Eles vestiram grandes camisas do futebol brasileiro, enfrentaram estádios lotados e estiveram presentes em partidas importantes. Com muitas histórias e caminhos percorridos, os andarilhos do Carioca se arriscam na Segunda e na Terceira Divisão do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro. Nesta reportagem, Marco Brito e Roberto Brum relembram momentos de glórias e falam dos novos desafios.
Atacante estava jogando showbol pelo Fluminense | Foto: Divulgação
Crias de Xerém: Marco Brito e Roberto Brum sonham com o acesso do São Gonçalo Esporte Clube
O ano de 1999 tem uma representação simbólica na vida de Marco Brito e Roberto Brum. Na ocasião, recém-alçados na equipe profissional do Fluminense, os jogadores tinham a missão de resgatar o clube que estava estagnado na Série C do Campeonato Brasileiro. A vitória sobre o Náutico, no Estádio dos Aflitos, por 2 a 1, no dia 23 de dezembro daquele ano, é um dos capítulos na carreira que jamais serão arrancados da memória da dupla. A consagração do título. Objetivo cumprido.
Passados quase 13 anos, a missão bateu novamente à porta. O clube, a história e a competição não são iguais. Longe disso. Mas ainda assim pode-se associar. Estão no elenco do São Gonçalo Esporte Clube, que disputa a Série C do Campeonato Carioca. Sonham em rumar com a equipe para primeira divisão. O objetivo ainda está em andamento.
Tenho condições de jogar em bom nível
Marco Brito
\"Já tinha decidido parar. Tive várias lesões que me prejudicaram. Ainda assim, recebo convites até hoje. Mas querem que esteja pronto para jogar em três dias. Agora foi diferente. Tive esse tempo para me preparar bem. Estou me cuidando e fazendo trabalhos específicos para evitar as lesões. Tenho condições de jogar em bom nível. Acreditei também porque sei que é um projeto sério\", conta Marco Brito. Nos últimos meses, o atacante de 34 anos estava atuando no showbol do Fluminense.
A decisão de disputar a competição passa muito pela paixão pelo futebol. Mesmo distante dos holofotes, os jogadores ainda se mostram motivados. Nem mesmo os campos maltratados são motivos de desânimo. Querem vencer. Roberto Brum revela que foi tocado pelo apoio do grupo. Quando se deu conta já estava compondo o elenco.
\"É um time que mesmo antes de ser contratado já acompanhava. Tenho amizade com todo mundo. Antes de assinar, sempre me ligavam e pediam algum toque. Aí fui à estreia do time e vi que não podia ficar fora do projeto. Pensei que seria uma covardia não jogar. Senti que todos queriam minha presença. Tenho uma ligação afetiva com a minha cidade\", disse o volante, que realizou sua estreia pela equipe no último fim de semana.
Amizade em Xerém
O Fluminense é um capítulo à parte na carreira da dupla. A amizade dos jogadores começou justamente nas dependências do clube em Duque de Caxias. Faz tempo. Mas de lá para cá, o laço entre os jogadores só se solidificou. No mundo do futebol, raras são as vezes que as amizades se prologam. No caso deles, se estabeleceu uma exceção. Já são até familiares.
Brito é o jogador mais inteligente com quem atuei
Roberto Brum
\"Conheço o Brum há 20 anos. Ele é o meu padrinho de casamento. Tenho um carinho enorme por ele. É um grande amigo. Me lembro quando começamos no Fluminense. É uma lembrança ótima. Depois jogamos juntos no Coritiba. Voltar a jogar com ele é uma coisa fantástica. Espero terminar minha carreira jogando ao lado dele\", afirma Brito.
Roberto Brum, por sua vez, também reserva palavras elogiosas ao amigo. Dentro de campo não conheceu ninguém mais inteligente que Marco Brito.
\"É o jogador mais inteligente com quem atuei. Acima da média. Muito técnico e com ótima capacidade de finalização. Além disso, é um dos grandes amigos que ganhei na minha carreira no futebol\", elogia.
