Política

Julio Brant promete time competitivo e clube transparente

O discurso é o mesmo de 2014 e 2017: foco na gestão e na profissionalização do clube, que ele entende não ter entrado no século XXI. Ao mesmo tempo, o tom subiu: Brant encara o pleito de 7 de novembro como um tira-teima com Alexandre Campello, antigo aliado que mudou de lado na última eleição, a quem classifica como um continuador do modus operandi do ex-presidente Eurico Miranda.

- O que vem nessa eleição agora é o tira-teima entre Julio e Campello. É a transformação e a renovação contra esse sistema que existe no Vasco há 22 anos e que continua lá. Independentemente de o Eurico não estar mais lá, o sistema continua no Vasco. E é contra isso que vamos lutar - resumiu o candidato.

Com apoio de ídolos do clube - entre eles Edmundo, Felipe, Juninho Pernambucano e Pedrinho -, Brant promete um time competitivo e um clube transparente. Para ele, a mudança da situação econômica passa por aumento de receitas. E, para isso, o Vasco precisará, segundo o candidato, vender. Não só jogadores, como produtos.

- Tem que ser absolutamente tarado e psicótico em vender tudo - sentenciou.

O ge entrevistou Brant na sexta-feira, em conversa de pouco mais de uma hora e 30 minutos. Na noite de terça, o candidato anunciou oficialmente que concorrerá.

A entrevista completa com Julio Brant

Como foi o processo de decisão da candidatura e por que o anúncio demorou?

- A Sempre Vasco tem quadros muito capacitados de executivos do mercado. É uma marca nossa. Desde 2014 que a gente vem apresentando para o quadro social do clube um debate de alto nível de projeto. Nossa campanha sempre foi pautada pela apresentação de projetos. Há sete anos fazemos isso, sem nenhum ataque. Nosso enfoque nunca foi uma pessoa, mas sim um projeto e a melhor pessoa para conduzi-lo. São analisados vários fatores, como capacitação técnica, disponibilidade de tempo, financeira, capacidade de liderança, conhecimento do clube, conhecimento do contexto político.

O Vasco não é uma empresa. Sempre pautamos a escolha do candidato por um processo seletivo. E em 2020 não foi diferente. Tínhamos pessoas capacitadas e debatemos dentro do grupo quem seria o mais capacitado para tocar o projeto. Depois de um debate interno, chegamos à conclusão que eu seria o mais capacitado para levar o projeto adiante, sem desmerecer outras pessoas do grupo. Foi uma questão de análise objetiva de alguns pontos. A seleção demorou um pouco porque tivemos, inclusive, a entrada de novos executivos no grupo de 2017 para cá. Começamos o debate em março, tínhamos como meta a definição até o meio do ano, o que aconteceu mais para o final de agosto.

Foi muito fácil porque todo o nosso projeto tem muito a minha cara. Porque eu contribuí desde o começo. Então fica muito fácil colocar novos conceitos, mas com a mesma filosofia. Temos novidades no projeto, mas a filosofia não mudou, que e a profissionalização profunda do Vasco.

A pandemia atrapalhou o processo?

- Atrapalhou muito. O contato do dia a dia do grupo se perdeu. Isso foi muito ruim. Tínhamos o hábito de nos reunirmos pessoalmente pelo menos duas vezes por semana. Claro que passamos isso para uma plataforma online, mas não é igual. Na reunião presencial ganhamos mais intimidade. Temos pessoas que entraram no grupo nesse ano.

Outro ponto negativo é a mudança de premissa do negócio. O Vasco não está fora do contexto econômico mundial. Na Europa, por exemplo, vários clubes estão liberando jogadores. E isso afeta diretamente o nosso mercado. Estão reduzindo quadros, como todas empresas estão fazendo. O contexto macroeconômico mudou significativamente. E nós tivemos que ajustar o projeto nos últimos três meses. 2020 é um ano atípico. Nós vamos assumir o clube em 2021 carregado com o passivo de 2020. Queda de faturamento, aumento de custos, revisão da matriz de negócio... isso impacta no patrocinador, na bilheteria, nas ações internas de consumo.

