Durante 22 anos, Luis Fabiano passou por cima de zagueiros. Na maior parte das vezes, graças ao seu talento, à força e potência. Noutras, menos cordiais, à base do seu temperamento explosivo. O centroavante, porém, jamais enfrentou uma batalha tão árdua quanto a que trava há anos com seu próprio corpo.
Terceiro maior artilheiro do São Paulo, camisa 9 da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2010, campeão no Porto, no Sevilla e no Vasco, o Fabuloso não disputa uma partida oficial desde novembro de 2017, quando uma lesão no joelho direito se agravou de forma quase definitiva.
Luis Fabiano gostaria de poder escolher o momento do fim da carreira, mas também não se reconhece mais como um jogador em atividade.
– Estou com um pé lá e outro cá – afirmou em entrevista exclusiva ao blog.
O histórico atacante, que fará 40 anos em novembro, falou sobre o São Paulo, seus arroubos, arrependimentos e momentos marcantes da carreira.
Números de Luis Fabiano:
São Paulo (2001-04 / 2011-15): 212 gols em 352 jogos
Porto (2004-05): 3 gols em 19 jogos
Sevilla (2005-11): 107 gols em 230 jogos
Tianjin Quanjian (2016): 22 gols em 28 jogos
Vasco (2017): 6 gols em 20 jogos
Seleção brasileira: 28 gols em 45 jogos
Leia a íntegra da entrevista abaixo:
Luis, até para nortear nossa conversa, preciso perguntar primeiro se estou falando ainda com um jogador em atividade.
Hoje, não me considero um jogador em atividade. É lógico que o sonho, a vontade de terminar jogando persiste, mas minha cabeça está mais voltada para tocar outras coisas. Depois de dois anos e pouco sem jogar, acabo me esquecendo um pouco daquela rotina, da vida que eu tinha.
Então me parece que você não se considera um jogador em atividade nem tampouco um ex-jogador, certo?
Eu estou nessa vida aí (risos). Você resumiu perfeitamente. Estou com um pé lá e outro cá, sabe? Ainda não caiu a ficha (da aposentadoria), e ainda não me dei por vencido.
Muitas vezes palpitamos sobre o tempo de carreira de outra pessoa, achamos que fulano ou beltrano devem se aposentar, mas só você mesmo pode decidir isso, não é?
É exatamente isso. Quem decide e tem de saber o momento é só a pessoa que está vivendo a situação. Infelizmente, abandonei os gramados por motivo de saúde, precocemente, isso é muito chato. Eu vinha fazendo um ano até legal no Vasco, não sentia nada. Treinava, jogava, e de repente veio uma dor no joelho, não sei de onde, e tive que interromper essa trajetória. Ali começou todo o drama. Fiz exames, tive que operar, e desde então não consegui retomar minha carreira.
Foram quantas cirurgias depois disso?
Foram duas para resolver o problema no joelho. Eu queria jogar até pelo menos 39 anos. Na minha cabeça havia uma programação sonhada até a despedida. Jogaria no Vasco, depois um ano no São Paulo, e encerraria ali. Esse seria o melhor dos mundos, meu sonho para o fim da carreira, mas não consegui concretizar.
Como tem sido sua briga com seu corpo? Ela começou muito antes dessa lesão no Vasco, não?
É uma rotina de superação. A cada dia temos de superar limitações, dificuldades e dores. Comecei a lutar contra problemas físicos em 2011, quando voltei para o São Paulo já machucado. Era uma lesão rara, foram sete meses para curar. Eu rompi o (músculo) semitendinoso, ele enrolou noutro músculo e formou uma fibrose. Agradeço muito ao doutor (José) Sanchez (médico do São Paulo) pela dedicação, a busca de informações, fez todo tipo de tratamento possível. No fim, deu certo com uma cirurgia plástica, com o doutor Fábio Nahas. Até tive um período legal no São Paulo, mas uma coisa foi levando a outra, e acabei tendo bastante dificuldade de 2011 para cá.
Rogério Ceni costumava dizer que o atleta de alto nível não joga sem dores. Nunca. Você se lembra da última vez que jogou sem qualquer dor?
