Ao tomarem consciência de seus benefícios, as pré-temporadas passaram a ser mais valorizadas pelos times de futebol. E dentro dessa esfera, o modo como esse trabalho específico precedente às grandes disputas é realizado tem de ser levado em conta.
Durante o período, por uma razão ou outra, algumas valências físicas deixam de ser bem desempenhadas, o organismo do jogador não se prepara corretamente para a exigência física futura e algumas carências começam a ficar mais explícitas. Haveria, então, um tempo específico de preparação a fim de evitar os empecilhos apresentados ao longo de um ano de desgaste?
“[O tempo ideal para uma pré-temporada] Eu diria que gira em torno de 30 dias. Normalmente, quando se tem uma pré-temporada muito curta, você entra em uma condição de risco físico, técnico e tático durante a competição”, afirma Moraci Sant´Anna, que foi preparador físico de grandes clubes, e de seleções durante seis Copas do Mundo.
O argumento é comum ao apresentado por Antonio Carlos Fedato Filho, fisiologista, coordenador e sócio da Romano e Martins Esportes, empresa de consultoria em ciências do esporte, e que atuou em diversos clubes do futebol nacional e internacional. A diferença, entretanto, é no tempo.
“Varia pouca coisa, mas alguns times com 10 dias estão prontos. Há outros que necessitam de um pouco mais, mas varia entre 10 e 15 dias”, explica. “A pré-temporada é montada normalmente após uma avaliação do time, da parte física. Apontamos os dados da preparação física e, a partir dos dados negativos apontados, a gente pega cada variável abaixo, e define um tempo específico para evoluir e chegar a uma média”.
É importante treinar a resistência, a força, a velocidade, a agilidade e até a flexibilidade. Dividida em período de preparação geral e específica, a pré-temporada se define, em um primeiro momento, com a importância do volume – ou seja, a base do condicionamento físico é o objetivo.
No segundo momento, a ênfase deve ser o aperfeiçoamento das qualidades físicas. Nesta fase, a intensidade é o mais importante. Fato é que todas as questões de capacidade física participam do contexto.
“Depois, a gente tem que calcular junto com as datas o período de recuperação para os atletas terem uma super-compensação e um ganho físico da pré-temporada. Na prática, não há muito tempo, e esta compensação tem de haver logo no início do campeonato. As oscilações são normais, mas têm de ser supridas durante os treinamentos”, pondera Fedato.
O Vasco, por exemplo, vê os reflexos dentro de campo de um planejamento que teve de ser conciliado com uma longa viagem. No mês de janeiro, a delegação cruzmaltina viajou as Emirados Árabes para a disputa do Torneio de Dubai, hipótese sugerida como explicação para a irregularidade que a equipe apresentou na Taça Guanabara – no último domingo, o time de São Januário caiu para o Flamengo na fase semifinal.
"Quero a equipe condicionada da maneira correta. O time está oscilando demais dentro dos jogos", disse, após o clássico, o técnico Alfredo Sampaio, que não pôde contar com o lateral-direito Wagner Diniz e os meia Beto e Leandro Bomfim – todos titulares e que sofreram lesões musculares. Assim, o Vasco vislumbra realizar uma pré-temporada com as disputas em andamento.
“A inter-temporada é feita para corrigir aquilo que não pode ser feito durante a pré-temporada. E isto se for realizado de maneira imediata à pré-temporada, muito próxima. Se ocorrer mais no meio, como na Europa, que realiza no início de janeiro, a busca é mais pela manutenção”, compara Sant´Anna.