Ainda tem a questão do desemprego. Já são mais de 13 milhões de brasileiros na rua. Óbvio que isso atinge uma parte dos sócios e torcedores do Vasco que consomem. Qual é o buraco de 2020? Ninguém sabe. Quem disser que sabe está mentindo. Ainda mais no Vasco, que não coloca isso claramente. O próximo balanço só será publicado pela próxima gestão, em 2021. Então, fizemos três cenários. Todos ruins, piores do que tínhamos em março. Mas tem um otimista, um conservador e um mediano. E a partir daí fizemos o processo.

É a terceira vez que o senhor vai tentar a presidência do Vasco.

- Nós temos uma missão, que é tocar esse projeto no clube. Temos a convicção de que é um projeto transformador, que mudará o clube de forma permanente. Quem vier depois de nós assumirá um clube muito diferente do que é hoje. Não somente pelo ponto de vista do resultado financeiro, mas da gestão.

Toda gestão melhora o clube de alguma forma, traz algo positivo, todas gestões fizeram. Mas não estamos falando disso. Estamos falando de mudar a forma como o clube foi gerido até hoje. Isso não aconteceu. O que o Campello fez foi manter o que sempre foi feito. Melhorou um pouquinho, assim como outras coisas pioraram. O Eurico entregou o Vasco na Libertadores (2018). O que de fato mudou no clube, no ponto de vista de gestão?

Mas é possível transformar o Vasco com o atual cenário político do clube?

- O Vasco não é uma empresa, é um clube de futebol, sem fins lucrativos. Tem uma dinâmica política. A política faz parte do ser humano. É normal. Não é um problema, é importante, parte das relações sociais.

Precisamos fazer boa política, que é usar o discurso transformador, que o sócio e os torcedores querem, para pressionar a mudança dentro do clube. Desde 2014 temos feito isso. Fizemos o movimento de fora para dentro. Quem estava dentro não queria mudança, como não quer até hoje. O sistema reage a nós, não quer mudanças e reage à Sempre Vasco. Isso é fato. E o que aconteceu em 2017 é a materialização mais concreta disso. Ele (o sistema) coopta terceiros para se manter vivo. Foi o que aconteceu com Campello. O Eurico era uma figura do sistema, assim como o Campello. Ele é antagônico ao que queremos. E eu não vejo o Vasco crescendo, da forma que queremos, sem o sistema ser confrontado. É como água e óleo. Não se misturam.

Mas o Campello foi seu aliado em 2017...

- É só vocês pegarem o discurso dele em 2017. O que ele fez como prática daquele discurso. Absolutamente nada. Falar com a obra pronta é fácil. A união daquela eleição não foi fácil, não foi unânime no grupo. Houve uma votação difícil. Eu fui contra, por exemplo.

Mas por outro lado tínhamos uma necessidade, por conta da fraude, de consolidar votos. Existia um entendimento por parte da torcida de que era necessária a união. Mas fica claro que a união não pode acontecer por conta de fisiologia, mas pelo projeto. É difícil explicar isso sem soar arrogante, fica parecendo que queremos ficar sozinhos. Mas não é isso. Quando existe um conflito de visões muito forte, o resultado da união não é bom. A filosofia tem que ser muito clara. Tanto que deixamos isso muito claro para os nossos grupos de apoio hoje. E todos têm o mesmo entendimento, tudo está muito alinhado em termo de projeto.

O objetivo daquela união com Campello foi derrotar o Eurico?

- O objetivo não era tirar o Eurico. Era quebrar o sistema. Se fosse só para tirar o Eurico, eu estaria em casa hoje. O Eurico era parte disso. A parte que aceitou ser exposta. O cara que aceita botar a cara. Como o Campello. A maioria não aceita, faz e fica constrangido, na sombra. Por trás deles existe uma galera. E cada vez fica mais fácil de ver. Na votação do estatuto, colocamos o item para que conselheiro que votasse não pudesse ser remunerado ou contratado pelo clube, você viu quem reagiu. É um instrumento de poder de quem usa o orçamento do clube para ganhar voto. É um absurdo, um conflito de interesse brutal.

Hoje o senhor considera que foi um erro ter feito a aliança com Campello?

- Não vida é difícil você ter um preto e branco muito claro. Teve erro, mas a decisão foi certa e errada. Por quê? Ela foi certa pelo movimento jurídico na questão da eleição, mas foi errada por um erro nosso de ter feito uma escolha por um grupo que não comungava dos nossos valores ideológicos. Dessa vez já decidimos. Se for o caso, vamos deixar a eleição de lado. Vamos escolher a ideologia e a filosofia, que são mais importantes do que a eleição.

