Leandro Castan, com tanto a dizer, ficará em silêncio. Pelo menos enquanto parte da dívida que o Vasco tem com o elenco não for paga. Com isso, o zagueiro não deverá dizer o que representará alcançar quinta-feira, contra o ABC, pela segunda fase da Copa do Brasil, 400 jogos na carreira.
Não dirá o que significa a marca em um jogo importante, dentro de um Maracanã que promete receber bom público - a última atualização divulgada pelo clube, de segunda-feira, aponta público de no mínimo 25 mil torcedores. Também não terá a chance de explicar a dificuldade que foi alcançar este número, depois de correr o risco de abandonar a carreira.
Porque Leandro Castan não se esquece, nem teria como, do tumor no cérebro que o afastou do futebol em 2014. Tudo corria bem na Roma, a celebração pelos 300 jogos como profissional ainda estava fresca na memória quando ele entrou em campo pela 302ª vez, contra o Empoli. Jogou 45 minutos e foi substituído. Vivia tendo tonturas e enjoos. Ao fazer exames mais aprofundados, teve o câncer diagnosticado.
Daquele momento dramático até hoje, passaram-se seis anos e 97 partidas. Em outras palavras: se não fosse pela doença grave, talvez estivesse completando não 400, mas 500 jogos, alguns pela seleção brasileira sob o comando de Tite, com quem foi campeão da Libertadores no Corinthians. Não será possível que Leandro Castan comente o que essa perspectiva de carreira sem a doença significa para ele. Não agora, porque em entrevista para O GLOBO em fevereiro de 2019, comentou:
- Teve um tempo em que lamentei bastante, via que jogavam zagueiros que não eram melhores que eu, mas eu não conseguia recuperar a posição. Saber que havia equipes da Inglaterra que me queriam, que poderia ter uma história maior pela seleção, mas isso passou.
Diante da imprensa, Leandro Castan não comentará como tem sido para ele, capitão e líder do elenco, administrar o descontentamento do grupo com os atrasos de salários no Vasco - á dívida corresponde aos meses de dezembro, janeiro, parte do 13º, férias e seis meses de direitos de imagem. A decisão de os jogadores não darem mais entrevistas como forma de protesto passou por Castan, que por muito tempo trabalhou como bombeiro.
Ele também não poderá dizer qual é o significado de chegar a essa marca com a camisa do Vasco, onde já virou referência para os torcedores. Clube que em breve se tornará o terceiro que ele mais defendeu na carreira, atrás apenas de Corinthians e Roma. Silêncio.
Jogos de Leandro Castan por cada clube na carreira:
Atlético-MG - 41 partidas
Helsingborgs (Suécia) - 7 partidas
Grêmio Barueri - 66 partidas
Corinthians - 111 partidas
Seleção brasileira - 2 partidas
Roma (ITA) - 81 partidas
Torino (ITA) - 14 partidas
Cagliari (ITA) - 14 partidas
Vasco - 63 partidas