Em 1967, Eurico Miranda começou suas atividades no Vasco, aos 23 anos. Foi o início de uma era que, de cargo a cargo, participou de negociações como a volta de Roberto Dinamite e a saída de Romário, e chegou à presidência em 2000. Permaneceu até 2008 e voltou ao clube em 2014, onde está até hoje.
Na última eleição, um nome passou a se tornar sombra do cartola charuteiro: Júlio Brant. Eurico Miranda venceu com 2.733 votos, contra 1.570 do jovem, então com 37 anos, jornalista e administrador.
Hoje, Júlio Brant já considera sua força maior que a da eleição passada. Novamente candidato, aos 40 anos, tem o apoio de ídolos como Edmundo, Felipe, Pedrinho, Mauro Galvão e Acácio e espera ser eleito no dia 7 de novembro. Na noite desta quinta-feira (28), ele esteve em Vitória para uma reunião com torcedores do Vasco, onde apresentou suas propostas.
Em entrevista ao jornal A Tribuna e ao Tribuna Online, Brant revelou suas principais intenções para acabar com a era Eurico Miranda no Vasco.
Na apresentação da sua candidatura, dia 21, o senhor disse que "o médico só dá o remédio quando ele tem o diagnóstico". Pelo que foi apresentado na ocasião, o senhor chega para tirar o Vasco da UTI?
JÚLIO BRANT – Exatamente, exatamente. A ideia é tirar o Vasco da UTI. O Vasco vive uma crise de imagem muito forte, uma crise financeira muito forte, uma crise no campo muito forte, crise de renovação na base, nos quadros sociais, na sua gestão, então, o Vasco precisa oxigenar. Você falou muito bem, é um paciente que está na UTI e precisa se recuperar o mais rápido possível. A deterioração do quadro do Vasco é crescente e forte a cada tempo que se passa. Esta semana saiu uma reportagem mostrando o valor de marca dos principais clubes do Brasil. O Vasco está em 10º lugar. Você vê os cinco primeiros clubes (Flamengo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Grêmio) e o Vasco fazia parte disso e vem caindo a cada ano. Isso é uma preocupação nossa. A gente precisa resgatar isso. Todo nosso projeto, aliás, se alicerça nessa renovação de marca e no fortalecimento da marca Vasco.
O senhor disse, inclusive, que esse é o coração do projeto
Exatamente, as marcas hoje são os grandes ativos de qualquer empresa. Então, as marcas fortes atraem outras marcas. E aí surgem grandes projetos de parcerias, que viabilizam outros grandes projetos. Quer dizer, associação do Vasco com outras marcas vitoriosas. Se você não resgata essa marca, se você não valoriza essa marca e faz ela ter atributos positivos, como tinha no passado, ou novos que vão surgir com inovação e novas ideias que vão criar, você não consegue se alinhar a esses novos parceiros, e aí trazer de volta a roda para girar, a roda da prosperidade do clube. Esse é que é o grande ponto.
E quais são as prioridades do plano emergencial de 100 dias?
O primeiro ponto é financeiro. A primeira prioridade nossa é fazer um diagnóstico de caixa. Como é que está a situação financeira do Vasco, de fato? Hoje a gente não tem acesso aos números. A gente não sabe exatamente qual é a situação que o Vasco vive. Então, você tem um problema. O conselho fiscal recomendou a reprovação das contas do Eurico, ano passado. Isso mostra que, em 2015, 2016 e 2017, não existe parâmetro dentro da realidade de como é que estão as contas do clube. Então, a primeira coisa é se aprofundar em como estão as contas. A segunda coisa é refazer os processos de gestão do clube, para que o clube entre na normalidade o mais rápido possível. Ou seja, os departamentos precisam voltar a funcionar, como financeiro, controladoria, comunicação, suprimentos, logística, por ser uma empresa como qualquer outra. E precisa funcionar para que o esporte possa funcionar de forma tranquila, sem sobressaltos.
Como vai funcionar a gestão do futebol, incluindo as perspectivas dos 33% do elenco derivado da base que o senhor propõe?
