre outros… É complicado explicar para um garoto que vive na pobreza, sem oportunidades reais, sem educação e lazer adequados, que até passam fome, que a forma de vida daquele cara é errada.

Esse é, geralmente, o primeiro contato que esses garotos têm com o luxo. A primeira “referência”. E com Thalles não foi diferente. Como, de uma hora para outra, deixar claro para esse garoto que ele não pode mais ser amigo do moleque que estava com ele todo dia brincando na rua? Quem somos nós para condenar? Qual é a sua realidade?

Jornalisticamente falando, apenas posso citar alguns fatos pois foi uma notícia que dei em junho de 2017. Thalles foi confinado em um hotel na Barra da Tijuca. Depois de vários atos de indisciplina (acima do peso, atrasos nos treinos e excessos na noite carioca) e o Vasco ter tentado de outras formas recuperar uma joia, o clube buscou essa alternativa colocando-o com segurança para que ele não fugisse da concentração. Especialistas como nutricionista, psicólogo, preparador físico e tudo o que um atleta poderia ter de suporte para emagrecer e voltar a brilhar também estavam à disposição.

É verdade. O Vasco realmente fez de tudo. Naquele momento, mais precisamente Euriquinho, então vice-presidente de futebol do clube, que acreditava muito no atleta. Não deu certo.

Thalles, até então jogador da Ponte Preta, estava de férias no Rio de Janeiro e acabou se envolvendo em um acidente de moto. Segundo testemunhas, ele estava voltando de um baile funk na favela da Cerâmica. Sem capacete, colidiu com outra moto e faleceu.

“Tragédia anunciada”, muitos dizem. Diante dos fatos, eu até posso concordar que o Thalles poderia ter seguido outro caminho. Diferentemente de possíveis amigos que acabaram desviados , o ex-atacante teve inúmeras oportunidades na vida, mesmo que sua base tenha sido igual a deles, o que explica muita coisa. A morte do Thalles serve de exemplo para os garotos que não tiveram boas referências e passam por exatamente tudo o que ele viveu para primeiro se tornar um jogador de futebol. É aquele estalo que pode mudar rumos e dar um caminho às milhares de joias pelo Brasil que convivem com o peso de ser a única chance de tirar suas famílias da miséria e, quando isso acontece, não conseguem lidar com o fato.

A esses meninos: se cerquem de coisas boas. Pessoas e referências. Mesmo que o seu mundo não tenha te dado uma chance antes – e isso é cruel – agora vocês têm. Aproveite o respiro que vocês lutaram para ter.

E sobre a “tragédia anunciada”, agora para todos, pensem mais sobre isso. Não se trata só do Thalles. Esse anúncio vem sendo confeccionado dia a dia em nosso país. São lições dolorosas demais para fechar os olhos… Porque o que a gente deseja é que Thalles não tenha fechado os dele em vão.

Fonte: Futebolzinho - Lucas Pedrosa
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