Aventuras no Chipre
Se em solo nacional os jogadores colecionaram títulos e passagens por diversos clubes, na Europa nem sempre as experiências foram positivas. No Chipe, atuaram por clubes diferentes, mas constataram um mesmo problema: o atraso nos pagamentos.
Marco Brito, defendeu o Apoel, em 2004. Já Roberto Brum permaneceu no Alki Larnaca até este ano. O mês lá, segundo eles, como em alguns clubes do Brasil, possui mais de 30 dias.
\"Tive uma experiência maravilhosa no país. Gostei do lugar. Fui bem dentro de campo e até ganhei título. O único problema é que não recebia. Mas foi um lugar que me agradou muito, tirando essa situação chata\", declara o atacante, que ainda teve passagem pelo Japão, no Yokohama Flugels.
Roberto Brum também não se queixa do país. Revela que o futebol tem crescido de forma gradativa nos últimos anos. Lamenta apenas que os dirigentes que não cumpriram com o que estava acordado.
\"Gostei de atuar no Chipre. Está evoluindo muito em relação ao futebol. Temos o exemplo do Apoel fazendo uma ótima campanha na Liga dos Campeões. Mas tem a questão em relação aos salários atrasados. Tenho família e preciso sustentá-la. Chegou um momento que ficou muito difícil e tive que buscar a rescisão\", diz o volante, que atuou também em Portugal por Académica e Braga.
Carinho pelos clubes
Ao longo da carreira foram diversas camisas e torcidas. O Fluminense tem lugar consolidado no coração da dupla, mas ainda assim há espaço para outras equipes. Aos 33 anos, Roberto Brum cita três clubes importantes na sua trajetória no futebol. Diz que não tem como se desligar do passado destes times.
\"Eu seria injusto se citasse apenas um. É claro que o carinho pelo Fluminense é enorme. Foi o clube que me projetou. Mas também tive uma passagem marcante no Coritiba. Fui capitão e colecionei muitas coisas positivas no clube. E recentemente no Santos. Tenho uma identificação muito grande com o time. Ganhei a Copa do Brasil que é um título que o Santos não tinha. É inesquecível. E também por ser o clube do Pelé, é uma coisa diferente\", explica.
Marco Brito que jogou no Vasco em 2005 também carrega lembranças especiais. Afirma que foi bem recebido na Colina Histórica.
\"Fui muito bem tratado no Vasco. Lembro que tinha contato com os funcionários do clube. O clima era muito legal. Foi uma experiência muito boa. Também foi um clube onde tive boas atuações. Até hoje os torcedores demonstram carinho comigo\", recorda.
Bebeto + Romário = Ganso e Neymar
Na passagem pelo Santos, Roberto Brum pôde acompanhar de perto os primeiros passos de Paulo Henrique Ganso e Neymar. O volante lembra os primeiros treinos dos meninos no CT Rei Pelé com os profissionais. De cara, percebeu que ali não havia dois jogadores comuns. Notou qualidades raras naqueles que se consolidariam em solo nacional meses depois.
\"Eles são maravilhosos. Garotos humildes e com muito talento. Lembro que no primeiro treino do Ganso, eu fiquei responsável pela sua marcação. Na época, ninguém dava nada pelo jogador. Estava começando. Quando acabou o treino eu falei para o treinador: \"Esse garoto é acima da média\"\", disse.
Com Neymar o parecer foi semelhante. Aos 16 anos, a joia santista rumou aos profissionais, e Brum àquela altura percebeu que o garoto já podia realizar coisas geniais.
\"Ele era bem novinho. Tinha 16 anos. Mas já dava um enorme trabalho. Era bem magrinho, ficávamos até com medo de chegar nele. Mas ali a gente já percebia que ele conseguia fazer coisas fantásticas com muita facilidade\", conta Brum, que acredita que os jogadores do Santos podem decidir a Copa do Mundo de 2014.
\"Pelo talento que eles têm, eu não tenho dúvida. Na Copa do Mundo aqui no Brasil, eles têm tudo para repetir o que Romário e Bebeto fizeram na conquista do tetracampeonato de 1994\", garante.