A imagem do goleiro Vanderlei papeaando com jogadores do Aval, ex-companheiros no Santos, após a derrota na Ressacada, em Florianópolis, é emblemática.
Mostra, subliminarmente, o estado de abandono do futebol do Vasco.
E ajuda a entender por que o time não consegue evoluir na classificação da Série B, já condenado a outro ano na segunda divisão
Vanderlei, que já havia errado feio no empate em 1 a 1 com o Brasil na sexta-feira, desta vez foi infeliz no lance que originou o segundo gol dos catarinenses.
Armou uma barreira com seis jogadores e deixou apenas quatro na marcação da bola cruzada numa área habitada por seis adversários.
Erro primário que gerou espaços para Bruno Silva marcar, tranquilamente, o segundo gol do Avaí, minando a reação vascaína.
Ainda assim, com o retrospecto de falhas bisonhas, o mais experiente jogador do time não pareceu incomodado após o 3 a 1 em Florianópolis.
Com 32 pontos somados em 23 rodadas, o time de Vanderlei precisa agora, e em tese, de mais 30 nos 45 em disputa para voltar à Série B.
Mas isso é mesmo muito em tese, porque a pontuação na parte de cima indica que o G-4 poderá ser aberto com pontuação acima dos 62 imaginados.
E o que choca, não só aos vascaínos, é ver jogadores resignados com uma campanha medíocre, como se o Vasco tivesse assumido uma condição inferior.
E isso, vejam bem, não é algo que se possa atribuir só ao endividamento do clube, mazelas administrativas e coisas do gênero.
O Vasco tem um dos mais altos orçamentos da Série B, e os salários estão razoavelmente em dia.
Bem ou mal, dispõe de um centro de treinamento minimamente capacitado à preparação do time.
Que, aliás, chega a viajar em voos fretados visando à rápida recuperação física dos jogadores.
Com muito menos (CT improvisado, salários atrasados, penhoras judiciais e efervescência política de ano eleitoral) o clube obteve o acesso à Série A, em 2014.
Um campeonato em que teve de cumprir seis jogos de punição, três sem o mando de campo e a outra metade sem torcida em São Januário.
Ainda assim, passou quase toda a disputa trocando de posições no G-4.
Em linhas gerais, crises à parte, cumpriu a missão.
A diferença é que o departamento que fora esfacelado pelo presidente Roberto Dinamite entre 2012 e 2013, teve o retorno do Rodrigo Caetano.
O executivo que remontara a pasta na era pós Eurico Miranda, entre 2009 e 2011, já havia se tornado peça vital na engrenagem e realinhou as expectativas.
E foi ele quem liderou com o braço forte e conhecimento de mercado o trabalho de retorna à Série A.
O Vasco deveria ter aprendido a lição, ou poderia ter mais uma vez recorrido ao gestor, em janeiro, ao final de seu compromisso com o Internacional-RS.
ERRO ESTRATÉGICO
Mas Jorge Salgado confiava na permanência na Série A e planejava ter Paulo Roberto Falcão, há muito fora do cenário, como um CEO do futebol.
Ignorou o risco da queda e optou por entregar a Alexandre Pássaro, advogado especializado em gestão de contratos, a gerência do complexo departamento.
A formação acadêmica em cursos da Uefa encantaram o presidente vascaíno, que ignorou a pouca (ou nenhuma) experiência de campo e prestígio de mercado.
Repetiu o erro de Alexandre Campello, seu antecessor, acatando a indicação do agente Carlos Leite, seu socorrista financeiro, e deu no que deu.
O rebaixamento inviabilizou a chegada de Falcão e o jovem dispensado pelo São Paulo recebeu como prêmio a direção geral do futebol do Vasco.
Era lógico que não daria conta.
E o pouco caso de Vanderlei e a falta de indignação de reforços (sic) trazido por Pássaro refletem o estado anímico do clube.
O que me faz concluir que a contratação do gerente promovido a diretor atendeu às expectativas de quem o pôs no cargo, mas só fez piorar o que já era ruim.
O Vasco precisa encontrar no mercado alguém que entenda de futebol e saiba a dimensão que ele tem na vida das pessoas que mantêm o clube de pé...