O Flamengo é bicampeão da Copa do Brasil. Mais que isso, com uma nova vitória sobre o Vasco, 1 a 0, o time rubro-negro ainda conseguiu quebrar um longo jejum em torneios nacionais, garantiu presença mais uma vez na Copa Libertadores e ainda ampliou para cinco os triunfos sobre o rival vascaíno em decisões.
Como já havia vencido o primeiro jogo por 2 a 0, o Fla entrou mais tranqüilo no Maracanã e soube explorar o nervosismo do Vasco, que perdeu o centroavante Valdir Papel expulso logo aos 16min do primeiro tempo. Consciente, o time dirigido por Ney Franco tocou bem a bola, marcou seu gol - com Juan - e voltou a ser campeão nacional depois de 14 anos.
O último título havia sido o Brasileiro de 1992. De lá para cá, foram três finais de Copa do Brasil - 1997, 2003 e 2004 - e três vices-campeonato. O clube ainda conquistou a Copa dos Campeões de 2001, torneio que o credenciou a Libertadores de 2002, mas a competição, que não existe mais, era curta e sem tradição no país.
Agora, o título de certa forma apaga os recentes fracassos, até porque foi conquistado em cima do Vasco, um de seus maiores rivais. Além disso, sacramentou ainda mais a fama de \"freguês\" do rival em decisões, já que nos últimos oito anos o Fla sagrou-se campeão em cima do time de São Januário em cinco oportunidades.
Para chegar a esse título, a vontade superou a técnica no Flamengo. Sem nenhuma grande estrela, o time dirigido por Ney Franco demonstrou solidariedade nas partidas finais e venceu a desconfiança dos torcedores, já que não realiza boa campanha no Brasileiro.
Para isso, foi fundamental a atuação do treinador, que chegou cercado ao clube pouco antes da Copa do Mundo, depois da polêmica demissão de Waldemar Lemos, que classificou o time para a final da Copa do Brasil e era muito querido pelos jogadores e pela torcida.
Entretanto, Ney Franco mostrou muita competência ao armar o time no esquema 3-6-1 nessas finais, escalando três zagueiros e apenas Luizão na frente. O time foi amplamente superior nos dois jogos, dominou o meio-campo e conseguiu conquistar seu segundo troféu do torneio - o primeiro foi levantado em 1990.
Já o Vasco segue sem conseguir vencer uma Copa do Brasil. Essa foi a primeira decisão do clube, que tentava um alento após temporadas insossas desde o título do Campeonato Brasileiro de 2000.
Contudo, a equipe, também limitada tecnicamente, esbarrou na maior determinação do Flamengo na primeira partida e não demonstrou poder para conseguir um triunfo por ao menos dois gols de diferença, que levariam a final para a disputa de pênaltis.
Agora, resta saber como ficará o clima em São Januário, que já viveu uma semana confusa, com torcedores protestando e sendo agredidos pelos seguranças do clube. Um bom termômetro será a partida deste domingo, contra o Cruzeiro, no Rio de Janeiro, pelo Brasileiro.
Por sua vez, o Flamengo, que beira a zona do rebaixamento do certame nacional, ganha estímulo para deixar a parte de trás da tabela e tem a chance de começar uma guinada também no domingo, no duelo rubro-negro contra o Atlético-PR, em Curitiba.
O jogo
Foi um primeiro tempo entre um time extremamente nervoso - Vasco - e um tranqüilo, o Flamengo. Prova disso foi a atitude do atacante vascaíno Valdir Papel. Aos 3min, o jogador recebeu cartão amarelo. Depois, aos 17min, deu um carrinho desnecessário em Leonardo Moura e foi expulso de campo.
O fato irritou muito o técnico Renato Gaúcho, que empurrou o atacante e o xingou muito na saída de campo: \"Sai daqui, vai embora p.\". Descontrolado, o treinador não deve ter visto Morais quase marcar em belo chute de primeira da entrada da área, que Diego espalmou aos 18min.