Qual foi o sentimento após a derrota em janeiro de 2018?

- Não me vejo como vítima. Ganhamos no voto, ganhamos a eleição do ponto de vista do sócio e, mais do que isso, conseguimos levar para o conselho, depois da nossa derrota, a pauta mais importante da história do clube: a eleição direta. Foi uma derrota, doeu, mas nos deu legitimidade e força política esse tema. Se não fosse por essa derrota, não teria acontecido. Como até o o último minuto tentaram sabotar a eleição direita. Essa derrota deu esse entendimento ao vascaíno, de maneira geral, da importância da eleição direta e nos deu força política dentro do conselho para aprovar essa mudança. Então perdemos, mas ganhamos.

A eleição direta é uma reivindicação do vascaíno. O rito usado para aprová-la gerou críticas da Diretoria Administrativa e do Conselho Deliberativo. O processo foi correto? Faués Cherene Jassus, o Mussa, presidente da Assembleia Geral, conduziu corretamente?

- Entendemos que a construção da eleição direta foi muito legítima e consistente. Ter eleição direta nada mais é do que colocar o Vasco no século XXI. O Mussa está seguindo rigorosamente o que foi aprovado. A eleição direta, a votação e a deliberação, foi convocada separadamente na Assembleia Geral. Foi o único tema que de fato foi aprovado seguindo todo o rito determinado pelo conselho. É inquestionável.

Alguns adversários, como o próprio presidente Alexandre Campello, alegam que Mussa tem sido muito parcial na condução do rito.

- Parcial? Claro que não. O Mussa é independente. Apoiamos a boa causa, assim como eles apoiam outras agendas. Acreditamos e temos convicção sobre a eleição direta. Sempre entendemos que o maior apelo do vascaíno é pela eleição direta. O fato de o Mussa estar seguindo o que foi aprovado no Conselho Deliberativo nos faz apoiá-lo. Assim como nas redes sociais, 90% dos vascaínos o apoiam. A Sempre Vasco não apoia o Mussa. A Sempre Vasco apoia a agenda que ele defende, que é eleição direta e limpa.

Uma das críticas se dá pelo fato de ele ter contratado uma empresa como pessoa física para realizar a AGE que aprovou as diretas. Sobre esse ponto específico, qual é sua opinião?

- Eu não tenho uma visão profunda sobre esse assunto, não participei. Mas é fato que a empresa fez a AGE e publicou um relatório independente. Olhando de fora, vejo que o Campello criou todas as dificuldades para que fosse feito o processo da eleição direita e que a AGE acontecesse. Acabava a luz todo dia em São Januário, todo dia a internet caía, todo dia fechava a secretaria, todo dia tinha um problema que impedia o Mussa de ter acesso a documentos... Todas as medidas que podiam ser feitas para atrapalhar a AGE foram feitas.

O senhor participou de outros dois processos eleitorais com a presença do ex-presidente Eurico. Como é participar de uma eleição sem ele?

- O Eurico representava um sistema. A minha briga nunca foi pessoal contra o Eurico. A minha briga era contra o que ele representava. Eu falei isso para ele, não tenho nada pessoal contra ele. Não tinha relacionamento com ele. Nós éramos contra o que acontecia no Vasco nos últimos 20 anos e que levou o clube à situação que está, do ponto de vista moral e esportivo. O Vasco não é só futebol. O Vasco é uma instituição poderosa que está vivendo uma crise que já dura 20 anos. E esse sistema foi o responsável por essa crise no Vasco. Éramos contra e continuamos sendo contra o sistema.

O que vem nessa eleição agora é o tira-teima entre Julio e Campello. É a transformação e a renovação contra esse sistema que existe no Vasco há 22 anos e que continua lá. Independentemente de o Eurico não estar mais lá, o sistema continua no Vasco. E é contra isso que vamos lutar.

Algumas correntes políticas dizem que a reforma do estatuto iria ajudar a mudar esse sistema. A Sempre Vasco foi contra...

- Fomos contra alguns pontos da reforma do estatuto e favoráveis a outros, como a responsabilização do gestor. Somos plenamente favoráveis à eleição direta, eliminação do conflito de interesses do conselheiro que assume cargo na gestão e mesmo assim vota no Conselho. Mas o nosso entendimento era que o processo político, que levou a essa reforma, não era o melhor.

