Quando se perde de forma avassaladora, como aconteceu com o Vasco nesta quinta-feira (19), geralmente dizem que é para esquecer. Equívoco. É para lembrar. E o que o Racing fez no El Cilindro, aplicando o 4 a 0, tem que ficar na memória deste grupo, diretoria e também torcida. Pois nesta noite, na Argentina, poucas coisas foram como são. Precisam voltar a ser. E outras, definitivamente, devem mudar.
O time perdeu três chances claras no ataque: duas com Wellington e uma com Wagner. A partir daí, tudo desandou. A começar por Zé Ricardo. Com um trabalho brilhante desde 2017, a partida contra o Racing foi um ponto fora da curva. Em algum momento o homem que "tira leite de pedra" ia errar. E a hora chegou. O comandante optou por Bruno Silva ao lado de Wellington e Desábato, jogando com três volantes. Um 4-5-1 que, antes da partida, presumia-se uma escolha para segurar o poderoso ataque do adversário. Não deu certo.
LADO ESQUERDO CAÓTICO
Desde o começo, Centurión e Saravia infernizavam Henrique pela esquerda. Mas Zé Ricardo, ao invés de colocar um dos volantes para cobrir e ajudar o lateral, encarregou Evander da função. Não deu outra: o camisa 10 ficou perdido. Fez um jogo ruim. Porém, neste caso, a culpa é mais de quem o coloca para desempenhar tal função do que ele mesmo, que não tem característica de marcação, principalmente com outros em campo que deveriam fazer a função. Como Desábato, que fez sua pior partida com a camisa cruz-maltina. Tem crédito.
MARTÍN SENDO MARTÍN
Dois dos quatro gols surgiram do lado esquerdo. Os três pênaltis (o primeiro inexistente) aconteceram no mesmo flanco. Se poucas coisas foram como Vasco são nesta noite, uma delas é Martín Silva, que pegou duas cobranças de Lisandro López. Foi quem se salvou, mesmo com a goleada.
OS EXPERIENTES QUE FORAM 'GAROTOS'
Erazo e Wellington, experientes e que já jogaram Libertadores, pareciam 'garotos'. O zagueiro, fora o pênalti infantil em Lautaro Martínez, em um determinado lance, deixou de finalizar dentro da área para reclamar de um possível pênalti. Inexplicável. O volante errou praticamente tudo o que tentou, além de ter originado em um passe errado o terceiro gol do Racing, que acabou com qualquer chance de reação do Vasco.
DESASTRE NÃO. MAS SIM ALERTA
Não está tudo errado. É preciso lembrar a realidade do Vasco. É necessário entender que esse grupo, muito profissional, convive com salários atrasados. Que Zé Ricardo, mesmo com a falha desta quinta, segue fazendo um trabalho de excelência e arrisco a dizer que, no mercado, não existe outro que conseguiria fazer metade. Limitações existem. O elenco precisa ser reavaliado pela diretoria. Clama-se por um 'camisa 9'. Não porque Ríos é ruim. Mas simplesmente por não ser '9'.
Mas não foi um desastre. Libertadores passa longe de ser obrigação. Foi um alerta. Quase ensurdecedor e doloroso para a torcida. Mas que tem que ser alto o suficiente para que o Vasco, como um todo, aprenda com as falhas e, inevitavelmente, lembre de ser como é para que, no restante da temporada, todos os erros sejam transformados em êxito. É possível, mesmo que a maior competição da América fique cada vez mais distante.