Até a Copa (de 2010) eu joguei zerado. Na Copa tive um problema, precisei fazer tratamento e graças ao (Luiz) Rosan e ao doutor (José Luis) Runco (ex-fisioterapeuta e ex-médico da Seleção), cheguei num nível legal. Mas, de lá para cá, rapaz, eu realmente não soube o que era jogar sem dor. E as injeções antes do jogo, então, de vitamina? Acho que tomei umas 300 (risos). Mas todo o esforço valia a pena porque a carreira é curta e precisávamos lutar até onde podemos.
O que significa ter jogado a Copa do Mundo sucedendo Ronaldo com a camisa 9?
Sou um privilegiado por ter vestido a camisa 9 da Seleção. Era um peso muito grande, poucos conseguiram, mas o sonho de jogar uma Copa do Mundo superava tudo. Eu vinha bem na Seleção com o Dunga, na Copa das Confederações e nas eliminatórias, isso me trouxe confiança. Era um time entrosado, muito competitivo. Eu sabia da pressão, mas não me deixava levar por comentários ou preferências.
Por falar em camisas 9, há alguns anos a quantidade de jogadores com sua característica tem diminuído. Acha que é um momento ou uma tendência definitiva?
Eu gostaria que fosse só um momento. Os times precisam de um camisa 9 clássico, que saiba jogar de costas, segurar a bola para os companheiros, que tenha presença de área. Gosto de ver o finalizador. Gosto muito daquele menino que está na Alemanha, o Matheus Cunha. Acho que ele poderá ser, no futuro, um dos grandes camisas 9 da Seleção, apesar da característica ser diferente dos antigos, de Evair, Luizão, Viola. Mas acho que ele pode ser uma referência.
E você se reconhece em algum camisa 9 do mundo?
Vejo o Suárez num estilo parecido. Cada um tem uma forma de jogar. Eu gostava bastante do Falcao, mas ele operou o joelho e não conseguiu mais jogar no nível em que estava. A gente não vê mais muitos camisas 9, surge muito mais jogadores do estilo de Messi e Cristiano Ronaldo.
Nossa, mas se forem do estilo desses dois está ótimo, não? O problema é que surgem muitos que correm...
Correm e nada (risos). Tem bastante por aí também.
Em sua carreira na Europa, a passagem pelo Sevilla foi muito mais feliz do que no Porto. Por que?
No Porto, ganhei o Mundial, mas tive muitos problemas, inclusive o sequestro da minha mãe, que acabou piorando o que já não estava legal: uma adaptação ruim, o time numa reconstrução depois de conquistar a Champions League. Saíram o Mourinho e muitos jogadores, chegaram outros, não tivemos um entrosamento rápido. Foi complicado. E no Sevilla totalmente diferente. Desde que cheguei, recebi bastante confiança do Monchi (diretor de futebol que voltou ao Sevilla em 2019) e do presidente. Eles deixaram claro que, independentemente de qualquer coisa, eu ficaria porque eles acreditavam no meu potencial.
Há até um livro sobre o método do Monchi para montar equipes gastando pouco dinheiro, sua atuação no mercado. Ele é bom mesmo?
Ele tem mérito. Trabalha bastante, tem parceiros espalhados pelo mundo, visão muito boa para escolher jogadores e, além disso, tem sorte. Lógico que não há só acertos, mas ele fez o Sevilla crescer muito de patamar. Hoje, não é um gigante do futebol europeu, mas é considerado um grande clube. Jogadores que poderiam ir para Real Madrid ou Barcelona colocam o Sevilla como opção, muito por causa do Monchi.
Mas você não era um alvo tão difícil de ser monitorado. Já havia sido artilheiro do Brasileirão, campeão da Copa América, estava no Porto.
Em 2003, Sevilla e Betis consultaram o São Paulo. O Monchi já vinha me seguindo há alguns anos, eu estava no radar. Ele aproveitou a oportunidade do meu momento ruim no Porto e me comprou por 20 milhões de euros. Antes, havia feito uma sondagem que nem chegou ao São Paulo. Eu já estava na agenda do Monchi.
A vida de um jogador apresenta uma série de possibilidades que não se concretizam. Em qual delas você pensa mais, em como teria sido diferente se tivesse acontecido?
Acho que se eu tivesse forçado um pouquinho a barra depois da Copa do Mundo (de 2010), teria ido para o Milan. Tive proposta do Real Madrid, do Barcelona quando jogava no São Paulo. Essa foi uma negociação conturbada, eu estava com a Seleção, tinha fechado valores e acabou não dando certo. Com o Milan também estava tudo certo, mas o Sevilla pediu um pouco mais na hora de fechar, eles retrocederam e contrataram o Ibrahimovic.
