Quando Felipe marca dois gols, é o principal nome da eliminação do Flamengo, beija o escudo e depois ironiza Vagner Love, a torcida sabe que não tratam-se de atitudes protocolares. Ela vê em campo, mais do que um Maestro, um representante da torcida. E o meio-campo de 34 anos, que chegou a São Januário há quase 30, entende a responsabilidade e a motivação que esse sentimento provoca. Membro de uma família repleta de torcedores cruz-maltinos, Felipe espera fazer a arquibancada do Engenhão vibrar novamente neste domingo, mas desta vez levantando mais um troféu e aumentando sua larga coleção de títulos na Colina.
Se para Felipe, São Januário é sua casa, ele faz questão de vascaínos em seu lar. Então admite a felicidade por ver seus filhos Lucas e Thiago consolidados como torcedores cruz-maltinos, vencendo uma briga interna com os flamenguistas que o cercam. Assim, de certa forma minimiza sua passagem pela Gávea em 2004, quando foi o destaque da equipe na conquista do Campeonato Carioca, em final exatamente contra o Vasco.
A comemoração dos seus gols sobre o Flamengo, pela semifinal da Taça Rio, simbolizou sua ligação com o Vasco. Quando você entra em campo para defender o clube, em que momento isso fala alto numa partida desse porte?
É algo atípico eu fazer dois gols num clássico contra o Flamengo. Aliás, isso nunca havia acontecido. Então, aquela comemoração é muito da intensidade do jogo. Tenho noção de aquilo mexe com milhões de pessoas. Você pode fazê-las alegres ou tristes. A responsabilidade é muito grande. Numa partida como aquela eu fico muito motivado, e na celebração aparece essa identificação e a história que eu tenho no Vasco. Cheguei a São Januário com 6 anos de idade, conheço do roupeiro ao presidente.
Numa decisão como a deste domingo, contra o Botafogo, é possível minimizar a parte torcedor e, assim, por algum momento esquecer o que uma vitória vai significar para todos os vascaínos?
Tenho a perfeita noção do que significado de um título para os torcedor, principalmente quando o clube fica muito tempo sem ganhar. Conquistei títulos importantes pelo Vasco, como a Libertadores e o Brasileiro, e não vi uma manifestação tão grande como a do título da Copa do Brasil. Mas hoje a torcida do Vasco sabe que está bem representada dentro de campo. Independentemente de sairmos vencedores ou não, todos sabem que demos o máximo naquela partida.
Sua família é formada quase que totalmente por vascaínos. Como é a reação quando o Vasco vence um clássico contra o Flamengo ou conquista um título?
Antes de tudo, minha família é Felipe Futebol Clube. Mas como são quase todos vascaínos, é sempre uma emoção grande. Dentro de campo sou uma pessoa, porque sei exatamente o que estou fazendo. Mas fora de campo sou mais um torcedor. No último jogo contra o Flamengo, fiquei muito nervoso e apreensivo depois que fui substituído, pois não tenho como ajudar. Então fica aquela torcida para o jogo acabar logo e comemorar a vitória. Meus irmãos, principalmente, são muito vascaínos. Eles estão proibidos de ir aos jogos. Costumam ficar com meu pai, que também é vascaíno e operou o coração há algum tempo. Como são muito torcedores, é melhor ficarem todos em casa (risos).
Você costuma dizer que se não tivesse voltado ao Vasco, seus dois filhos possivelmente teriam virado flamenguistas. Como foi sua atuação para mantê-los fiéis ao seu clube?
A família da minha esposa é de flamenguistas. Quando eu estava no Qatar, meus cunhados tinham muito contato com meus filhos, principalmente o mais velho, e estavam fazendo a cabeça do menino. Do outro lado, meus irmãos tentavam mantê-los vascaínos. Eu fiquei fora dessa briga, porque acho que não devo influenciar. Mas depois que voltei ao Vasco, meus filhos passaram a ir aos treinos comigo e se identificaram. Espero que eles fiquem de vez.