É simples. Como foi um processo confuso, é melhor deixar que o próximo presidente, eleito em uma votação menos complicada do que foi em 2017, devido à situação do golpe, conduza esse processo da reforma. Ninguém mais legitimado para conduzir isso do que o presidente eleito de forma direta pelo sócio.

Caso o senhor vença, quais serão suas primeiras ações?

- Nosso projeto não é um projeto de três meses. É evolutivo, um projeto de sete anos. Teve início em 2013, quando um grupo de executivos se juntou no IBMEC para estudar o Vasco. Foi feita uma pós-graduação, com professores de mercado, que capacitaram esse grupo nos assuntos Vasco e gestão.

De 2013 para cá, temos evoluído o projeto. Fomos o primeiro grupo que deixou a política rasteira de lado e colocou projetos em cima da mesa. O que muitos chamam hoje de moderno, a gente faz há sete anos. Eu particularmente sempre fui contra uma eleição de ataque, de tentar menosprezar seu oponente. Embora chegasse para nós todo tipo de informação negativa, nunca usamos nada.

Desenvolvemos uma metodologia de gestão. Primeiro pensamos numa reformulação completa, que envolve solidez financeira. O clube que não tem contas em dia não pode ter time competitivo. Não dá para cair no conto do vigário. Temos que ter muita austeridade financeira, que é ter cuidado com o dinheiro que entra e o dinheiro que sai.

O Vasco precisa vender, faturar, colocar dinheiro para dentro. E não falta oportunidade. O que falta é competência. O torcedor é avido a comprar. Não faltam exemplos. Sócio-torcedor é um exemplo, agora lançou a camisa e teve a maior venda da história da Kappa. E o que o Vasco faz para isso? Absolutamente nada. O que faz é o óbvio que é lançar a camisa. Precisamos trabalhar uma gestão comercial que maximize esse potencial do Vasco.

O senhor falou em time competitivo, mas o Vasco hoje tem problemas para pagar salários. Como pretende formar um grande time?

- Como você vai ter um time competitivo se não paga salário em dia? E é mais do que isso. No futebol de hoje você precisa ter estrutura. O jogador é um elemento dessa equação. O papel do diretor executivo é o de mergulhar na estruturação do departamento de futebol. O meu papel como gestor é cobrar resultados e garantir que cheguem recursos para eles tocarem essa reestruturação. Primeiro vamos ter que saber qual é a real situação. Não tem como navegar sem saber para onde vamos. Tenho muitas dúvidas em relação aos números apresentados.

Agora, vamos montar um time competitivo. Fato. Vamos fazer. O nosso objetivo não é ter um clube bem financeiramente. Isso é meio. O objetivo é ter um time competitivo. O Vasco é um clube de futebol. Como se remunera um acionista de um banco? Dinheiro. E o do Vasco? Sendo campeão da Libertadores, por exemplo. Essa é uma promessa: o Vasco terá um time competitivo.

Como o senhor pretende aumentar as receitas do clube?

- Temos muitos projetos pontuais, mas temos alguns grandes projetos, que acreditamos serem transformadores desse ponto de vista comercial. O Vasco precisa faturar, vender, precisa ser uma máquina de vendas. O Vasco precisa ser o clube que mais vende no Brasil e não tem por que não ser. Nossa solução está dentro de casa, não está na Arábia.

Vamos trazer um parceiro internacional, que é um gigante da mídia espanhola (Mediapro), que faz tudo que você possa imaginar na área de conteúdo. Desde gestão de museus de Barcelona e Real Madrid até transmissão das principais ligas europeias. Além disso, eles têm uma área de inovação muito grande. Eles são líderes de eSports na América Latina.

Eles vão nos ajudar, por exemplo, a rever completamente o modelo da Vasco TV. De repente até criando um novo nome, revendo o modelo de negócio. Eu quero o vascaíno assistindo o dia inteiro à Vasco TV, consumindo e pagando por isso.

O Vasco tem que ser absolutamente tarado e psicótico em vender tudo. Mas para vender você tem que criar. Hoje o Vasco só vende mal o uniforme e existe um trabalho pequeno de correr atrás de patrocinadores. Muito pouco para o que o Vasco é. Tanto é que não paga as contas.

Mas como mudar essa situação de não conseguir o básico que é pagar em dia?

