O dia não era de jogo, mas Juninho Pernambucano vestiu a braçadeira de capitão. Diante do microfone, chamou a responsabilidade para falar sobre o momento do Vasco, que entrou na zona de rebaixamento após duas derrotas consecutivas no Campeonato Brasileiro – a última no domingo, por 2 a 0 para o São Paulo. Em pouco mais de 30 minutos de entrevista coletiva em São Januário, na manhã desta segunda-feira, o jogador de 38 anos deixou claro que, neste momento, a preocupação é escapar do perigo e admitiu a influência da crise financeira do clube no dia a dia dos atletas.
Juninho pediu desculpas à torcida em nome de Diogo Silva, que criticou o comportamento do público após a derrota do último domingo, mas pediu que o apoio da torcida não termine para que o Vasco consiga retomar um rumo positivo no Campeonato Brasileiro.
Momento atual
A realidade hoje é fugir do rebaixamento, é brigar para não ficar entre os quatro últimos, temos que assumir isso. Faltam 17 rodadas e a cada uma delas a mudança na tabela pode ser grande. Mas se hoje somos o 17º colocado, não temos como dizer que vamos estar entre os quatro primeiros. Para mim, ficar em quinto ou em 16º, não tem diferença nenhuma. Terminar entre os quatro últimos seria uma tragédia grande para o clube. Vivemos isso, que é uma experiência ruim. Mas o campeonato tem 38 rodadas, e não temos direito de reclamar se ficarmos entre os quatro últimos. A competição é justa, pois todos disputam o mesmo número de partidas. Falei de rebaixamento porque estamos em 17º, mas não estou assumindo que vai acontecer. Uma vitória nesta quarta pode nos tirar dessa zona de desconforto.
Comportamento do time
O que mais incomoda é a situação na tabela. Não considero que estávamos jogando mal até o primeiro gol do São Paulo. Quando o adversário marca primeiro, nossa segurança faz com que não haja tanta força para reagir. Não acredito que tenhamos feito jogos ruins. Temos condições de vencer qualquer adversário, mas existe perda de confiança, dúvida, oscilação...
Influência da crise financeira
Isso atrapalha muito e é muito falado no vestiário. Acaba fugindo do objetivo final, que é ganhar as partidas. Isso é falado diariamente, sempre alguém comenta que a situação para uns é mais difícil do que para outros e a mensagem chega para os mais velhos com mais frequência. Para exigir o máximo é preciso dar a melhor condição, e salário é sagrado. Mas desta vez sinto que a diferença é que a luta é muito grande para que a penhora de 100% não exista mais. Faltam 15 dias para completar o terceiro mês de atraso, e é arriscado para o clube. A gente torce para uma solução final, para que as coisas fluam e ao cobrança seja feita naturalmente. Continuamos dando crédito de confiança para resolver o mais rapidamente possível. O Ricardo está bem presente e tentando segurar o máximo. Mas também não é isso que nos fez ficar em 17º, porque não tem faltado empenho.
Comprometimento
O time campeão de 2011 não era tão comprometido como esse. Acho que perdeu aquele Brasileiro ao ser goleado pelo lanterna. O time atual é mais comprometido, com diretoria e comissão técnica mais abertos ao diálogo. Ontem, por exemplo, ficamos aqui no clube conversando até mais tarde. No grupo de agora talvez falte um pouco de talento em relação àquele. Talvez falte poder de reação, de acreditar, de sorte... não são o ideal para uma equipe que queira disputar posições mais altas na tabela.
Críticas da torcida
Não acho que a torcida tenha atrapalhado no domingo, até teve paciência. Ela tem direito de cobrar, mas que seja depois da partida. Entendo que a torcida não aceite certos jogadores, mas são eles que vestem a camisa do clube hoje. A gente concorda que jogar no Vasco não é fácil e que o nível de impaciência dos torcedores do Vasco é maior pelo que aconteceu nos últimos anos. Mas é assim. Não se pode querer mudar as coisas se os resultados não vêm.
Diogo Silva
É difícil lidar com essa situação. O atleta às vezes tem dificuldade de se expressar e fazer uma análise mais calma. Talvez fosse melhor ele ter esperado um pouco mais e pensar. No fundo a gente sabe que o jogador vai passar e que a torcida é o maior patrimônio do clube. É ela quem define quem vai tomar conta e quem faz pressão para escalar os jogadores que quer. É uma situação nova para o Diogo e não acho que deva ser massacrado ou culpado, mesmo tendo falhado no segundo gol. Antes disso, fez defesas importantes. Aconteceu com o Alessandro, o Michel teve sua chance e agora é o Diogo. Agora tem gente que quer ver o Jordi. Com todo o respeito, conquistar uma Taça BH não é o mesmo de disputar um Brasileiro. Futebol não é brincadeira. Peço desculpas por ele perante o torcedor. Falou aquilo porque não conseguiu se expressar da melhor maneira.
Apoio dos vascaínos
A torcida do Vasco tem o costume de dizer que o sentimento não para. Gostaria de pedir para não parar, porque assim começaríamos 2014 numa situação muito complicada. Eu também não gostaria de terminar minha carreira nessa situação.