A vaia e os xingamentos recebidos durante e depois do jogo contra o Lanús-ARG, nesta quarta-feira, deixaram o técnico Cristóvão Borges em situação delicada perante a torcida. O técnico foi \"escoltado\" pelos jogadores até o vestiário e, na entrevista coletiva, decidiu não polemizar. Nos dias que se seguiram ao jogo, o treinador foi amplamente defendido pelos seus atletas. Diego Souza, Alecsandro e até Felipe, que saiu do duelo chateado com sua substituição, saíram em defesa do comandante.
O clima no vestiário após a vitória sobre a equipe argentina foi tenso, principalmente por conta das vaias a Cristóvão. Os jogadores, mesmo discordando de algumas escalações e substituições, têm em sua maioria um carinho pelo treinador. Felipe, que talvez tenha sido o que ficou mais irritado nesta quarta, tem grande apreço pelo técnico, demonstrado em pequenas situações, como na semifinal da Taça Rio quando, assim que o jogo acabou, em vez de ir comemorar com os outros atletas diante da torcida foi direto ao comandante para lhe dar um abraço.
O perfil tranquilo e conciliador de Cristóvão conta a seu favor. Os jogadores gostam da abertura que o técnico dá para as conversas. A inexperiência como treinador pesa contra, mas é contrabalançada com os bons resultados que a equipe tem obtido desde o ano passado. Nesta temporada, mesmo eliminado do Carioca, conseguiu chegar à final dos dois turnos e classificou o time para as oitavas de final da Libertadores com certa tranquilidade. Antes considerado um \"tampão\" até a recuperação de Ricardo Gomes, que sofreu um AVC, hoje o técnico já é visto com outros olhos.
- Espero que o Ricardo Gomes volte a trabalhar e fazer o que ele gosta. Todos nós gostamos muito dele e torcemos para que fique bem. Mas hoje o nosso treinador é o Cristóvão. Ele vem exercendo bem a função - respondeu Felipe, ao ser questionado se o grupo aguardava a volta de Ricardo Gomes.
Entre a diretoria, o técnico segue com boa reputação. Porém, o discurso dos dirigentes é um pouco mais comedido ao falar sobre ele. Segundo o vice-presidente de futebol, José Hamilton Mandarino, o trabalho do treinador não é questionado e o clube segue confiando nele. Porém, deixa claro que isso pode se alterar.
- Alguém falou um dia que o futuro a Deus pertence. Não passa pela nossa cabeça ficar especulando sobre demissão. Sabemos que São Januário é um local com grau de exigência alto da torcida. As manifestações de aborrecimento do torcedor são comuns. Geralmente, o técnico atrai mais a ira. Não está na nossa pauta essa questão do Cristóvão. Independentemente da profissão, os profissionais são valorizados pelos resultados. São coisas normais. Longe disso aí resultar em uma preocupação ou uma prioridade - garante.
Segundo o diretor de futebol Daniel Freitas, Cristóvão não tem com o que se preocupar a não ser com o seu time em campo.
- Temos total tranquilidade. O Cristóvão tem um excelente desempenho nos últimos meses, iniciado pelo Ricardo Gomes. Tanto que o Vasco subiu no ranking da IFFHS (é o melhor brasileiro, em décimo lugar). A diretoria está muito tranquila em relação ao trabalho dele. Temos um grupo experiente e jogadores tarimbados - disse Daniel Freitas em entrevista à Rádio Brasil.
Cristóvão comanda a equipe na próxima quarta-feira, contra o Lanús, no jogo de volta das oitavas de final. Caso se classifique, o treinador pode ganhar um voto de confiança da torcida, mas a eliminação significará uma pressão enorme sobre seus ombros. Com a vitória, por 2 a 1, conquistada em casa, o Gigante da Colina joga por um empate em Buenos Aires para se classificar. Caso o time argentino vença por 1 a 0 ou por dois gols de diferença, segue na competição. Vitória do Lanús por um gol, mas com o Vasco marcando dois ou mais gols (3 a 2, por exemplo) dá a vaga ao time carioca.