Kaylane Mello tem apenas 16 anos, mas já superou muitas dificuldades na vida. Vem de uma família humilde de Acari, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Só que o primeiro teste no Vasco, há três anos, é um capítulo à parte.
Era um dia de muito trânsito na Avenida Brasil, como quase sempre. Kaylane ainda estava muito longe do local onde ela e outras meninas seriam avaliadas para entrar no time feminino sub-15 do Vasco. O ônibus, lotado, não saía do lugar.
Foram cerca de oito quilômetros debaixo de muito calor, à beira de uma das principais rodovias do Rio. Quase duas horas de caminhada, acompanhada da mãe Adriana e da irmã pequena. Sem dinheiro para comida ou água, apenas para a passagem de volta. Chegou atrasada no treino, com fome e cansada. Mas passou. Virou atleta do Vasco.
- Ah, eu estava muito nervosa. Eu chorava e falava: "Mãe, 'vambora', mãe", e a minha mãe com a minha irmã no colo. Eu falando que ia chegar atrasada e ela me pedindo calma - relembrou Kaylane.
"O futebol é tudo para mim. Quero muito ajudar a minha mãe e cada vez eu vou me esforçar mais, até conseguir"
Hoje o departamento de futebol feminino do Vasco está dentro do guarda-chuva das categorias de base e conta com esse apoio para as questões estruturais (local de treino, material esportivo, logística, metodologia, academia, fisioterapia etc). São 12 profissionais que atendem às jogadoras, entre técnico e auxiliares, preparador físico, nutricionista, psicóloga e coordenador técnico. Parte das atividades são em São Januário e parte no CT em Duque de Caxias.
São três categorias: sub-15, sub-18 e a adulta. Muitas atletas que jogam na sub-18 também atuam na equipe principal, porque são poucas as maiores de 18 anos. Ao todo são cerca de 60 atletas. Os treinos variam de três a quatro dias na semana para as jogadoras da categoria adulta. Nem todas as meninas têm contrato de formação com o clube. Algumas recebem bolsa-auxílio, que vai de R$500 a R$1500, dependendo do desempenho ou da necessidade pessoal.
O futebol feminino começou no Vasco no início dos anos 1990. O clube foi campeão brasileiro feminino em quatro anos (1993, 1994, 1995 e 1998) e revelou grandes nomes da Seleção Brasileira, como Pretinha, Fanta e Cenira. Como se não bastasse, foi onde Marta, maior nome da história do futebol feminino e eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo, teve o primeiro contato com uma estrutura mais profissional.