As acusações ao São Paulo sobre o aliciamento nas categorias de base têm ganhado força nas últimas semanas e, apesar de o clube paulista negar todas elas, um dirigente que já trabalhou de perto com a diretoria tricolor garante que o roubo de atletas não só acontece, como também é incentivado pelo presidente Juvenal Juvêncio. René Simões, hoje diretor executivo do Vasco, foi diretor técnico das categorias de base do São Paulo por nove meses no ano passado e revelou ao ESPN.com.br que teve de passar até por algumas brigas internas para impedir que o aliciamento continuasse acontecendo quando ele estava lá.
Segundo René Simões, de fevereiro a novembro do ano passado, o São Paulo não teve nenhum caso de roubo de jogadores da base porque ele próprio não admitia isso e, quando acontecia, mandava devolver o jogador. Foi assim com Mosquito, um atacante formado no Vasco, que estava sem receber no clube carioca e chegou ao time tricolor sem que a equipe cruzmaltina tivesse recebido nada pelo jogador.
À época diretor técnico são-paulino, René não aceitou o atleta e ele acabou indo para o Atlético-PR em um imbróglio que só terminou neste ano, quando a equipe paranaense pagou ao Vasco R$ 750 mil para assinar um contrato profissional com o atacante.
Mas esse não foi o único caso em que René Simões foi contra o que acontecia nas categorias de base do São Paulo e, em conversa com o ESPN.com.br, ele revelou outra situação em que viu o próprio presidente Juvenal Juvêncio incentivar o aliciamento.
O que o São Paulo faz não é ilegal, mas é imoral. Quando eu estava lá, todos sabiam da minha forma de agir, então não acontecia muito. Mas eu lembro de um caso de um jogador do Cruzeiro que o presidente [Juvenal Juvêncio] queria e ele fez uma reunião comigo e com o Geraldo [de Oliveira, gerente da base]. O Geraldo falou sobre o código de ética que tinha sido combinado na CBF, mas o presidente disse: Futebol não é coisa para santinho, contou René.
Na própria entrevista coletiva que concedeu na última quarta-feira no Vasco, René citou rapidamente a mesma história para endossar suas críticas à forma como o São Paulo vem agindo nas categorias de base. Lamento profundamente a situação. O que acontece é que dois jogadores da Portuguesa foram levados pelo São Paulo. Um nascido em 2000 e outro em 2001. É um absurdo esse aliciamento.
Já não é de hoje que René Simões critica os trabalhos do São Paulo na base. O dirigente deixou o clube após ter tido muitos atritos com a diretoria nos meses em que ficou lá e, quando saiu, não quis detalhar os motivos pelos quais havia pedido demissão, mas deixou claro que a razão era justamente um desentendimento no clube com relação à filosofia de trabalho que ele queria implantar por lá.
Saio do cargo, deixo a missão, mas levo um pedaço de cada um dentro do peito, com o coração entristecido, com a cabeça erguida e com a alma limpa e serena do dever cumprido. Não havia como continuar, só sei trabalhar olhando dentro dos olhos. Dizer depois que: Eu sabia! É tudo que condeno num profissional, se o sei, o digo antes, depois não é importante, não resolve absolutamente nada. Saí na chuva, me molhei, me queimei, mas não aceitei viver em remorsos, escreveu o atual diretor vascaíno em um e-mail enviado aos seus companheiros de São Paulo após sua saída.
E principalmente depois da saída de René, a postura do São Paulo nas categorias de base passou a ser metralhada pelos outros clubes, que acusam a equipe tricolor de aliciar jogadores, seduzindo-os com ofertas de salários muito altos para a categoria e até fazendo propostas especiais diretamente para as famílias dos garotos. Vasco, Grêmio Prudente, Ponte Preta, Coritiba, Corinthians, Grêmio Osasco, Cruzeiro, Goiás e, mais recentemente a Portuguesa, são alguns dos times que reclamam de terem tido atletas roubados pelo São Paulo.
Os casos geraram até mesmo um grande protesto por parte de todos esses clubes nas próximas competições da base. Tanto na Copa 2 de julho, quanto na Taça BH dois dos torneios mais importantes da categoria as equipes condicionaram sua inscrição à não participação do São Paulo. O time do Morumbi, por sua vez, nega todas as acusações e diz que age dentro da lei com seus atletas.
O São Paulo vê com tristeza essas manifestações. O São Paulo age sempre dentro do que a lei prevê e sempre respeitando os outros clubes e observando a inexistência de agentes e intermediários nas categorias de base, disse Adalberto Batista, no CT da Barra Funda, na última quarta-feira.
Mais do que isso, o diretor de futebol são-paulino prometeu respaldo jurídico ao principal alvo das acusações dos clubes: José Geraldo de Oliveira, gerente de futebol da base do São Paulo.
As pessoas falam que o Geraldo alicia, Geraldo isso, Geraldo aquilo
O São Paulo deu respaldo e não só isso. Deu o corpo jurídico à disposição do Geraldo para qualquer acusação em relação à calúnia e difamação. O time vai tomar medidas porque são acusações levianas e que não fazem realidade dos fatos.