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Laudo do IML mostra que tiro em Sendas não foi acidental

O laudo cadavérico do empresário Arthur Sendas, morto aos 73 anos na noite de domingo em seu apartamento, no Leblon, desmonta a versão do motorista Roberto Costa Júnior, de 28 anos, de que o disparo foi acidental, segundo o delegadosubstituto da 14ª DP (Leblon), Rafael Menezes. De acordo com o laudo do Instituto Médico-Legal (IML), assinado pela legista Lídia Magalhães Cordeiro Resende, o tiro decepou o dedo indicador da mão esquerda de Sendas antes de atingir-lhe o olho esquerdo. Segundo o delegado, o ferimento no dedo indica uma lesão defensiva, ou seja, o empresário tentou se proteger do tiro pondo a mão no rosto.

Tiro foi dado a curta distância A bala da pistola Taurus PT 380, série KZJ 17234, atravessou o crânio da vítima, saindo próximo ao lado esquerdo da nuca.

Isto, de acordo com a polícia, indica que o tiro foi dado de cima para baixo e a curta distância.

Ontem, o advogado da família Sendas, Nilo Batista, levantou a hipótese de que o crime foi encomendado.

Ele entende que ninguém vai pedir dinheiro ao patrão com uma pistola automática com bala na agulha e o cão puxado. Batista disse temer pela vida de Roberto que, na visão do advogado, pode ser morto como “queima-de-arquivo”.

— Temo pela vida dele. Só posso dizer até agora que ele sabia que não ficaria desempregado — disse, referindo-se ao fato de João, neto de Arthur Sendas, para quem Roberto dirigia, ter-se mudado temporariamente para os Estados Unidos.

Para o delegado Rafael Menezes, a investigação está concluída: — Pelo depoimento da empregada, não houve diálogo.

Ela disse ter aberto a porta para Roberto entrar. Em seguida, a vítima chegou na cozinha e ela foi para seu quarto. Quando pisou no quarto, ouviu o tiro — contou Menezes.

O motorista foi indiciado por homicídio qualificado por motivo fútil, crime considerado hediondo e que prevê pena de até 30 anos. O advogado Alexandre Félix, que defende Roberto, disse que seu cliente se negou a prestar depoimento formal porque estava cansado depois de passar duas horas sendo interrogado informalmente pelo delegado José Alberto Pires Lage, titular da 14ª DP: — Não vou pedir hábeascorpus agora. Somente em duas semanas. O garoto diz que foi até o patrão e que houve um desentendimento entre os dois. A arma caiu, ambos se agacharam para pegá-la e ela disparou acidentalmente.

Roberto Costa, que está com o nome no Serasa, no SPC e com mensalidades da escola do filho de 3 anos atrasadas, ficou 16 minutos no edifício Juan Les Pins, na Avenida Delfim Moreira, no Leblon. A polícia teve certeza disso ao ter acesso às imagens do circuito interno de TV da segurança do prédio. O motorista chegou ao local às 23h51m e deixou o edifício à 0h07m.

O pai de Roberto chorou com a família da vítima. O motorista Roberto Costa, que trabalhava com o empresário há 28 anos, ficou chocado não só com a morte do patrão e amigo, mas também com o envolvimento do filho no caso. Ele deve continuar a trabalhar com a família, dirigindo para a viúva do empresário, Maria Ablen Sendas.

— Desde o momento que soube da morte no hospital até a tarde de segunda-feira, Roberto ficou no apartamento da família, chorando e recebendo apoio. Ele nem consegue falar sobre o que aconteceu. Mais que um motorista, Roberto é um homem de confiança, que cuidava muito bem do “seu” Arthur.

Vai continuar com a família, dirigindo para a viúva — contou o relações-públicas do grupo Sendas, Paulo de Castro.

Sobre a caixão, os símbolos do comércio e do vasco Entre as centenas de pessoas que participaram ontem do velório e do sepultamento do corpo de Arthur Sendas, o sentimento era de incredulidade.

Parentes, empresários e funcionários tentavam entender os motivos do crime.

— Não dá para aceitar, não dá para entender, só o tempo vai ajudar a gente. Não tem sentido, meu pai era uma pessoa extremamente justa — lamentou Nelson Sendas, um dos filhos do empresário e diretor comercial do grupo.

Mais de mil pessoas foram ao velório de Sendas e à missa de corpo presente ontem de manhã, celebrada pelo bispo-auxiliar do Rio, Antônio Augusto, na Igreja de São Judas Tadeu, no Cosme Velho. A igreja, que tinha 280 coroas de flores, foi escolhida pela família porque o empresário era devoto do santo das causas impossíveis e colaborava com a paróquia. Sobre o caixão, as bandeiras de duas paixões dele: o Vasco da Gama e a Associação Comercial do Estado do Rio de Janeiro.

Fonte: O Globo
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