Imediatamente, Ney Franco mexeu na equipe do Flamengo e a tornou mais ofensiva, tirando Toró - que já tinha cartão amarelo - e colocando o atacante Obina. Em seu primeiro lance, aos 24min, Obina
invadiu a área e chutou cruzado, mas Fábio Braz se esticou e evitou o gol.
Contudo, o Fla abriu o placar logo depois. Aos 28min, após rebatida da defesa do Vasco em chute de Leonardo Moura, a bola sobrou para Juan na meia-lua. O chute saiu forte, rasteiro, no canto esquerdo de Cássio.
\"Fazer gol é sempre importante, ainda mais em uma final contra o Vasco da Gama. Não dá nem pra explicar a sensação\", vibrou Juan.
Desesperado na beira do gramado, Renato Gaúcho mexeu no Vasco e tirou Ramon, colocando o atacante Valdiram, que fora barrado durante a semana para a entrada de Valdir Papel.
Mas a mudança não surtiu efeito. Dentro de campo, o Vasco era o retrato do seu treinador fora dele e errou passes em demasia. Dono do jogo, o Flamengo trocou passes e desde os 35min passou a ouvir os gritos de \"olé\" de sua torcida, em êxtase no Maracanã.
\"Temos que continuar jogando e tentando, é o jeito. Mas é difícil, ainda mais com um homem a menos\", lamentou Edílson, na saída de campo para o intervalo. \"Com um a mais em campo temos de ter inteligência e ficar com a bola nos pés, para sair daqui com esse título\", disse o volante Jônatas, do Flamengo.
Antes de a bola rolar para o segundo tempo, Luizão, no centro do gramado, pediu o canto da torcida rubro-negra. Nem precisava. Empolgados com a proximidade do título, os torcedores não pararam de cantar, enquanto à direita das cabines de tv e rádio os vascaínos estavam quietos, mas na esperança de um \"milagre\".
Renato Gaúcho tentou todas as cartadas que podia e antes dos 12min tirou Andrade e Morais para as entradas de Abedi e Ernane. O Vasco lutou, mas foi pouco para superar o bem armado Flamengo e que quase ampliou aos 15min, quando Jônatas driblou Ygor e Jorge Luiz e parou nas mãos de Cássio, que evitou um golaço.
Atraindo o Vasco para seu campo, o Flamengo conseguiu bons contra-ataques e, aos 21min, Luizão recebeu sozinho na entrada da área, mas o chute bateu na trave direita do Vasco.
Aos 31min, foi a vez do uruguaio Peralta entrar em campo no lugar de Renato Augusto no Flamengo. A essa altura, o jogo era mera \"formalidade\", com Flamengo segurando o resultado e o Vasco sem forças para tentar reagir.
Melhor para a torcida rubro-negra, que pouco se importou com a lentidão da partida. Aos gritos de \"vice de novo\", provocou o Vasco, o presidente vascaíno Eurico Miranda e deixou o estádio comemorando o sétimo título nacional do clube da Gávea - cinco Brasileiros e duas Copas do Brasil.
VASCO 0 x 1 FLAMENGO
Vasco
Cássio; Wagner Diniz, Jorge Luiz, Fábio Braz e Diego; Ygor, Andrade (Abedi), Ramon (Valdiram) e Morais (Ernane); Valdir Papel e Edílson
Técnico: Renato Gaúcho
Flamengo
Diego; Renato Silva, Fernando e Rodrigo Arroz; Leonardo Moura, Jônatas, Toró (Obina), Renato, Renato Augusto (Peralta) e Juan; Luizão (Léo)
Técnico: Ney Franco
Local: estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)
Árbitro: Carlos Eugênio Simon (Fifa-RS)
Auxiliares: Aristeu Leonardo Tavares (Fifa-RJ) e Ednilson Corona (Fifa-SP)
Cartões amarelos: Valdir Papel (V), Wagner Diniz (V), Morais (V), Abedi (V), Toró (F), Luizão (F), Renato Augusto (F), Fernando (F)
Cartão vermelho: Valdir Papel (V)
Gols: Juan, aos 28min do primeiro tempo
Público pagante: 45.459
Renda: R$1.291.695