Liderança, estratégia e personalidade. No comemorado empate em 4 a 4 com o Flamengo ontem no Maracanã, ninguém teve tanto protagonismo no Vasco quanto o técnico Vanderlei Luxemburgo, que saiu fortalecido interna e externamente do embate com o badalado técnico rubro-negro Jorge Jesus.
O "efeito Luxa" já teve doses precisas antes mesmo de a bola rolar. Nos dias que antecederam ao clássico, ele e sua comissão técnica se debruçaram em estudos sobre o rival e forneceram uma grande quantidade de material em vídeo para seus jogadores.
Partidas onde o Flamengo demonstrou erros em algum momento, com diante de Botafogo e Bahia, por exemplo, serviram de elementos para a montagem da estratégia.
Diferentemente do 4-3-3 adotado na maioria das vezes no Campeonato Brasileiro e, inclusive, na vitória do último domingo (10) por 3 a 0 sobre o CSA, Luxemburgo optou por um 4-4-2 clássico, com o experiente Guarín de meia e Marrony e Rossi de atacantes postados por trás dos volantes, algo que ganhou rasgados elogios.
"Estudamos o adversário. O que eu fiz foi uma coisa que não tinha visto ninguém fazer. Ele (Jorge Jesus) encolhe o Arão, abre os dois zagueiros (Marí e Rodrigo Caio) e adianta os laterais jogando. O que eu fiz? Matei os zagueiros para não terem conforto", explicou Luxa, para depois complementar: "Eu queria que os laterais deles passassem, que o Arão, que é um jogador que sabe sair jogando, se apresentasse para o jogo, porque iam tentar e iam perder a bola. Quando perdessem, eu teria as laterais".
Peça fundamental para que tal estratégia desse certo, Rossi foi só elogios ao treinador:
"Fico muito orgulhoso de ser treinado pelo professor (Luxemburgo). Ele foi sinistro! Fez uma excelente estratégia. Colocou eu e Marrony nas costas dos volantes", detalhou Rossi.
Luxa inflama vestiário com preleção
O ponto alto, porém, foi na preleção que antecedeu ao jogo. Com facilidade para motivar elencos, o treinador mexeu com os brios dos atletas vascaínos, chegando a emocioná-los. No discurso, muitos momentos onde ressaltou a coragem para jogar e enalteceu a história do Vasco no futebol.
As palavras tocantes do técnico foram muito exaltadas pelos jogadores após a partida, e Luxemburgo fez um balanço de tudo o que envolveu a partida:
"O futebol carioca tem história. O Flamengo é superior? É! Igualamos porque estudamos o adversário. Sabemos da qualidade e respeitamos, mas é Vasco da Gama. A história mostra que você entra em campo favorito e sai de campo derrotado. Tem de trazer a história e fazer o jogador acreditar nisso, envolver o jogador. Não é proibido empatar ou ganhar do Flamengo, não é proibido. Não está escrito lá que é proibido empatar ou ganhar do Flamengo".
Prestígio interno e na mira por renovação
O trabalho de Vanderlei Luxemburgo tem sido aprovado pela diretoria do Vasco, que pretende iniciar nos próximos dias conversas para uma renovação de contrato. O atual termina em dezembro deste ano.
Entre os jogadores, o prestígio do treinador anda em alta. Além da boa relação, o técnico "comprou o barulho" do elenco no que se refere aos salários atrasados, fato que, inclusive, será crucial para sua permanência na sua próxima temporada. Luxa quer que o presidente do clube, Alexandre Campello, cumpra a promessa de quitar todas as dívidas antes que atletas e funcionários entrem de férias.
Cordialidade com Jesus, mas com ressalvas
O encontro entre Vanderlei Luxemburgo e Jorge Jesus foi marcado pela cordialidade antes de a bola rolar. Um abraço, um aperto de mão e uma conversa ao pé do ouvido selaram os cumprimentos à beira do campo.
No pós-jogo, porém, Luxa fez questão de enaltecer a classe de treinadores brasileiros e ressaltar que o português não foi o único estrangeiro a fazer sucesso no país:
"Esse é um momento muito tenso no Brasil. O Jesus é um grande técnico, mas não podemos esquecer que no Palmeiras teve um argentino que fez grande trabalho. Tem outros estrangeiros que já vieram fazer grandes trabalhos".