- Tem que ter um planejamento previsível. Não pode ser esse negócio de “Tem dinheiro? Não tem. Então não paga”. Isso é uma loucura. Que negócio é esse de “pingou”. Isso não existe, imagina isso no seu trabalho. Tem que ser constante. Tem que saber que o dinheiro vai entrar na conta no dia 5, faça chuva ou faça sol.

Quando você faz isso, você dá autonomia, empoderamento e moral ao diretor de futebol. O cara chega para o elenco e cobra que todos estejam no clube às 7h da manhã. Chegou atrasado, vai ser multado. Como você vai multar hoje se não paga salário? O cara vai rir da sua cara. Não existe transformação de nada sem solidez financeira.

Explique melhor a sua proposta de ter um Conselho Consultivo.

- É um grupo formado por cinco executivos tops, presidentes de grandes empresas, com um cara do futebol, que é o Edmundo (ex-jogador e atualmente comentarista). A atribuição desse grupo é trazer para a presidência uma visão estratégica ainda mais sofisticada. Eles não serão executivos do clube. Será um órgão de aconselhamento da presidência. Esse conselho já está trabalhando para todos os assuntos.

São cinco executivos, todos grandes vascaínos: Marcelo Gomes (presidente da Alvarez & Marsal), Leonardo Framil (CEO da Accenture e presidente da Accenture na América Latina), Nelson Sendas (empresário do setor de varejo e acionista do Grupo Pão de Açucar) e o Edmundo (o quinto integrante seria o próprio presidente do clube). Vamos colocar também os presidentes da Assembleia e do Conselho Deliberativo, para debatermos. Então teremos os pensamentos de empresas, político e do futebol. É o equilíbrio. Esse é o segredo.

Outra: o Vasco será um clube transparente. Parece óbvio, mas ele não é. Em 2017, falei do Vasco Marco Zero. Era para apresentar todos os dados aos sócios, para que ele entendesse os problemas do clube. Isso, no nosso caso, será colocado no dia a dia. Primeiro, o sócio será informado. Depois, o mercado. É como receber informações de um fundo de investimentos. Vai ser transparente e auditado. Essa é outra promessa de campanha.

E quais são os nomes para o futebol?

- Já temos uma estrutura. Tem o Edmundo na cúpula, o Felipe (ex-lateral-esquerdo) como diretor de futebol. Não tenho como abrir mão desses caras, que têm uma identificação com o clube. Isso é fundamental. Parece besteira, mas não é. O Felipe é o cara que tem mais títulos na história do Vasco. Não é pouca coisa. Além disso, os caras se prepararam para isso, são qualificados. Penso em ter um cara para uma função mais burocrática, para o Felipe, como diretor-executivo, ficar mais solto e perto do futebol.

Quais são os planos para São Januário?

- São duas coisas. Primeiro: independentemente de qualquer plano pirotécnico que venham a apresentar, São Januário precisa de uma reforma estrutural. Precisa de conforto. Acessibilidade. Precisa ser um estádio amigável para qualquer vascaíno que queira ir ao jogo. O deficiente visual, o deficiente físico, o cadeirante, o que tem deficiência auditiva, o vascaíno ou a vascaína que tenha filho pequeno e que precise trocar a fralda no meio do jogo. Todos têm de ter o direito de chegar ao estádio e ter o conforto necessário. São Januário tem de ser visto dessa ótica: acessibilidade. São intervenções pequenas, com custo relativamente baixo. Isso melhora a experiência no estádio.

A outra coisa é o estudo de mercado. Ou seja, queremos aumentar a capacidade pois temos público para isso. E, com isso, poderemos mandar jogos internacionais. Só que o Vasco, na minha opinião, tem de jogar no Maracanã também. Trata-se de um equipamento nacional e de projeção internacional. É a cara do Rio. Então, o Vasco não pode abrir mão de jogar lá. De colocar 80 mil pessoas. Não vamos reformar São Januário para 80 mil. Temos essa vantagem: de jogar no Maracanã e em São Januário lotando os dois estádios a depender do jogo.

Precisamos, então, balancear a oportunidade comercial e o institucional. É questão de mostrar grandeza e, ao mesmo tempo, ter uma casa que é um caldeirão. Isso precisa ser gerido. O Vasco cansou de lotar o Maracanã, até na Série B.

E qual é o plano para ampliar São Januário?

