Futebol

Lições dos livros inspiram Dorival

Rio - Leitor voraz, do tipo que devora quatro obras ao mesmo tempo, o técnico Dorival Júnior aumentou ainda mais a sua enorme coleção de livros nos últimos dez meses. Nem mesmo a rotina pesada de treinos e jogos da Série B impediu que ele lesse mais de 20 obras desde que assumiu o comando do Vasco. De cada uma delas, extraiu uma reflexão, uma história para passar aos jogadores, na jornada que culminou na conquista da vaga na Série A.

Para falar sobre sua paixão pelos livros, o treinador conversou com o ‘Ataque’ numa livraria. Dos bastidores da conquista do acesso ao seu futuro, Dorival revelou que pretende ficar no Vasco em 2010, mas que seu objetivo no momento é conquistar o título da Série B.

Ao percorrer as estantes da livraria, o técnico apontou obras já lidas, contando suas histórias. Três chamaram a atenção, os que leu na semana que antecedeu o acesso: ‘O Vendedor de Sonhos’, de Augusto Cury; ‘A Menina que Roubava Livros’, de Markus Zusak; e ‘Guardião de Memória’, de Kim Edwards.

As obras abordam temas como superação, capacidade de enfrentar desafios e o poder das escolhas. Reflexões que ele repassou a seus comandados durante o ano. “É um mundo à parte. Você viaja sem sair do lugar, leio sempre durante as viagens. É um voo solitário, que traz tranquilidade e conhecimento”.

O treinador usou temas de ‘O Vendedor de Sonhos’ em algumas preleções. “Nossa vida é marcada por desafios e conquistas. Quem fica marcado no clube é o que conquista. E, para conquistar, você precisa vencer obstáculos e se superar”.

Um dos exemplos de superação utilizados por Dorival partiu do maior rival vascaíno: a volta por cima de Petkovic no Flamengo. “Ouvi o Pet dizer que foi buscar forças para mostrar para muita gente que ele tinha capacidade de jogar em alto nível. Mostrei ao grupo que, se você tem um objetivo,tem que ter essa motivação especial\".

Dorival descobriu ainda pequeno o mundo dos livros. “Li ‘O Pequeno Príncipe’ com oito anos, ganhei da minha tia”, lembra. Na escola, encantou-se com o lirismo de ‘A Moreninha’, de José de Alencar. Na maturidade, conheceu as obras espíritas. “Li muito Chico Xavier”.

Ao pegar novamente na estante ‘O Vendedor de Sonhos’, Dorival foi questionado se não teria vendido sonhos para mais de 10 milhões de vascaínos durante a temporada. “É uma grande responsabilidade vender sonhos, ainda mais para uma torcida como a nossa. Mas, na realidade, a gente sempre vende alguma coisa”.

O hábito da leitura também contribui para o jeitão tranquilo de Dorival, fundamental na relação com o elenco. “Você pode alcançar resultados sem agredir ninguém. Você tem que tomar atitude, aí doa a quem doer, mas sempre com respeito. Isso vai criando uma credibilidade em relação ao grupo”.

Entrevista com Dorival: ‘Eu queri ficar no ano que vem\"

Qual foi o momento mais difícil do Vasco para a conquista do acesso?

— O Vasco não teve um momento difícil este ano. Tivemos uma série de empates, mas perdemos cinco jogadores importantes naquela época. Achei normal, porque sabia que a equipe se reencontraria. Fiquei contente, porque precisei usar alguns garotos que responderam bem.

Não teve nenhuma noite mal dormida?

— Teve o jogo contra o Figueirense. Depois daquela partida, eu fiquei muito chateado com o que vi. Não pelas vaias do torcedor, porque fui jogador e sei que isso é normal, mas fiquei triste pelo que a gente deixou de produzir. Senti aquele dia que tínhamos jogado muito abaixo do que podíamos.

Durante a competição, o Vasco não pôde utilizar a mesma escalação duas vezes seguidas. Isso valoriza ainda mais a conquista da vaga?

— Quando perdemos seis jogadores importantes (Carlos Alberto, Nilton, Jéferson, Fernando, Tiago e Elton), não me preocupei. Às vezes o prejuízo de um proporciona a chance de outros aparecerem. Em nenhum momento tivemos a equipe inteira, e mesmo assim as coisas foram caminhando. Quem entrava jogava bem.

Um dos segredos do Vasco é o ambiente?

— O ambiente é muito sadio, existe uma amizade grande entre os jogadores e comprometimento. Não tem onda, nem panelinha. Nesses cinco anos, foi um dos melhores grupos em que trabalhei.

O Vasco te deu muita visibilidade profissional. Você vai ficar no clube no ano que vem?

— Em termos de visibilidade, o clube me deu uma condição diferenciada. Trabalhar no Rio de Janeiro e em São Paulo é realmente diferente. Estou muito contente com esta oportunidade de trabalho no Vasco. Eu quero ficar no ano que vem, mas não sei a ideia deles, o que vai acontecer.

Como você sente a sua evolução como treinador?

— Eu sempre estou aprendendo. Sei que tenho muita coisa para melhorar, mesmo assim sinto que minha evolução está acontecendo de uma maneira mais rápida do que eu esperava.

Fonte: O Dia
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