O Milan em 2010 iniciava uma decadência, mas ainda tinha prestígio e força para contratar protagonistas, não é?
Seria uma oportunidade excelente de ter jogado num gigante da Europa. O Milan ainda é um gigante, né? Adormecido.
Parecido com o São Paulo?
O São Paulo é insuperável no Brasil. Vai ser difícil algum time chegar a três Mundiais e ganhar. Se alguém um dia superar eu não estarei mais aqui, será daqui a 100 anos.
O Monchi te contratou já cheio de prestígio, mas como foi antes? Como a Ponte Preta te descobriu, o Rennes? E como o São Paulo o encontrou? Foi naquelas quartas de final contra a Ponte, no Brasileirão de 1999? Você fez até gol.
Depois daquele jogo, o São Paulo fez uma proposta de empréstimo, mas a Ponte Preta só queria vender. Foi o primeiro namoro. Depois, um olheiro do Rennes veio para contratar o Vander (ex-meia da Ponte) e viu um jogo do Brasileiro em que fui muito bem. Ele falou: “Quero o Vander, mas quero levar o atacante também”. E assim começou minha trajetória mesmo. Antes disso minha vida foi por Deus. Eu estava fazendo teste no Ituano, ia assinar, e o Robertinho Moreno, já falecido, antigo auxiliar do Abel Braga, era o treinador. Ele foi para a Ponte, comentou sobre mim e foram me buscar. Cheguei aos 16 anos nos juniores, fui para a Copa São Paulo, joguei bem, e aos 17 anos estreei no time profissional. Sempre atropelando fases. Fui até para a Seleção em 1998, com o Ronaldinho Gaúcho. Era um mundialito sub-20 no Uruguai. O titular era o Fábio Pinto, do Internacional, e eu fiquei no banco.
Se o técnico soubesse o que viria pela frente...
Se o técnico soubesse, o Guarani não teria me mandado embora (risos). Fiquei um ano no Guarani entre 1994 e 95. Eu era do dente de leite, e na troca de categoria, indo para o juvenil, eles disseram que já havia muitos meninos e ficariam só com os que já estavam, e me mandaram embora. O Guarani tinha Amoroso, Luizão, vi o Renato subindo para o profissional, peguei todos esses caras.
E o amor pela Ponte Preta já existia ou nasceu depois que o Guarani te dispensou?
Já existia. Minha família sempre foi pontepretana, meu avô era fanático, meus tios. Mas eu já era profissional e vestia a camisa do Guarani.
Você e Ronaldinho adolescentes no Uruguai com a Seleção. Comportaram-se bem?
Ah, mais ou menos, né? Tinha as resenhas. Eu, Ronaldinho, Geovanni (ex-Cruzeiro), Yamada (ex-Corinthians), Ferrugem (ex-Palmeiras) era o capitão. Muitos que viraram bons jogadores.
Essa viagem despertou algo no seu início de carreira, te modificou?
Essa foi minha primeira experiência na Seleção. Foi um divisor de águas, apesar de ainda não ter grandes sonhos, não imaginava que jogaria no São Paulo ou na Europa. Foi minha primeira saída do Brasil, eu tinha 18 anos, era um menino. Para mim tudo estava bom, eu fazia o que gostava sem pensar em nada, só deixando a vida me levar. Chegar à Seleção mudou o patamar. Até na Ponte Preta passaram a me tratar diferente, me viam com outros olhos. Isso fez minha carreira alavancar.
Você cruzou com mais pessoas que te ajudaram ou com gente que te viu como um pote de ouro?
Graças a Deus, tive pessoas que me olhavam como um ser humano, aceitavam meus defeitos e tentavam me ajudar da melhor maneira possível. Mais gente assim do que me vendo como um objeto valioso. Tanto que até hoje estou com meu empresário (José Fuentes).
O Juvenal Juvêncio te amava. Eu nunca o vi falar de um jogador com o carinho que falava de você.
Esse foi um pai dentro do São Paulo. Tive muita ajuda do Marco Aurélio Cunha também, ele foi importante em momentos complicados. Mas meu santo bateu com o do Juvenal de uma maneira incrível. Dois loucos se entendem, né. Isso gerava ciúme porque ele me tratava diferente dos demais. Ele foi espetacular, mesmo quando falava algo ruim sobre mim. Foi importantíssimo. E faz falta, hein? Dirigente como ele faz falta.
