Desligado do comando do Vasco, no último domingo (24), após ficar apenas 42 dias no cargo, Maurício Souza avaliou positivamente a passagem por São Januário, a primeira experiência no comando de um elenco profissional. O técnico explicou as mudanças que buscou implementar, admitiu que os resultados não foram os esperados neste primeiro momento e afirmou que não há mágoas, mas acredita que a equipe conseguiria engrenar caso houvesse mais tempo de trabalho.
Nos últimos dias, Mauricinho, como também é conhecido, tem aproveitado o tempo para curtir a família e espera uma nova oportunidade em breve.
Mauricio Souza foi contratado em meados de junho, após Zé Ricardo aceitar proposta do Shimizu S-Pulse, do Japão. A demissão aconteceu depois da derrota para o lanterna da Série B, o Vila Nova, fora de casa. Ao todo, foram oito jogos, com três vitórias, três derrotas e dois empates.
"Avalio como positiva [a passagem], estava tentando fazer aquilo para o que fui contratado. Claro, o Vasco tem uma responsabilidade muito grande de subir, mas a gente precisava melhorar o nosso jogo, qualificar um pouco mais, e a gente não imaginava que, tentando qualificar, a gente teria alguns reveses como tivemos. Sei que números não valem muito, mas, em números, melhoramos muitos pontos. Mas as coisas não estavam acontecendo. A bola começou a entrar no nosso gol com o adversário chegando menos que em outras vezes, mas eu acho que foi positiva, porque tentei fazer aquilo que tinha de ser feito", disse, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
"Procuramos trazer um jogo de posse, de propor, muito mais que um jogo reativo, mas isso acabou nos deixando mais exposto em alguns momentos. Não abandonamos o que vinha sendo feito. O que vinha sendo feito, mantivemos. O que fizemos foi tentar subir um pouco mais o bloco, construir uma maneira de atacar, colocar uma pressão imediatamente após a perda, e quando isso não acontecia, trazia danos. A tentativa de jogar um pouco mais com a bola pode ter nos deixado um pouco mais expostos, e os resultados não aconteceram, apesar de os números mostrarem que os adversários não estavam chegando tanto na nossa baliza, tirando o segundo tempo do jogo contra o Criciúma", completou.
O treinador apontou que o próximo passo do trabalho era fazer com que o Cruz-Maltino fosse um time mais efetivo, transformando a posse de bola em oportunidades claras e, logicamente, gols.
"Não conseguimos transformar [a posse de bola] em possibilidades de gols também. Tínhamos muita posse, mas a situação de finalização e criação de jogada para finalizar não conseguiu evoluir", apontou.
Na visão de Mauricio Souza, o estilo de jogo que queria implementar demandaria um pouco mais de tempo para colher os melhores frutos. Ele ressalta também que não houve contratempos com os jogadores durante este período à frente do elenco.
"É um jogo que demanda um pouco de tempo, principalmente durante a competição. O jogo que encontrei foi um jogo que trazia confiança à equipe, então, por isso, não quisemos mexer de imediato, fomos mudando de forma gradativa. Colocamos as ideias de forma homeopática. Não houve nenhum tipo de ruído [com o elenco]. Tudo que eu fazia, eu tentava trazer um feedback da equipe, e eram positivos. Foi uma ação construtivista. Dividíamos tudo com eles, até porque sabíamos do momento delicado do Vasco, de muita pressão", comentou.
"Tivemos muito cuidado na implementação de algumas situações. Mas, para mim, ficou claro como o Vasco deixou de ser um time que se defendia muito mais e passou a ser um time que buscava, a partir de uma construção, chegar ao gol adversário. Nos momentos difíceis, nos prendemos àquilo que dava segurança. A progressão do trabalho era essa, conseguir transformar essa posse em um pouco mais de situação de gol, de qualidade no terço final. E, claro, o tempo ia dizer se a gente teria de fazer mudança na equipe, se essa equipe era a equipe ideal para esse tipo de jogo ou não, se deveria qualificar ou não a equipe. Sem dúvida, faltou tempo", lamentou.
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Você falou em qualificar o elenco. Isso aconteceria nesta janela?
"Ou até mesmo dentro do próprio elenco. Sabíamos que precisava qualificar, mas tinha o imbróglio da 777 [empresa que pretende comprar 70% das ações da futura SAF do Vasco], atletas que estávamos vendo... Eles iriam passar a tomar conta das contratações. Só que isso tinha de ser para ontem. Não tinha muito tempo. E, agora, espero que eles consigam fazer."
Como era o dia a dia com o elenco?
"É um elenco bom de trabalho, jogadores gostam de treinar, o tempo todo estavam muito atentos ao que eu passava. Acho que o grupo aceitou muito bem tudo que eu coloquei. Quando as coisas não dão certo, as pessoas vislumbram um racha, uma não aceitação de uma ideia, mas não foi isso. Durante todos os jogos que dirigi, nunca vi faltar luta, faltar briga na equipe. É uma equipe que sempre lutou e tentou buscar o resultado o tempo todo, mas passou por dificuldades durante alguns jogos."
E com a diretoria?
"A diretoria que estava no meu convívio foi a que brigou para que eu fosse, que teve muita coragem de me bancar neste momento. A gente sabe que eu cheguei com uma rejeição muito grande, e sabia que isso só ia mudar com os resultados acontecendo. A partir do momento que os resultados não aconteceram, a pressão foi aumentando. Eu, sinceramente, sou grato à diretoria do Vasco pelo que fez por mim. Principalmente àquela que conviveu comigo o tempo todo, o presidente [Jorge Salgado], o [Carlos] Brazil [diretor de futebol], o Eduardo Húngaro [coordenador técnico], as pessoas que estavam mais próximas."
Acredita que a rejeição inicial da torcida pesou em sua passagem?
"Sem dúvida que pesou. Sem dúvida que a pressão... Treinador que chegou com a rejeição que cheguei e os resultados não foram acontecendo. Chegamos exatamente como saímos, na terceira colocação, seis pontos, se não me engano, do quinto. Não sei se foi exatamente isso. Não fica nenhum tipo de mágoa, fica um tipo de tristeza porque tenho certeza que a gente ia conseguir engrenar, que os próximos passos iam trazer ainda mais confiança à equipe no estilo de jogo que estava sendo proposto. Claro que isso passa por qualificar também, não só a parte técnica, mas as ações, o entendimento de todos os setores. Mas não saio com mágoa alguma. Não tenho mágoa das pessoas que me levaram e que acharam que, neste momento, era o de tomar a decisão. Eu fico triste porque eu tenho certeza que eu conseguiria avançar, nossa equipe ia entrar no trilho, e a gente ia conseguir reencontrar o caminho das vitórias. Tinha dois jogos para fazer dentro de casa, mas, infelizmente, acharam por bem romper o trabalho e eu só tenho de aceitar."
E quais os planos para o futuro?
"[Nos últimos dias] Tenho curtido minha família, já que, quando estamos trabalhando, não há muito tempo para isso. Espero, em um período curto, poder voltar a trabalhar. A gente sabe que é um mercado extremamente difícil, mercado apertado, vários nomes de bons treinadores também esperando. Mas estou muito confiante, me preparei muito para esse momento e, agora, é esperar as conversas, ver o que tem de concreto, o que é só sondagem. Já aconteceram algumas, mas a gente tem de ver o que é concreto."