"Vai Juninho pra cobrança da faaaaaalta..." e o resto é história. Seguindo a série especial com vozes que narraram momentos históricos do Vasco, o terceiro convidado é o locutor Luís Roberto de Múcio, da TV Globo, que eternizou o Gol Monumental de Juninho Pernambucano, no empate em 1 a 1 na partida de volta da semifinal da Libertadores de 98. Luís Roberto, que trabalhou nas rádios Cultura de Santos, Gazeta e Globo, além da TV Gazeta, de rápidas passagens pela TV Manchete e ESPN Brasil, chegou na TV Globo justamente no ano do centenário do Cruzmaltino e participou de transmissões inesquecíveis de jogos do Vasco.
- O jogo do Vasco inesquecível que narrei é o empate contra o River Plate na semifinal da Libertadores de 98. Esse jogo é memorável pela qualidade do time do River e o fato do jogo ser na Argentina. Não é, digamos, um jogo que o Vasco pudesse ser considerado favorito. Era um jogo dificílimo. É sempre duríssimo jogar lá contra o River Plate e esse é um jogo memorável mesmo. Espetacular, que vou guardar para todo sempre. A curiosidade desse jogo é que fui direto da Copa da França para Buenos Aires. A Copa terminou num domingo, o jogo era na quarta. Estava bem agastado de voz. Fui depois de viajar quase dois dias para chegar - recorda Luís, lembrando que as dificuldades daquele dia não terminaram no apito final do árbitro:
- Eu passei um perrengue nesse jogo contra o River Plate, mas não foi por conta da partida, foi após o jogo. A gente não conseguia transporte pra voltar. Aquela gentarada, nós estávamos andando no meio da torcida do River, os caras muito bravos. Caminhamos uma meia hora até uma outra avenida distante, conseguimos um táxi e fomos para o hotel. Mas sofremos, estávamos uniformizados e os torcedores argentinos nos xingaram muito.
Outro título inesquecível narrado por Luís Roberto foi o da Copa do Brasil de 2011. O locutor relembra os dois jogos e principalmente a partida de volta, no Couto Pereira, pelo ambiente, a grande atuação do então goleiro vascaíno Fernando Prass e por tudo que aquela partida teve de emoção, como alternância no placar e sofrimento até o fim:
- Jogos memoráveis do Vasco tem muitos. É difícil cravar um. Mas certamente as finais da Copa do Brasil de 2011, contra o Coritiba, são jogos que guardo com muito carinho. É um título bem marcante, pelo momento que ele aconteceu. O jogo de Curitiba, embora o Vasco tenha perdido o jogo, a grande atuação do Prass, o jeito que o jogo se desenhou com o Vasco campeão perdendo por 3 a 2, já que tinha vencido o primeiro por 1 a 0... mas são muitos jogos.
Perguntado sobre qual gol do Vasco ele narrou que é muito lembrado pela torcida, Luís surpreendeu e respondeu que foi o de Andrezinho sobre o Flamengo, na semifinal do Campeonato Carioca de 2016. O meia pegou a sobra após grande jogada de Riascos, que tocou para Nenê bater em cima do zagueiro. Na ocasião, Luís citou na narração que foi o gol foi "choraaaado":
- É incrível isso, mas a narração que a galera brinca comigo, de uns anos pra cá, é a de um gol do Andrezinho, em Manaus, contra o Flamengo. É curioso. Tudo bem que era um jogo contra um grande rival. Tive o privilégio de narrar ótimos momentos e conquistas do Vasco. O Vasco venceu por 2 a 0, classificou pra final do Carioca e o Andrezinho fez um dos gols. A galera brinca muito com essa narração.
RELAÇÃO COM ÍDOLOS VASCAÍNOS NA CABINE
Na TV Globo há 22 anos, Luís Roberto teve inúmeros parceiros de transmissão. Dois deles, mais recentemente, são grandes ídolos da torcida vascaína: Juninho Pernambucano e Pedrinho. O narrador conta como via a ligação da dupla com o Gigante da Colina.
- A relação deles com o Vasco é absolutamente espetacular. Tanto do Juninho, quanto do Pedrinho. Eles tem uma dimensão e um carinho enorme pela torcida do Vasco. O Pedrinho tem o fato de ter começado nas escolinhas, tem uma relação muito forte com São Januário. O Juninho também. O seu Antônio, pai dele, foi sócio do Vasco desde os anos 50. Então a relação deles é absurdamente forte e realmente eles são históricos. Só presenciei grandes momentos de carinho da torcida. Pedidos de foto, autógrafo, de áudio pra mandar pra filho que está fazendo aniversário... é realmente sensacional - explica.
