A torcida do Flamengo fechou questão com relação à demissão do técnico Rogério Ceni, por considerá-lo incompetente para dirigir o time.
A do Fluminense quer a saída de Roger Machado creditando a ele as oscilações no Brasileiro.
A do Vasco prevê a permanência do clube na Série B por culpa da limitação de Marcelo Cabo.
E a do Botafogo responsabiliza Marcelo Chamusca pelos 15 pontos perdidos nas nove primeiras rodadas do campeonato.
Explica-se.
Com quase um terço do Brasileiro disputado nas Séries A e B, os treinadores têm menos do que 50% do aproveitamento dos pontos.
Rogério Ceni fez 42,8% no Flamengo;
Marcelo Chamusca, 44,4% no Botafogo;
Roger Machado está com 46,6% no Fluminense;
E Marcelo Cabo "lidera" com 48,1% no Vasco.
Desempenho decepcionante, preocupante, mas que, por si só, ainda não justifica a interrupção dos trabalhos.
O que está acontecendo no futebol brasileiro?
Os torcedores ficaram mais exigentes e "empoderados" com amplificação dos sentimentos pelas redes sociais?
Ou os técnicos perderam o fascínio que exerciam por suas competência e liderança, e tiveram o prazo de validade reduzido?
Pode ser até as duas coisas juntas.
Inegável é o fato de terem ficado mais vulneráveis com a transmissão em larga escala dos jogos de futebol.
A ampliação dos conhecimentos táticos por multiplataformas vende a falsa impressão de que dirigir um time é simples como nos video games.
E não é assim.
Hoje, num calendário lotado de competições, joga-se mais do que se treina - mas ninguém quer saber disso.
Tampouco lembram que os clubes emendaram uma temporada na outra.
Assim, pior do que o julgamento crítico é a sentença sumária.
É evidente que há trabalhos ineficientes, porém nem sempre o mau rendimento do time é fruto da incapacidade do treinador.
Há tantas variáveis a serem levadas em consideração, que nem sempre a troca do comando é a solução.
Aliás, pesquisa divulgada pela Universidade de Colônia no ano passado mostrou exatamente o contrário.
Na maioria das vezes, a mudança durante a temporada atrasa o desenvolvimento e compromete o atingimento das metas.
Só que, geralmente, os casos que fogem à regra ganham mais destaque.
E aí ficamos todos com a impressão de que a demissão do técnico é o único remédio.
As campanhas vitoriosas são atribuídas ao chamado "choque de gestão" e o sentimento é o de que o time não andaria se o técnico fosse mantida.
O que não é uma verdade absoluta: há outras intervenções possíveis.
Os dirigentes precisam então analisar caso a caso e tentar primeiramente intervir sem a troca no comando.
Caso contrário, pagarão caro - e não apenas em papel moeda.