- Lançamos esse projeto em 2014. Melhoramos em 2017. Não temos problema com outros projetos. Se for melhor, vamos abraçar. O nosso compromisso é o melhor para o Vasco. Esse do Campello é parte do nosso. Nós trouxemos a empresa, aliás. É um bom projeto, sem dúvida, assim como tem outros. Eu não vi todos. Não acho que um candidato iria apresentar um projeto ruim. Cada um do seu jeito, quer apresentar o melhor ao clube. Pela primeira vez, a campanha é sobre debate de projeto. É algo que a gente sempre quis fazer. Desde 2014. É bom para o clube e para o sócio, que poderá escolher o que entende ser melhor.

O nosso projeto é maduro. Visto e revisto. Em 2017, desenvolvemos parceria com lojas âncoras. Para ser uma parte do financiamento. Fechamos isso. A região precisa, é carente de comércio e de um mix de lojas. Estudamos isso, ali falta um shopping. O mais próximo é na Tijuca. A ideia é ter um fluxo constante de venda, não só no dia de jogo. É para vender sempre. Assim, o faturamento aumenta. As datas do varejo precisam ser aproveitadas pelo Vasco. É preciso que se mude a forma de pensar. O nosso projeto prevê a inserção do entorno comercial no clube. Não é só o torcedor, é o público todo. É um equipamento para a sociedade em geral.

Nas campanhas anteriores, a sua vida profissional foi tema. Alguns adversários questionaram qual é o seu trabalho. Afinal, qual é a sua formação e sua atuação?

- Eu sou formado em Jornalismo, pós-graduado em Administração de Empresas na Universidade de Lisboa, em Portugal. Eu me especializei em gestão após vários cursos executivos. Fui jornalista de redação, mas não era para mim. Eu fiz um projeto para o jornal O Dia chamado Estágios e Carreiras, um suplemento. Aquilo me abriu as portas para um monte de coisa, entrevistávamos um monte de executivo. E aquilo me fez mudar.

Fui chamado pelo Bozano Simonsen para trabalhar na área de comunicação do banco. Quando fui, mudei de vida. No jornal, trabalhava ainda na madrugada fazendo ronda policial. Eu trabalhava ainda na Ultralar, uma loja de departamento. Ficava destroçado. No banco, então, mudei de vida.

No banco, fui para uma start up. A Invest Shop, a primeira corretora online de investimentos. Em 1999. A coisa andou, não deu certo e surgiram oportunidades. Passei pela HSM, uma consultoria de gestão em São Paulo. De lá, recebi uma proposta para ir para o marketing da Vale do Rio Doce. Lá, desenvolvi a minha carreira internacional. A Vale recém tinha sido privatizada. Fui para China, Índia, Coreia... Posteriormente, recebi uma proposta para trabalhar na Diretoria Internacional da Odebrecht. Ainda era meio comunicação, meio institucional. Rapidamente, mudei para a área de negócios. Fui para a África, em Moçambique, cuidando de uma série de clientes da área de mineração e óleo e gás.

Depois, na Andrade Gutierrez, ocupei a presidência de uma empresa comprada em Lisboa. Tinha 35 anos, tudo aconteceu muito rápido. Logo em seguida, o Edmundo me convidou para pensar um projeto no Vasco. Então, fiz a opção de voltar ao Brasil. Meu filho morava aqui, eu tinha me separado. Depois da eleição de 2014, saí da Andrade Gutierrez. E, logo depois, fui convidado para ser diretor de uma empresa suíça no Brasil, que trabalha na área de tintas de segurança. Isso foi 2015. Essa empresa me convidou para fazer uma reestruturação e criação de nova empresa com novo conjunto societário, que é a empresa em que eu estou hoje: a Ceptis. Lá, sou um pouco de tudo. Diretor estatutário, responsável pela comunicação, negócios, jurídico...

Essa empresa trabalha no segmento de segurança das tintas de documentos. A tecnologia é única. Não há concorrente. Essa tecnologia é empregada em documentos e dinheiro. No Brasil, a gente licenciou a tecnologia dessa empresa suíça. Temos a licença de operação. Eu sou o executivo da empresa, não sou o dono. De cada dez notas no mundo, nove usam a nossa tecnologia. Exemplo: se você vai comprar um refrigerante em uma máquina, ela usa a nossa tecnologia para ler a nota e dar troco. Atuamos ainda em passaportes, rastreabilidade e autenticidade de outros produtos como relógios, por exemplo.

Fonte: ge
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