Luís Roberto ainda revela que os dois lembram muito de algumas narrações de gols deles pelo Vasco:
- Eles lembram bastante das narrações. O Pedrinho, por exemplo, lembra do jogo contra o Grêmio, da Libertadores, que o Vasco vence por 1 a 0. Ele sempre comenta essa narração. O Juninho também. Não só do gol de falta contra o River, mas também do gol de falta quando ele voltou, contra o Corinthians, no Pacaembu, que eu digo até "o Reizinho está de volta". Bem legal, a gente brincava muito com essa narração.
Para o locutor da TV Globo, certamente Romário foi o craque do Vasco que ele mais narrou gols. No entanto, quem mais deu trabalho para as cordas vocais de Luís Roberto foi outro jogador: Diego Souza, que passou pelo clube entre 2011 e 2012 e marcou gols antológicos, fazendo-o gastar a voz:
- O Romário é certamente o jogador do Vasco que eu mais narrei gols. Mas, por incrível que pareça, um cara que me deixou com a voz bem afetada é o Diego Souza. E eu explico. O Diego só faz golaço, cara. Então você tem que botar a voz pra fora. Me lembro de dois, que até postei outro dia no Instagram. Um pela Libertadores, contra o Lanús, em São Januário. Ele dá um lençol no zagueiro e faz um voleio lindo. E o outro é pelo Brasileirão de 2011, contra o Cruzeiro, em Sete Lagoas. Ele dá um chapéu no Fábio e faz um outro golaaaço.
BATE-BOLA
Luís Roberto de Múcio, narrador da TV Globo
1. De todos os times do Vasco que você narrou, qual foi o melhor? E se pudesse escalar um Vasco dos sonhos contando os jogadores que você viu e narrou, qual seria o seu 1 ao 11 e quem seria o treinador?
O melhor Vasco que eu narrei foi o de 98. Teve o de 99 e 2000, já com o Romário, mas esse time da Libertadores é espetacular. Eu estou contando a partir do momento que eu narro na TV Globo. Que eu narrei o Vasco em muitas outras épocas. Teria que colocar o Roberto Dinamite, certamente, como o maior craque que eu vi jogar. Mas, na TV Globo, a partir de 98, eu tenho que dizer que é o Vasco campeão da Libertadores. Um timaço, os goleiros eram Márcio, Germano e Caetano, os laterais Vítor, Maricá, Felipe, Filipe Alvim, Ronaldo Luiz que jogaram naquela Libertadores. Mauro Galvão, Odvan, Géder, Alex Pinho, Luisinho, Nasa, Válber, Nelson, Fabrício, Fabiano Eller, tinha o Juninho, Pedrinho, Ramon, Richardson, o Vagner e o ataque com os impressionantes Donizete e Luizão. Tinha também o Mauricinho, Sorato e o Luiz Cláudio.
O Vasco eu vou escalar desde 98 pra cá. Não vou incluir o Edmundo, porque ele não estava em 98, e o grande Edmundo do Vasco, que certamente está no time de todos os tempos é o de 97. Depois ele volta, mas não joga naquele nível de 97, quando ele foi um absurdo. O meu time é Carlos Germano, Vagner, Dedé, Mauro Galvão e Felipe; Luisinho, Juninho Pernambucano e Juninho Paulista; Donizete, Luizão e Romário - Técnico Antônio Lopes.
2. Você acabou narrando os últimos gols do Romário antes do milésimo, mas o jogo contra o Sport, que ele balançou as redes, acabou sendo transmitido apenas pelo Pay-Per-View e quem narrou ao vivo na TV aberta foi o Faustão. Fica uma pequena frustração por não ter narrado um gol histórico como esse?
E realmente, eu narrei a contagem regressiva do Romário para o milésimo gol. Alguns jogos, inclusive, da Colina. Teve um jogo que o Vasco meteu seis e ele fez três, encurtando aquela contagem, mas não tive o privilégio de narrar o gol mil. Esse jogo foi um domingo à noite, passou no Premiere, o da TV Globo foi outro, em Goiás. Eu lembro que vi esse gol no hotel, na televisão. Quem narrou esse jogo foi o Lucas Pereira. O Faustão mandou ver, ele entrou ao vivo e narrou esse gol. Ficou uma pequena frustração, mas faz parte da profissão, bem que gostaria de ter narrado esse gol, mas naquela época os locutores da TV Globo não participavam de transmissão no Premiere e no SporTV. Hoje todos fazem parte de um grande conglomerado, os canais Globo. Talvez, se fosse hoje, eu pudesse ter narrado esse gol.