Aos 30 anos, Antônio Augusto Ribeiro Reis Junior coleciona títulos e se considera realizado. Mais conhecido como Juninho Pernambucano, o meia revelado pelo Sport, e que deixou saudade em São Januário, atualmente faz história no Lyon, da França. O auge de sua carreira, no entanto, está próximo de acontecer neste ano, quando deve disputar sua primeira Copa do Mundo. O meia diz se contentar em estar praticamente garantido entre os convocados, mas ainda sonha com uma vaga entre os titulares, de preferência de segundo volante. Com jeito mais mineiro do que pernambucano, Juninho prefere alcançar a meta sem alarde: \"Nunca consegui assumir esse papel de ídolo\", revelou, admitindo ter dúvidas sobre se este traço de sua personalidade é positivo ou negativo.
Você tem mantido uma regularidade desde 1997, brilhando por onde passa. É difícil ficar na reserva, mesmo que seja a da Seleção Brasileira?
- Antes de qualquer coisa, já estou orgulhoso de me considerar parte do grupo dos 23 que vão à Copa. O Brasil é o país que mais tem valores individuais. Temos os melhores em praticamente todas as posições. É claro que quero jogar, mas não me incomoda o fato de ainda ser reserva.
Você disse ainda. Acha que isso pode mudar até a Copa?
- Não sou um jogador que chega e logo se destaca como o melhor do time. Aos poucos, vou me tornando essencial para o grupo. Na verdade, nunca consegui assumir esse papel de ídolo. Não sei se é bom ou se um dia lamentarei, mas sou assim. Na Seleção, tenho consciência de que preciso fazer mais. Mas acho que tudo tem sua hora. Quem sabe na Copa...
Você acredita que foi esse comportamento que o fez jogar por apenas três times em 12 anos de carreira?
- É um dos motivos. Realmente acho que vou melhorando com o tempo, fico mais confiante, rendo melhor depois de totalmente adaptado. Mas tem outra razão: eu gosto de fazer história nos clubes em que jogo. Só com o tempo isso pode acontecer. Aqui no Lyon, por exemplo, quando cheguei o clube nunca tinha vencido o Campeonato Francês. Hoje somos tetracampeões. Se vencermos este ano, seremos o primeiro clube da França a conquistar o penta. Acho que posso vir a ser considerado o principal jogador de toda a história do clube. Na lista dos 100 gols mais bonitos da história do time, tem uns cinco meus, incluindo o número 1, que marquei contra o Marseille, na temporada 2004/2005. Isso é muito importante. Meu objetivo é fazer história elevando o nome do time ao máximo.
Você se sente frustrado por nunca ter disputado uma Copa do Mundo?
Em 2002, acredito que eu tenha perdido a vaga porque fiquei um bom tempo parado por contusão em 2001. Quando fui convocado para a Copa América, ainda não estava no melhor da minha forma. Depois da competição, que foi catastrófica (o Brasil foi eliminado com uma derrota para Honduras), não tive mais chances. Sei que tinha plenas condições de fazer parte daquele grupo, mas não ficou mágoa. Já passou.
Nas últimas Copas vimos atletas chegando como reserva e ganhando seu espaço. Foi o caso de Mazinho, em 94, Leonardo, em 98, e Kléberson, em 2002. É a sua vez?
- Espero que se repita. O Parreira sabe que pode contar comigo. Mas o que quero mesmo é ser campeão. Estou me preparando muito para a Copa, quero estar pronto para as oportunidades. Se eu for titular, melhor ainda, mas o importante é que todos pensem no resultado final, que é o título.
Essa mentalidade é a fórmula da sua carreira de sucesso?
- Posso dizer que minha carreira poucos conseguirão igualar. Por onde passei conquistei títulos e joguei bem. Estreei pelo Sport em 94 sendo campeão pernambucano e eleito o melhor jogador. No Brasileiro, também fomos muito bem, goleamos times grandes e acabei contratado pelo Vasco, onde ganhamos muita coisa. No Lyon também
foi assim. Além de muito treino, muito trabalho, acho que o fato de eu pensar no grupo mais do que no individual pode ter contribuído muito sim.
Você atuou como substituto do Ronaldinho Gaúcho em alguns jogos da Seleção. Como prefere jogar?
- Não tenho problema nenhum em jogar na posição do Ronaldinho, apesar de não ser assim que eu atuo no Lyon. Estou pronto para jogar onde o Parreira quiser. Mas minha preferência é atuar como segundo volante. É onde me sinto melhor.
Você levou o Lyon ao tetracampeonato francês, sendo sempre um dos líderes e melhores jogadores da equipe. Dificilmente seria reserva de outra seleção que não a Brasileira. Acha que fazer parte de uma geração tão talentosa quanto a atual é, de certa forma, uma falta de sorte?
- Pelo contrário. Jogar com Ronaldinho, Ronaldo, Kaká e todos os outros é um privilégio. O contato com eles me fez crescer e ainda fará mais. Não tenho do que reclamar.
Você ficará no Lyon até 2008. Pretende encerrar a carreira logo depois? Em qual clube?
- Depende de como eu estiver jogando. Vou ter 33 anos e, se estiver bem, pode ser que jogue mais. Hoje, meu foco é seguir conquistando títulos pelo Lyon. Por isso rejeitei propostas para sair, como a que recebi recentemente do Chelsea.
Pensa em voltar ao Brasil?
- Não sei se vou voltar, me acostumei com o profissionalismo europeu. Mas a paixão no Brasil é maior e, tecnicamente, o Brasileiro ainda é o melhor campeonato do mundo. E olha que eu acompanho as ligas européias de perto. Caso eu volte, Vasco e Sport seriam, sem dúvida, minha preferência.
Então há a chance de voltar ao Vasco?
- O Vasco e seus torcedores estão no meu coração. Foi o clube que me levou à Seleção e onde conquistei os mais importantes títulos do futebol brasileiro. E conquistei tudo no campo. Foram cinco anos e meio que ficaram na minha memória. Espero que o clube volte a brilhar forte.
Convivendo de perto com o Fred no Lyon, você apostaria na convocação dele para a Copa?
- Ele e o Ricardo Oliveira são dois grandes centroavantes, de força e muita qualidade. Espero que o Ricardo se recupere logo da contusão. Quanto ao Fred, está jogando muito bem, fazendo gols importantes. Mas quem decide é o Parreira.
Qual foi a maior tristeza de sua carreira?
- Sem dúvida, a perda dos dois mundiais pelo Vasco. No Japão (em 1998, contra o Real Madrid), tínhamos o jogo nas mãos. Estávamos melhores fisicamente, com o Felipe arrebentando pelo lado esquerdo... Era para termos vencido. Mas, felizmente, minha carreira tem muito mais conquistas do que decepções.
Quais conquistas foram mais marcantes?
- Tenho seis campeonatos nacionais (dois brasileiros e quatro franceses), uma Libertadores, uma Mercosul, um Rio-São Paulo, enfim, muitas conquistas. O gol que marquei na final do Brasileiro, contra o São Caetano (em 2000), e o de falta, contra o River, em Buenos Aires, na semifinal da Libertadores (em 1998), também marcaram bastante. É difícil escolher um ou outro momento. Me considero realizado.