Nosso modelo é integrado de base e profissional. A gente que quer que essa mudança do menino da base para o profissional aconteça da forma mais tranquila possível. Ou seja, que ele se sinta naturalmente integrado ao profissional no momento em que ele está pronto para ser exposto ao profissional. E, para isso, é preciso que os profissionais da base se falem e sejam remunerados, vivendo um contexto similar aos que vivem no profissional do clube. Então, essa integração é fundamental. E aí vem o que eu falei dos 33%. Para quê eu vou contratar um jogador, pagar até R$ 120 mil em um jogador de mercado, que não faz tanta diferença no nosso modelo de jogar, se eu posso trazer gente da base, mesclar esses meninos da base e fazer com que eles aprendam, comecem a ganhar experiência com jogadores que de fato fazem a diferença, jogadores de qualidade. Aí sim a gente pode focar um pouco mais. Tendo mais recurso, a gente pode contratar melhor e fazer com que, esses jogadores da base, sejam expostos e joguem ao lado de jogadores de melhor qualidade. A tendência de você construir jogadores de mais qualidade, é muito maior.
O senhor fala da integração da base com o profissional. O Zé Ricardo, atual treinador do Vasco, tem experiência no futsal do clube, modalidade que sempre revelou craques como Felipe e Pedrinho, além da conquista da Copa São Paulo de Futebol Júnior pelo Flamengo. Ele é o cara dessa tua ideia?
Isso, exatamente. Na eleição passada a gente tinha o projeto de unir o ídolo do passado, do presente e do futuro. E aí fazer um grande projeto assim. Nesse momento, a gente vive uma carência de ídolo. Apesar de termos bons jogadores no elenco, o Vasco vive uma carência de ídolo que se identifique de fato com a história do clube, como Pedrinho, Felipe e Edmundo. São meninos que se identificam com a história do clube. A gente quer identificar esses meninos e formá-los no clube. O Vasco tem essa tradição, diferente dos outros clubes do Rio de Janeiro. O Vasco sempre teve essa tradição de formar grandes jogadores, grandes ídolos. Precisa voltar a formar como foi no passado, essa é nossa história.
O projeto da construção do centro de treinamento foi inspirado em modelos portugueses. Como é a ideia?
Eu morava em Portugal, então é natural que meus contatos estejam lá e a relação com as empresas de engenharia é essa. Mas não só isso. O centro de treinamento, que lá eles chamam de centro de treinador, da seleção portuguesa, é considerado o melhor da Europa. Então, trouxemos como parceira uma empresa para nos ajudar a desenvolver o mesmo padrão de centro de treinamento que tem a seleção portuguesa. Por isso que nosso projeto se inspira muito em alguns estádios e centros de treinamento de Portugal, especificamente.
E a reforma do estádio São Januário?
Vamos começar a construção do centro de treinamento e a reforma de São Januário o mais rápido possível. É óbvio que a gente precisa fazer isso em fases, para não causar um problema no funcionamento do clube. Ou seja, primeiro a construção do centro de treinamento para transferir o trabalho que hoje é feito em São Januário e, depois, durante a reforma, por ter que parar o estádio, ter um espaço para treinar e outro para jogar. O Rio de Janeiro tem estádios como Maracanã e outros para jogar. Mas, a gente precisa de um lugar para treinar. Então, a gente precisa fazer um cronograma de trabalho para não causar sobressaltos no trabalho do profissional.
Na tua campanha passada, o senhor disse que seu desejo era de ser campeão carioca logo que fosse eleito. O sentimento continua o mesmo?
Continua o mesmo. A gente quer entrar sendo campeões, a gente acha que é possível. O Vasco tem algumas necessidades pontuais, já estamos mapeando isso para o elenco e nossa ideia é fazer isso tão logo passe a eleição. Já temos contatos com alguns clubes, identificando potenciais jogadores para encaixar nas posições que a gente entende que são necessárias para o clube, jogadores que virão e não viriam com a atual administração. Mas, em um projeto que tem Edmundo, Pedrinho e Felipe envolvidos, eles conhecem, admiram e são fãs desses caras também. Então, faz toda a diferença. Estamos usando o relacionamento deles para trazer esses jogadores e em 2018 possamos fazer a diferença já no Carioca. Nada melhor do que começar vencendo um campeonato (risos).