Ainda cabe no futebol de hoje um dirigente como ele, distribuindo bichos em dinheiro no vestiário?
O diferencial eram esses detalhes que ele tinha. Acho que ele se moldaria ao atual momento do futebol, mas a gestão dele no clube ajudava a resolver problemas, ter calmaria. Ele não deixava a pressão chegar ao time de futebol, blindava, assumia tudo. Era fundamental. Se ele estivesse agora (no São Paulo), muita coisa não teria acontecido.
Por que?
Pela maneira que ele tinha de encarar e fazer as coisas, o respaldo. Passei muito tempo da minha carreira ali dentro, com pressão, problemas, falta de títulos e, sinceramente, não sei o que acontece. Não sei onde o São Paulo peca. Ele se reestrutura, tenta dar melhores condições aos jogadores, faz contratações importantes, e alguma coisa sai errado. Às vezes um jogador vive grande momento noutro clube, o São Paulo paga um dinheiro alto por ele, e não rende. É difícil entender.
Não há rotatividade demais, de jogadores e técnicos?
É ruim não ter continuidade, paciência com o jogador, ele sofre uma pressão de parte da torcida que não dá para entender. É muita coisa negativa. Entendo que a rotatividade se dá pela necessidade de mudanças, de ganhar títulos, tenta-se mudar o método, a maneira de jogar. E é lógico que a instabilidade política também atrapalha bastante.
Esses não mudam, né?
Esses aí são sempre os mesmos (risos). Com os mesmos problemas, a pressão política. É verdade que isso atrapalha o São Paulo.
Quando você vê o Nenê, também aos 39 anos, sendo o artilheiro do país em 2020, isso renova sua esperança de ainda jogar profissionalmente?
Com a tecnologia e as condições de hoje, me dá esperança. O Nenê é magrinho, está bem, em atividade, é diferente. Mas vendo tudo o que tem acontecido no futebol brasileiro, todo mundo que está jogando aí, eu olho para mim e, olha, acho que dá para jogar mais um aninho, hein! Mesmo com quarentinha. Basta saber se meu corpo aguentaria, mas fazendo tudo direitinho, com a medicina e a tecnologia de hoje, daria para estender por mais um ano.
Você tem feito algo para isso acontecer?
Sinceramente, tenho feito o mínimo. Eu poderia estar fazendo algo a mais se estivesse num clube. Só não voltei por opção, tenho várias propostas para voltar a jogar. É verdade que nenhuma de um grande clube. Semanalmente surgem possibilidades. Não adianta eu querer me aventurar sem condições. Hoje, prefiro pensar que no ano que vem eu poderia fazer minha despedida.
Se o São Paulo ou um clube grande te procurarem, você volta. Caso contrário, é melhor parar por aqui. É isso?
Se um clube me oferecesse condições de poder lutar para jogar mais seis meses ou um ano, eu aceitaria o desafio. Senão, a ideia seria fazer uma despedida no São Paulo e uma no Sevilla. Já conversei com os clubes sobre isso, mas o calendário está apertado por conta do coronavírus, não sabemos de datas. O panorama é esse. E se surgir a possibilidade de jogar mais um tempinho e eu tiver condições, aceito o desafio.
E esse jogo de despedida?
Isso vai acontecer quando eu realmente for parar de jogar. Vou jogar esse jogo e não pisar mais no gramado, pelo menos como jogador. Encerrei.
Você, obviamente, será o camisa 9. Vai dar a 10 para quem?
Nossa, que injustiça! Tantos me consagraram. Kaká, Ronaldinho, Reinaldo, Lucas, meu Deus! Tantos merecem a 10. Eu gostaria de contar com meus melhores amigos e jogadores importantes na minha carreira para fazer uma grande festa.
Quem foi seu melhor parceiro de ataque?
Eu tive muitos bons parceiros. França, Reinaldo, Jadson, Ganso, Lucas, jogadores que entendiam minha maneira de jogar, minha característica, e sabiam o que fazer e a hora certa. Mas, pelas conquistas e o tempo juntos, o Kanouté foi muito importante para mim. Muito, muito. Nós fomos contratados pelo Sevilla e ele foi dizer para o Juande Ramos que gostaria de jogar como segundo atacante. Disse que nossas maneiras de atuar iriam combinar. Imagina, na Europa, onde o jogo é rápido, colocar dois caras altos. Ele é gigante e eu não tenho perfil de jogador veloz. Então havia uma desconfiança, mas conversamos com o treinador e foi uma das duplas mais legais que fiz. Foi um grande parceiro mesmo.
