Neste domingo, Botafogo e Vasco estarão novamente frente a frente, agora, pela final da Taça Rio. E não é difícil ver torcedores rivais confraternizando todas as vezes que os times se encontram não à toa o jogo é conhecido como Clássico da Amizade. A simpatia entre as torcidas, porém, pode ter surgido justamente da freguesia do alvinegro para o cruz-maltino.
O LANCENET! conversou com alguns torcedores mais experientes e uma das possibilidades aceitas é a de que o laço surgiu quando, em meados da década de 50, Dulce Rosalina assumiu uma das organizadas do Vasco. Entre 1956 e 1959, o time de São Januário ganhou nove vezes, contra apenas três do Botafogo. O hábito de Dulce de oferecer jantares aos líderes das torcidas rivais quando estes saiam do estádio derrotados, fez com que os encontros após os jogos se tornassem rotina. De freguês a amigo, esse pode ter sido o roteiro do aperto de mãos de botafoguenses e vascaínos.
Já no fim da década de 60 e início de 70, as rodadas duplas no Maracanã - costumeiras em outrora - e o antagonismo ao Flamengo uniram ainda mais os adeptos aos times da Colina e General Severiano, quebrando qualquer barreira geográfica entre Zonas Norte e Sul do Rio de Janeiro, entre Botafogo e São Cristovão.
Seja por qual motivo for, o importante é que o clássico remete a um tempo em que o futebol era apenas uma diversão e a única luta que era esperada acontecia dentro de campo, e ainda assim pela vitória.
Porém, como diz o ditado, amigos, amigos, negócios à parte. Cordialmente, que vença o melhor.
Com a palavra
Roberto Assaf - Historiador e colunista do LANCE!
Supremacia do Fla como laço na história
Acredito que essa amizade tenha se concretizado como consequên cia de uma torcida única contra a supremacia do Flamengo no fim dos anos 70 e 80. A afinidade já existia antes, mas ficou ainda maior depois de 1980.
Porém, certa vez, em 1969, a união acabou por um jogo. O Botafogo estava perto de se sagrar tricampeão carioca e tinha rodada dupla no Maracanã. Aí, flamenguistas e vascaínos torceram unidos contra o Botafogo. Eu estava no Maracanã. Foi um fato histórico.
Com a palavra
Roberto Porto - Historiador e torcedor do Botafogo
Lados odeiam com todas as forças o Fla
Os torcidas têm um grande ponto em comum: elas odeiam muito o Flamengo. Para o Vasco, o Flamengo é o maior rival. Para o Botafogo, o Flamengo é insuportável. Então cria-se uma solidariedade entre as duas torcidas contra o mesmo rival.
Na década de 60, eu estava no Maracanã e 30 torcedores do Vasco, todos de camisa, entrarem na arquibancada do Botafogo. Achei que teria pancadaria, mas ali ocorrer uma das maiores confraternizações entre torcidas que já vi.
Com a palavra
Sérgio Cabral - Historiador e torcedor do Vasco
Uma amizade de verdade, de coração
Não dá para tentar explicar essa amizade, mas ela é verdadeira, de coração. Sei que existe um armistício entre as duas torcidas e isso só beneficia quem vai ao estádio. Não me lembro de briga contra o Botafogo.
A união entre Botafogo e Vasco é um exemplo para todas as torcidas. E as próprias torcidas de Botafogo e Vasco deveriam ser assim com todas as outras. Futebol é para torcer, não para brigar por aí. Que a tradição de paz continue por muitos e muitos anos!
União de organizadas após história entre irmãos
Vasco e Botafogo também têm uniões entre as torcidas organizadas. E tudo começou com a história entre dois irmãos. Em meados dos anos 80, Robson, cruz-maltino e integrante de uma das organizadas do Vasco, se envolveu em uma confusão em um clássico com o Flamengo. Roberto, seu irmão botafoguense, quis defendê-lo e se mobilizou para que, no jogo seguinte - também entre Vasco e Flamengo - houvesse uma espécie de revide aos flamenguistas.
A partir daí, as organizadas se uniram com o passar do tempo e o ato se tornou oficial no início da década de 90. Desde então, é comum se ver no estádios em dia de clássico, inclusive, bandeiras vascaínas sendo balançadas por botafoguenses e vice-versa.
Clima de paz contribui para lotação
A promessa de estádio cheio amanhã é um dos indícios da amizade entre as torcidas. Segundo o Tenente Coronel Fiorentini, comandante do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe), o baixo índice de brigas nos confrontos entre os dois clubes fará com que mais pessoas se encaminhem para acompanhar a final.
O fato de os clássicos entre Botafogo e Vasco não terem um histórico de brigas, faz com que as pessoas se sintam mais à vontade de ir ao estádio. Talvez, por isso, a procura por ingressos esteja grande disse o comandante, avisando que a Polícia Militar está preparada para receber um clássico com milhares de torcedores:
O esquema de segurança será o mesmo dos outros clássicos. Até porque, pode não haver briga entre as torcidas envolvidas na partida, mas pelo grande procura, pode haver problemas com os torcedores que não conseguirem ingressos.