Lembro até hoje de quando chegou a proposta para ir ao Celta de Vigo. Eu tinha sido convocado para um torneio nos Estados Unidos, que é como uma Copa das Confederações de hoje em dia. Dentre as equipes, foram Brasil, EUA, Inglaterra e Alemanha. Eu já vinha sendo chamado desde 92 e era um momento ótimo pelo Vasco também. Tive uma participação boa nos jogos e saímos de lá para o Equador para disputar a Copa América. No meu retorno apareceu o interesse do time espanhol e eu fiquei naquela dúvida, porque era uma equipe disputando o rebaixamento, ou seja, não era um clube de ponta e nem mediano na época.
Acabou que o que pesou na decisão de ir foi o lado financeiro, seria melhor para mim. Fiz um contrato de três anos e cheguei direto para a pré-temporada. No início estava indo tudo bem, mas existe aquela adaptação, e justamente num clube que tinha a mentalidade de não cair, eu não consegui deslanchar. Eu estava saindo de um time que disputava o topo do campeonato e vestindo a camisa da seleção. Consequentemente começo a oscilar, ficava naquela de jogar e revezar no banco, e isso já em 93, as vésperas do Mundial de 94.
Quando chega em novembro daquele ano, a seleção faz um amistoso na Alemanha, em Colônia, e eu sou convocado. Depois da partida, o Carlos Alberto Parreira, treinador do ciclo, me chamou no saguão do hotel, durante a minha saída mesmo, estava a caminho de Madri, para me dar um toque.
Lembro dele falar "Por que você não volta ao Brasil? Fica mais fácil da gente te observar e aumenta sua possibilidade".
Não que isso tivesse uma garantia de que iria para o Mundial no ano seguinte, mas aumentaria a chance de uma ida. Em janeiro de 94 entro em um acordo com o Celta e venho para o Vasco, para disputar o tricampeonato Estadual. Já existia uma base que eu conhecia, e ainda trouxeram o Dener e o Ricardo Rocha, era um timaço. Eu retorno agarrado nessas expectativas.
O plano acabou não dando certo, eu me lesionei no início do Campeonato Carioca. Além disso, na posição tinham muitos jogadores bons, era muito disputada.
Quem acabou entrando na lista foi o Mazinho. Ele nem convocado vinha sendo, não participou da Copa América, e só voltou a ser chamado no final das Eliminatórias. Foi realmente um baque. Imagina só, na época estar sendo cotado para uma Copa do Mundo e você ficar fora por uma lesão. Foi muito difícil. Apesar de infeliz no exterior, eu volto ao Brasil muito pela possibilidade de ir para o Mundial. Que jogador não quer ter isso no currículo, né?
Acredito que se tivesse a lista dos 30, eu estaria ali entre os possíveis convocados. Eu gostaria muito de ter disputado o Mundial de 94, e depois, quando passa o tempo, a gente acaba percebendo que faz falta.
O Zagallo, que era coordenador técnico, eu respeitei muito, por como ele me tratava. Já o Parreira eu tinha menos acesso, mas sempre achei um profissional super de gabarito comigo, uma pessoa inteligentíssima, e tenho muita gratidão por eles me darem chances. Me chamaram a primeira vez em 1992, e todas as participações foram ótimas, principalmente esse torneio nos EUA, que eu ainda marco gols, mesmo sem ser minha especialidade.
Eu ainda vou para a Copa América de 1993. Me senti importante também porque na disputa de pênaltis contra a Argentina, eu bati o quinto, o decisivo. Ali entendi toda uma confiança que adquiriram em mim, já que nem batedor de pênaltis era. Tanto é que em 93, durante um exame com o doutor Luiz Medeiros, que era médico da seleção - na época o Brasil não estava tão bem na eliminatória -, ele me diz que meu nome surgiu para ser uma das soluções.
Eu não era aquele jogador que tinha uma vaga garantida, eu estava naquela disputa e se tivesse uma brecha poderia acontecer. Eu entendo isso, não fico chateado por considerar uma injustiça.
Conquistei o tri do Estadual com o Vasco, mas meu empréstimo terminou e eu teria que voltar à Espanha. Não queria retornar, eu não me adaptei mesmo ao ritmo da equipe. No Celta era aquilo, joga, depois não joga. Me aborreci muito, inclusive com os jogadores, lembro de uma partida contra o Valencia que no almoço eles conversavam e brincavam: "de quanto vamos perder hoje?" Uma mentalidade que eu não aceitava, você ir para o jogo pensando que vai perder, já entrava derrotado. Foi uma decisão não tão feliz, mas não me arrependo, tudo é experiência, e faz parte. Acabei não dando sequência na ida para a Celta. Não completou um ano, fiquei por volta de oito a nove meses.
Nesse momento teria que retornar, e o Corinthians me faz uma proposta que compensava o que eu ganhava na Espanha, e acabo ficando de vez no Brasil. Fiz uma boa campanha no Brasileiro de 94 pelo time.
Eu não carrego uma frustração, não tenho aquele sentimento de que faltou isso. Foi uma carreira sólida, em que conquistei tudo que deveria.
* Em depoimento ao repórter Lucas Guimarães