Uma câmera acompanha de pertinho Eurico Miranda. O presidente vascaíno ergue o braço direito e rege os torcedores na arquibancada, girando os dedos no alto. Em seguida, ele cumprimenta um a um cada atleta, integrante da comissão técnica e profissional do clube. O ritual, que leva quase dois minutos e inclui um aperto de mão e dois tapas na altura do peito, é seguido pelas lentes até o grito de "Casaca" no meio da roda na comemoração do título carioca.
As cenas são um pequeno exemplo da exibição da imagem do presidente em meios oficiais do clube. Seu slogan de campanha - do resgate do respeito - entrou na boca de torcedores, virou faixa e foi parar em produtos oficiais para vascaínos. No início de administração, impulsionados pelos ecos da política e os resultados no campo, os departamentos de comunicação e marketing refletem a imagem e as tiradas de Eurico, em alta após a conquista estadual e em processo de reestruturação do clube.
- Não foi nada premeditado - diz o gerente de marketing do Vasco, Bernardo Pontes, que consultou o presidente antes de autorizar a "nova linha" de camisas.
As primeiras camisas com a frase "o respeito voltou" surgiram espontaneamente, depois de pedidos de torcedores, no fim do Carioca. A blusa toda branca, que foi lançada no fim da gestão Dinamite, não tem patrocínios e nem é usada para jogos. Ainda há opções, porém, de comprar a camisa toda limpa. Ou seja, sem a frase do "respeito".
- Temos a máquina que personaliza as camisas na loja. Então estávamos vendo que era comum o torcedor pedir para colocar a frase ("o respeito voltou"). Na primeira vez até o gerente me ligou e perguntou se podia. A branca, que não estava vendendo mais nada, virou um sucesso - afirma Felipe Vidal, diretor comercial da loja de São Januário.
"O respeito voltou" já estava na camisa preta comemorativa do título - e em faixas levadas por funcionários do clube, que caminharam atrás de Eurico, além de um mosaico montado na arquibancada por uma torcida organizada. Na loja há também destaque para o livro "Todos contra ele", escrito pelo vice-presidente do Conselho Deliberativo do Vasco, o historiador Sérgio Frias. O livro passou a ser vendido na loja oficial depois da mudança de administração - vale ressaltar, porém, que a obra já estava no acervo do Centro de Memória vascaíno. Vidal, que vende livros ligados a Flamengo e Botafogo em outras lojas, diz que as vendas do livro sobre Eurico não se comparam às edições de outros clubes.
- Se tivesse um livro do Bandeira (presidente do Flamengo) não ia vender tanto. Eurico é um pouco "ame ou odeio". Tem essa coisa da relação dele com o Vasco. Ele tem pegada comercial - diz o diretor comercial da loja de São Januário.
Além dos vídeos comemorativos - nos bastidores da foto oficial e na cerimônia na Ferj - e no canal oficial do clube no Youtube - que foi reinaugurado com Eurico fechando o programa com sua frase-slogan -, a onipresente imagem do presidente também aparece no Instagram oficial do Vasco. Recentemente, a conta do clube exaltou "os mais de seis títulos conquistados nos primeiros seis meses da gestão do presidente Eurico Miranda".
- Ele não gosta de aparecer. Ele se tornou símbolo naturalmente porque no perfil dele tem essa defesa firme pelo Vasco - explica Pontes, lembrando que no dia da final havia uma câmera para o presidente, outra para os jogadores e outra para torcida.
- Ele tem apelo muito grande e nosso objetivo é atender às necessidades do torcedor. A camisa surgiu assim. Criamos um produto diferente do original para atender a demanda identificada e consequentemente impulsionar as vendas. Explorar comercialmente a imagem do Eurico não é algo que está em nosso planejamento. O torcedor gosta muito disso, se identifica e vira um mote comercial. Assim foi o "Respeito Voltou, ponto".