Gente boa fora de campo também?
Ele é muçulmano, um cara acanhado, mais tranquilo. Mas parceiraço (sic).
Mas tenho a sensação de que você só é explosivo dentro de campo. Estou errado?
Dentro de campo tenho outra personalidade. Eu não gostava de perder, essa maneira explosiva até me atrapalhou muitas vezes, mas a gana de fazer gols, ganhar, a vontade de competir e não aceitar derrotas me ajudou a tornar o que me tornei e a ter essa carreira. Existia o lado ruim, que não aceitava discussões, provocações, e às vezes eu passava do limite.
Em 2003, você disse que preferia ajudar os companheiros na briga a bater pênalti, quando foi expulso pelo São Paulo antes da disputa de penalidades contra o River Plate, na semifinal. Ainda pensa assim ou, quase aos 40 anos, mudou de ideia?
Hoje estou convencido de que eu prefiro ajudar os companheiros (risos). É muito “trick-trick”, gelzinho no cabelo, “nutellinha”. Hoje eu ajudaria na briga mesmo. Eu tinha razão (risos).
O futebol atual te irrita?
O VAR me deixa um pouco de saco cheio, apesar de ser correto. Acho que se está impedido, está impedido. Mas esse tempo que leva. Para, consulta, vê aqui, ali. Com isso eu teria de me acostumar. O resto a gente se aperfeiçoa, entra na onda. Antigamente o couro comia e ninguém via nada.
Você é bem resolvido com sua carreira? Quando olha para trás, o que sente?
Sou muito grato por tudo que vivi e conquistei, pelo que o futebol me proporcionou. Eu me arrependo de alguns momentos, sem dúvida, e gostaria de ter conquistado algo a mais com a camisa do São Paulo, mas sou super satisfeito com minha carreira (no Tricolor, Luis Fabiano foi campeão do Torneio Rio-São Paulo, em 2001, e da Copa Sul-Americana, em 2012). Com os números, então! Tenho consciência de que fui um grande atacante. Sou bem resolvido, se eu tivesse que parar hoje, levaria mais alegrias do que tristezas.
Quando você fala de arrependimentos, ter sido expulso no primeiro jogo da final da Sul-Americana de 2012, contra o Tigre, e ficado fora do segundo. Isso machucou, não é?
Esse foi um dos piores momentos. Não ter estado naquele jogo, naquela festa linda, é o que me deixa mais triste. Deveria ter sido uma festa bem melhor, tudo encaminhava para um jogo histórico, uma goleada, e eles viram que não dava para ganhar em campo. Eu vi tudo, estava no vestiário. Foi lamentável. Eu não esperava que um time de futebol fosse capaz daquilo. Além de não estar em campo, presenciar aquilo foi a coisa mais triste que vivi no futebol depois da morte do Puerta.
No intervalo da final da Copa Sul-Americana, os jogadores do Tigre promoveram um quebra-quebra no vestiário do Morumbi e entraram em conflito com seguranças do São Paulo. O jogo foi encerrado e o São Paulo, que vencia por 2 a 0, declarado campeão.
Como foi encarar a perda do Puerta daquela forma, tão de perto, tão na realidade de vocês?
Foi um choque eterno. A última visão que tivemos dele foi andando para o vestiário, caminhando. E depois não o vimos mais. Desde quando cheguei no Sevilla, fizeram vários tratamentos, testes, ele fazia pré-temporadas com eletrodos no corpo, procuraram tudo, e aconteceu aquilo dentro de campo, num jogo. Foi traumatizante. Demorou para superarmos isso (Puerta havia perdido os sentidos duas vezes na pré-temporada anterior, mas nenhum exame detectou qualquer anomalia no jogador).
Antonio Puerta, ex-lateral do Sevilla, morreu aos 22 anos, vítima de uma série de paradas cardíacas que tiveram início no vestiário, pouco depois dele sentir-se mal durante um jogo do Sevilla contra o Getafe, pelo Campeonato Espanhol, em 2007. Na pré-temporada anterior, ele havia perdido os sentidos duas vezes, e nenhum exame posterior detectou qualquer problema no jogador.